07 Junho 2023
"Os principais resultados da engenharia genética na agricultura foram: a expansão das monoculturas na América do Norte e do Sul, o aumento do uso de venenos químicos e o aumento dos lucros para o punhado de grandes empresas que dominam a produção de substâncias químicas e sementes transgênicas. O impacto dos cultivos transgênicos e dos agrotóxicos juntos na saúde humana é objeto de muitos debates, mas este artigo enfoca sua contribuição na criação em massa de monoculturas que destroem a vida". A reflexão é de Ian Angus, em artigo publicado por Viento Sur, 01-06-2023. A tradução é do Cepat.
“As plantas são, evidentemente, a base de quase todas as cadeias tróficas, e quando desenvolvemos métodos agrícolas que praticamente erradicam todas as ervas daninhas das terras de cultivo, de modo que muitas vezes lidamos com monoculturas puras, convertemos grande parte dos nossos campos em lugares inóspitos para maioria das formas de vida” – Dave Goulson [1].
Durante décadas, os defensores dos alimentos geneticamente modificados (GM) prometeram culturas milagrosas que salvariam vidas e alimentariam o mundo. Cereais que florescem durante uma seca. Melhoria na nutrição, incluindo um arroz que contém vitaminas que beneficiam a visão. Maçãs que não apodrecem. Redução das emissões de CO2. Mais alimentos em menos terra.
De acordo com o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia Agrícola (ISAAA), favorável à biotecnologia, os benefícios da modificação genética são tão grandes que a área dedicada às culturas GM cresceu de zero em 1996 para 190,4 milhões de hectares (470,5 milhões de acres) em 2019, “a tecnologia agrícola de adoção mais rápida” de todos os tempos [2].
No entanto, se olharmos as próprias estatísticas do ISAAA, veremos que 85% da área dedicada aos cultivos transgênicos está em apenas quatro países – Estados Unidos, Brasil, Argentina e Canadá – e que cerca de 99% de todas as modificações genéticas de cultivos comerciais entram em apenas duas categorias – tolerância a herbicidas e resistência a insetos. Eles não têm nada a ver com a melhoria da qualidade dos alimentos. Além disso, a soja e o milho, que respondem por mais de 90% dos cultivos transgênicos, são usados principalmente para ração e biocombustíveis, não para alimentar pessoas com fome.
Os principais resultados da engenharia genética na agricultura foram: a expansão das monoculturas na América do Norte e do Sul, o aumento do uso de venenos químicos e o aumento dos lucros para o punhado de grandes empresas que dominam a produção de substâncias químicas e sementes transgênicas. O impacto dos cultivos transgênicos e dos agrotóxicos juntos na saúde humana é objeto de muitos debates, mas este artigo enfoca sua contribuição na criação em massa de monoculturas que destroem a vida.
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Como vimos, duas características da agricultura industrial alimentaram o apocalipse dos insetos: o uso massivo de venenos e a destruição de habitats. Bilhões de hexápodes morrem todos os anos devido a venenos químicos que deveriam, supostamente, proteger as plantações. E as monoculturas em grande escala – fazendas que cultivam apenas uma espécie – privam-nos de alimentos e lugares de reprodução. Ambos são aspectos da chamada revolução verde, um aumento da produção baseado em métodos agrícolas que danificaram o meio ambiente e diminuíram a biodiversidade.
Uma segunda fase ainda mais destrutiva da agricultura industrial começou na década de 1990, uma fase que poderíamos chamar de revolução genética. As sementes transgênicas mudaram o tabuleiro do jogo, expandindo rapidamente a área dedicada a cultivos hostis aos insetos. A transição foi iniciada em 1996 pela empresa química Monsanto, sediada em Saint Louis (EUA), cujo produto mais importante foi o Roundup, usado para matar ervas daninhas.
Ervas daninhas não é uma categoria científica. São plantas indesejadas que crescem onde não deveriam, competindo com espécies mais desejáveis por espaço, nutrientes, água e luz solar. Tradicionalmente, os agricultores limitavam o crescimento destas ervas daninhas usando culturas de cobertura, cobertura morta e rotação frequente de culturas, mas também tinham que removê-las fisicamente para evitar que contaminassem a cultura. Durante milênios, a capina das plantas daninhas foi uma parte necessária e demorada da agricultura, e ainda é em grande parte do mundo.
No início do século XX, alguns agricultores da Europa e da América do Norte usaram ácido sulfúrico e compostos de arsênico para matar plantas daninhas, mas as aplicações químicas só se difundiram a partir do final da década de 1940, quando o produto herbicida 2,4-D, desenvolvido pelos militares dos EUA como arma biológica, tornou-se disponível para todos [3]. Logo se juntaram a outros herbicidas sintéticos, incluindo o 2,4,5-T, o dicamba e o triclopir, armas-chave naquilo que Rachel Carson chamou de “bombardeio químico contra o tecido da vida” [4]. Eles foram amplamente adotados, como escreve Jennifer Clapp, porque facilitavam os trabalhos do cultivo.
“Esses produtos químicos permitiram a eliminação de plantas indesejadas em grandes áreas e se popularizaram porque economizavam horas de trabalho. Com o aumento do tamanho das fazendas, paralelamente à crescente mecanização da agricultura, em meados do século XX, o uso de herbicidas expandiu-se enormemente e tornou-se a norma no controle de ervas daninhas” [5].
A Monsanto lançou o Roundup em 1976. Seu principal ingrediente era o glifosato, uma substância química que mata as plantas bloqueando sua capacidade de produzir proteínas essenciais. Foi usado principalmente para limpar as lavouras antes do plantio e para matar ervas daninhas indesejadas em lavouras de grama e nas margens, mas também mataria as plantações se pulverizado sobre ou perto delas.
Em 1996, a Monsanto mudou isso por meio da engenharia genética: em vez de modificar o veneno, modificou as plantas. Suas duas famílias de sementes geneticamente modificadas tiveram um sucesso espetacular.
• As sementes Roundup Ready (RR) foram modificadas para serem tolerantes ao glifosato: o Roundup pulverizado em um campo de cultivos RR mataria todas as outras plantas e deixaria o cultivo intacto. Foi comercializado primeiro para soja e canola e, posteriormente, para milho, alfafa, algodão e sorgo.
• As sementes de milho e algodão da Monsanto foram modificadas para conter genes da Bacteria thuringiensis (Bt), um organismo tóxico para algumas lagartas e besouros que se alimentam destas plantas. De fato, as plantas cultivadas com sementes modificadas que contêm Bt produzem seus próprios inseticidas.
A Monsanto passou então a comercializar sementes de milho e algodão que continham ambos os atributos genéticos. De acordo com o ISAAA, 45% das culturas transgênicas consistem atualmente em plantas repletas de genes tolerantes a herbicidas e resistentes a insetos.
As sementes patenteadas eram mais caras, mas simplificavam a produção. O glifosato agora podia ser pulverizado durante a estação de crescimento sem prejudicar as plantações, criando monoculturas puras e plantações em que nenhuma planta concorrente seria capaz de crescer. As fazendas que produziam cultivos Roundup Ready poderiam ser quase totalmente mecanizadas, reduzindo a mão de obra ao mínimo. E como a Monsanto enfatizou em sua propaganda, uma vez que o Roundup era letal para todas as plantas não transgênicas, era “o único controle de ervas daninhas de que você precisava”. Um sítio de internet da empresa chamou a combinação de glifosato e sementes resistentes ao glifosato de “sistema que lhe dá liberdade” [6].
Ao mesmo tempo, a Monsanto abocanhou o mercado de insumos agrícolas mediante a aquisição de mais de 30 empresas independentes de sementes, tornando-se em 2005 a maior vendedora mundial de sementes. O controle de produtos químicos e sementes junto com os canais de distribuição deram à empresa uma enorme vantagem na indústria de insumos agrícolas. “A empresa gabou-se aos acionistas de que esperava um aumento de 18% no volume de produtos à base de glifosato que vendia em apenas dois anos, de 1999 a 2000”. Metade de seu volume de vendas de US$ 5,5 bilhões em 2000 veio do glifosato [7].
Durante duas décadas, o glifosato foi o herbicida mais usado no mundo. Foi responsável por 1% dos herbicidas aplicados nos quatro principais cultivos dos EUA em 1982, 4% em 1995, 33% em 2005 e 40% em 2012 [8]. “Em 2020, 90% de todo o milho, algodão, soja e beterraba plantados nos EUA [eram] geneticamente modificados para tolerar um ou mais herbicidas” [9].
Este gráfico ilustra o drástico aumento nas vendas e no uso de sementes GM da Monsanto e o uso de seu herbicida nos EUA.
Uso agrícola de glifosato (acres) nos EUA, 1990-2014. (Fonte: MALKEN, Stacy. Merchants of Poison. Friends of the Earth, 2022, p. 14)
A soja e o milho são de longe os cultivos mais plantados nos Estados Unidos: juntos ocupam cerca de 190 milhões de acres (77 milhões de hectares) [10], e mais de 90% dessa área é cultivada com sementes geneticamente modificadas. Se incluirmos áreas menores dedicadas ao algodão, beterraba, alfafa e canola geneticamente modificados, além de mais de 12 milhões de acres de cultivos geneticamente modificados no Canadá, teremos uma vasta extensão que é profundamente inóspita para os insetos.
O auge nas vendas da soja Roundup Ready da Monsanto não se limitou à América do Norte. No Cone Sul da América do Sul, onde a propriedade da terra é muito mais concentrada do que no Norte global, grandes proprietários rapidamente adotaram a combinação sementes/herbicidas, começando em 1996 na Argentina e se espalhando na década seguinte para o Paraguai, Uruguai, Brasil e sul da Bolívia. A substituição da mão de obra por produtos químicos permitiu que os proprietários de terras se livrassem de milhões de pequenos meeiros e criassem vastas plantações de soja administradas por grupos de investidores. Para cada diarista empregado na produção de soja transgênica no Brasil, onze foram demitidos [11].
Declarando que “a soja não conhece fronteiras”, a gigante agroquímica Syngenta chamou essa região de “República Unida da Soja” em um anúncio de 2003.
O auge nas vendas da soja Roundup Ready da Monsanto não se limitou à América do Norte. No Cone Sul da América do Sul, onde a propriedade da terra é muito mais concentrada do que no Norte global, grandes proprietários rapidamente adotaram a combinação sementes/herbicidas, começando em 1996 na Argentina e se espalhando na década seguinte para o Paraguai, Uruguai, Brasil e sul da Bolívia. A substituição da mão de obra por produtos químicos permitiu que os proprietários de terras se livrassem de milhões de pequenos meeiros e criassem vastas plantações de soja administradas por grupos de investidores. Para cada diarista empregado na produção de soja transgênica no Brasil, onze foram demitidos [11].
Já em 2005, dois importantes ambientalistas relataram o enorme impacto social e ambiental causado pela adoção da soja transgênica por parte dos proprietários de terras:
“Em 1998 havia um total de 422.000 propriedades na Argentina, enquanto em 2002 havia 318.000, o que representou uma redução de 24,5%. Em uma década, a extensão das lavouras de soja aumentou 126% em detrimento de terras destinadas à produção de leite, milho, trigo e frutas... No Paraguai, a soja é plantada em mais de 25% de todas as terras agrícolas e na Argentina as plantações de soja em 2000 se estendiam por quase 15 milhões de hectares, produzindo 38,3 milhões de toneladas métricas. Infelizmente, toda essa expansão ocorre às custas das florestas e de outros habitats. No Paraguai, grande parte da Mata Atlântica foi desmatada. Na Argentina, 118.000 hectares de floresta foram desmatados para plantar soja – em Salta cerca de 160.000 hectares e em Santiago del Estero um recorde de 223.000 hectares. No Brasil, o cerrado e a savana estão sendo devastados em ritmo acelerado” [12].
Ao mesmo tempo, os produtores de soja de toda a região expandiram suas fazendas limpando terras e cortando florestas. O Brasil e os Estados Unidos são agora, de longe, os maiores produtores de soja do mundo, cultivando juntos o dobro de soja do resto dos dez principais países juntos.
Em 2016, a jornalista ambiental Nazaret Castro calculou que “cerca de 60% das terras agricultáveis da Argentina, percentual semelhante no sul do Brasil e quase 80% das do Paraguai já são dedicadas à plantação da soja, praticamente toda ela geneticamente modificada” [13].
De acordo com um estudo recente, baseado em imagens de satélite, “de 2000 a 2019, a área dedicada ao cultivo da soja mais que dobrou, passando de 26,4 milhões para 55,1 milhões de hectares. A maior parte da expansão da soja ocorreu em pastagens originalmente desmatadas para a pecuária. A expansão mais rápida ocorreu na Amazônia brasileira… Em todo o continente, 9% das florestas desmatadas já haviam sido convertidas para o cultivo da soja em 2016. O desmatamento para o cultivo da soja concentrou-se nas fronteiras ativas, quase a metade no cerrado brasileiro” [14].
Assim como na América do Norte, a produção de soja na América do Sul tem sido acompanhada pelo uso massivo de herbicidas, principalmente o glifosato. No Brasil, as lavouras de soja transgênica são pulverizadas com glifosato em média três vezes em cada ciclo produtivo; somente em 2019, os agricultores brasileiros aplicaram 218 mil toneladas de herbicidas [15].
Em Primavera silenciosa, Rachel Carson descreveu como o uso extensivo de pesticidas levou à evolução de insetos e plantas daninhas que os produtos químicos não eram capazes de matar.
“Nem o próprio Darwin poderia ter encontrado um exemplo melhor de como funciona a seleção natural do que aquele fornecido pelo mecanismo de resistência... A aplicação de veneno acaba com os insetos mais fracos. Os únicos sobreviventes são aqueles que possuem alguma qualidade intrínseca que lhes permite evitar o dano... O resultado é uma população composta inteiramente por cepas resistentes” [16].
Assim, escreveu, atingiu-se uma “escalada do controle químico”, o que implica um uso crescente de venenos cada vez mais letais [17]. Outros descreveram a consequência da evolução da agricultura baseada na química como uma corrida invencível entre os agrotóxicos e as pragas.
Quando a Monsanto solicitou ao Departamento de Agricultura dos EUA a autorização para as sementes Roundup Ready, parecia alegar que o glifosato é de alguma forma imune à evolução graças a “propriedades biológicas e químicas” indeterminadas. Seu pedido afirmava que “o glifosato é considerado um herbicida com baixo risco de resistência de ervas daninhas”, de modo que “é altamente improvável que a resistência de ervas daninhas ao glifosato se torne um problema em decorrência da comercialização da soja tolerante ao glifosato”. Ao invés de provocar resistência, “é possível reduzir o uso total de herbicidas” [18].
Poucos cientistas concordaram. O ambientalista Miguel Altieri, por exemplo, previu em 1998, na revista socialista Monthly Review, que “essas culturas provavelmente aumentarão o uso de pesticidas e acelerarão a evolução de ‘superervas daninhas’ e cepas resistentes de pragas de insetos” [19].
Foi exatamente isso que aconteceu.
Em poucos anos, as ervas daninhas que o glifosato não conseguiu matar começaram a se espalhar na América do Norte e do Sul, e a resistência ao glifosato já foi confirmada em cerca de 50 espécies. Algumas são especialmente destrutivas: o crescimento descontrolado do amaranto (amaranthus palmeri), por exemplo, pode reduzir a safra de soja em até 80% e a de milho em até 90%. Como mostra o estudo de Jennifer Clapp sobre a adoção do glifosato, este se tornou outro impulsionador da escalada do controle químico.
“Diante da crescente resistência das ervas daninhas, os agricultores inicialmente decidiram aplicar quantidades maiores de glifosato nas mesmas lavouras para controlar as ervas daninhas. À medida que as ervas daninhas resistentes ao glifosato continuam a brotar, os agricultores, incentivados pelos fabricantes de herbicidas, aplicam cada vez mais produtos químicos mais antigos e mais tóxicos, como o dicamba e o 2,4-D, para controlar as ervas daninhas em suas lavouras” [20].
Da mesma forma, a adição de genes Bt ao milho e ao algodão aumentou a resistência a insetos e o uso de pesticidas. O Atlas dos Pesticidas de 2022 relata:
“Nos EUA, espécimes de verme da raiz do milho ocidental (Diabrotica virgifera virgifera) já são resistentes a mais de uma toxina Bt. No início do uso de cultivos Bt, houve uma significativa redução na quantidade de pesticidas utilizados. Mas apenas temporariamente: as vendas de inseticidas na produção de milho dos EUA aumentaram significativamente. Em 2018, os agricultores indianos gastaram 37% mais dinheiro por hectare para comprar inseticidas do que antes da introdução do algodão geneticamente modificado em 2002” [21].
Até recentemente, as sementes transgênicas continham no máximo três modificações genéticas, mas a Bayer, que adquiriu a Monsanto em 2018, aumentou recentemente o conteúdo incorporando oito alterações genéticas em seu Smartstax Pro Corn. Essas sementes altamente modificadas toleram os herbicidas glifosato e dicamba e ao mesmo tempo produzem cinco diferentes toxinas inseticidas Bt e usam, além disso, uma nova tecnologia de interferência de RNA para bloquear a produção de proteínas essenciais em vermes do milho, a praga mais prejudicial do milho.
A corrida armamentista continua.
Em 1859, no último parágrafo de A Origem das Espécies, Charles Darwin descreveu o mundo natural como “um terreno coberto com muitas plantas de muitos tipos, com pássaros cantando nos arbustos, com vários insetos esvoaçando de lá para cá e com vermes rastejando pela terra úmida… [cheia de] formas cuidadosamente construídas, tão diferentes e tão dependentes umas das outras de maneira tão complexa”.
Se Darwin pudesse ver o que a agricultura capitalista fez com os terrenos cobertos de hoje, sem dúvida concordaria com o ecologista conservacionista Ian Rappel: “a substituição da maravilhosa biodiversidade pela monotonia das monoculturas passou a situar-se no centro do metabolismo socioecológico do capitalismo” [22].
“A ecologia, que sob o capitalismo é objeto de uma engenharia ativa, é determinada pelo afã do lucro da classe dominante... O capitalismo só foi capaz de manter sua rejeição da natureza e sua tendência ecológica destrutiva mediante a introdução de mercadorias ecológicas artificiais de vários setores da indústria capitalista, por exemplo, na agricultura. Isso gera uma tendência ecológica disfuncional em direção à uniformidade e simplicidade ecológicas que inevitavelmente levará à perda da biodiversidade e à extinção” [23].
Miguel Altieri associa o rápido declínio da biodiversidade à globalização da agricultura capitalista no final do século XIX.
“A própria natureza da estrutura agrícola e as políticas que prevalecem em um cenário capitalista provocaram crises ambientais ao favorecer a criação de grandes fazendas, a produção especializada, a monocultura e a mecanização. Hoje, à medida que mais agricultores se integram à economia internacional, o imperativo biológico da biodiversidade está desaparecendo devido ao uso de muitos tipos de pesticidas e fertilizantes sintéticos, e as grandes fazendas se beneficiam das economias de escala” [24].
A maximização da produção de poucas plantas que podem ser vendidas com lucro nos mercados mundiais levou à criação de vastas monoculturas em fazendas que parecem fábricas e que envenenam e matam os terrenos cobertos de Darwin. A manutenção dessas monoculturas requer quantidades cada vez maiores de produtos químicos, prendendo os agricultores em uma rotina que é altamente lucrativa para a indústria agroquímica. As vendas mundiais totais de herbicidas são estimadas em US$ 39 bilhões em 2021 e provavelmente chegarão a US$ 49 bilhões em 2027. Os valores equivalentes para inseticidas são, respectivamente, de US$ 19,5 bilhões e US$ 28,5 bilhões.
Enquanto um punhado de empresas agroquímicas e comerciantes de produtos básicos controlarem os insumos e a produção agrícola mundial, a dinâmica capitalista de impor a monotonia das monoculturas continuará e o apocalipse dos insetos se acelerará.
[1] Dave Goulson, Silent Earth: Averting the Insect Apocalypse (HarperCollins, 2021), 123.
[2] ISAAA, “ISAAA Brief 55-2019: Executive Summary”, ISAAA Inc., 2019.
[3] 2,4-D é a abreviatura de 2,4-ácido diclorofenoxiacético (C8H6Cl2O3).
[4] Rachel Carson, Primavera silenciosa (Editora Gaia, 2010), p. 297 no original.
[5] Jennifer Clapp, “Explaining Growing Glyphosate Use: The Political Economy of Herbicide-Dependent Agriculture”, Global Environmental Change 67 (24 de fevereiro de 2021).
[6] Bartow J. Elmore, Seed Money: Monsanto’s Past and Our Food Future (W. W. Norton, 2021), 186, 187.
[7] Carey Gullam, Whitewash: The Story of a Weed Killer, Cancer, and the Corruption of Science (Island Press, 2017), 46.
8] Jennifer Clapp, “Explaining Growing Glyphosate Use”, Global Environmental Change 67 (24 de fevereiro de 2021).
[9] Erica Borg e Amedeo Policante, Mutant Ecologies: Manufacturing Life in the Age of Genomic Capital (Pluto Press, 2022), 124.
[10] Crop Production Historical Track Records (United States Department of Agriculture, 2019), 31, 164.
[11] Miguel A. Altieri e Walter A. Pengue, Roundup Ready Soybean in Latin America: A Machine of Hunger, Deforestation and Socio-Ecological Devastation, Biosafety Information Centre, 8 de agosto de 2005.
[12] Miguel A. Altieri e Walter A. Pengue, Roundup Ready Soybean in Latin America: A Machine of Hunger, Deforestation and Socio-Ecological Devastation, Biosafety Information Centre, 8 de agosto de 2005.
[13] Nazaret Castro, “‘United Republic of Soyabeans’ and the Challenge to Agriculture”, Equal Times, 12 de dezembro de 2016.
[14] Xiao-Peng Song e cols., “Massive Soybean Expansion in South America since 2000 and Implications for Conservation”, Nature Sustainability 4, n.º 9 (7 de agosto de 2021), 784. Em 2006 impôs-se uma moratória sobre as novas plantações de soja na Amazônia brasileira: o desenvolvimento se deslocou então para uma produção ainda maior na região tropical do cerrado, no Sudeste.
[15] Aldo Merotto e cols., “Herbicide Use History and Perspective in South America”, Advances in Weed Science, 15 de setembro de 2022, 5.
[16] Rachel Carson, Primavera silenciosa (Editora Gaia, 2010), p. 273, no original.
[17] Rachel Carson, Primavera silenciosa (Editora Gaia, 2010), p. 279, no original.
[18] “Petition for Determination of Nonregulated Status: Soybeans with a Roundup Ready™ Gene”, (1993) 56, 55.
[19] Miguel A. Altieri, “Ecological Impacts of Industrial Agriculture and the Possibilities for Truly Sustainable Farming”, em Hungry for Business: The Agribusiness Threat to Farmers, Food, and the Environment, ed. Fred Magdoff (Monthly Review Press, 2000), 86. (Artigo publicado originalmente em Monthly Review, julho-agosto de 1998).
[20] Jennifer Clapp, “Explaining Growing Glyphosate Use: The Political Economy of Herbicide-Dependent Agriculture”, Global Environmental Change 67 (março de 2021).
[21] Caspar Shaller, ed., Pesticide Atlas 2022 (Friends of the Earth Europe, 2022), 37.
[22] Ian Rappel, “The Habitable Earth: Biodiversity, Society and Rewilding”, International Socialism, 2021.
[23] Ian Rappel, “Capitalism and Species Extinction”, International Socialism, 2015.
[24] Miguel A. Altieri, “Ecological Impacts of Industrial Agriculture and the Possibilities for Truly Sustainable Farming”, em Hungry for Business, ed. Fred Magdoff (Monthly Review Press, 2000), 78.
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Engenharia genética e herbicidas a serviço da monocultura capitalista. Artigo de Ian Angus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU