07 Janeiro 2023
Um católico transgênero escreveu uma reflexão de Advento sobre a experiência de espera e surpresa ao falar de sua jornada em relação à sexualidade e ao gênero.
O comentário é de Robert Shine, publicado em New Ways Ministry, 23-12-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Maxwell Kuzma, um católico transgênero de Ohio, nos Estados Unidos, escreveu sobre as conexões entre sua caminhada pessoal e o Advento, em um artigo no National Catholic Reporter.
Kuzma começou dizendo que “a incerteza e a espera” eram características definidoras de um jovem católico LGBTQ. Suas experiências de sexualidade e depois de gênero eram diferentes das de seus coetâneos, no sentido de que “a plenitude da minha identidade não podia ser discutida com as pessoas em quem eu deveria confiar em minha jornada de fé”. O período da adolescência também incluía um desconforto com seu corpo e a espera, como lhe disseram, para superar isso, como a maioria dos adolescentes deve fazer.
Kuzma manteve sua fé nesse período e foi um membro ativo em sua paróquia. No entanto, escreve ele, “minha caminhada de fé estava passando por dores de crescimento” e, “fora da missa, eu sentia um abismo crescente entre mim e outros católicos”. Ele continua:
“Eu ouvia a puberdade sendo descrita como uma bela e confusa transformação natural que envolvia momentos e sentimentos estranhos, mas que terminaria em uma espécie de paz interior e harmonia – um momento no qual tudo se encaixava. Mas conforme meu corpo mudava, ele se tornava cada vez mais estranho para mim com o passar do tempo. Lutei para dar sentido ao desconforto da minha vida diária. Era difícil para mim me conectar com outros católicos que não pareciam compartilhar a relação difícil que eu tinha entre corpo e espírito.”
Kuzma se dedicou ao seu trabalho na produção de vídeos para grupos católicos, investindo inteiramente na ascensão profissional e ainda “esperando que Deus fizesse dar tudo certo”. Esse caminho só levou ao desgaste e o forçou a um tempo de reflexão e descanso necessários, levando Kuzma a perguntar onde estava Deus em sua vida, especificamente em sua vida interior, que havia sido negligenciada em favor do trabalho. Esse tempo livre levou a uma abertura:
“O tempo passou, e eu comecei a me curar. Eu me permiti considerar as assustadoras questões da identidade sexual e de gênero. Conheci idosos da comunidade LGBTQ – muitos eram pessoas de fé – que, com seu jeito quieto e firme, me mostraram como era manter contradições aparentes. Minha vida de oração mudou. Ao ver as pessoas LGBTQ de fé sendo fiéis a si mesmas e a Deus, eu percebi que poderia haver um caminho para mim. Essa conscientização era diferente de tudo que eu havia me permitido considerar.
“Ao pensar nessa possibilidade, senti Deus perto de mim de uma forma que eu nunca havia sentido antes. Não era um outdoor enorme; não era um gesto performativo. Era uma nova intimidade comigo mesmo que me permitiu entender pela primeira vez a frase bíblica ‘ame seu próximo como a si mesmo’, porque finalmente eu fui capaz de amar as minhas partes que não eram cisgêneras ou heterossexuais. A maneira como finalmente eu aprendi a me amar foi inesperada – tão inesperada quanto o rei do universo chegando ao mundo em um estábulo sujo e bagunçado. Não havia uma resposta fácil, e as pontas soltas não foram amarradas instantaneamente, mas o mundo lentamente ficou mais brilhante. A vida começou a ficar mais fácil.”
Kuzma conclui sua reflexão observando que, à medida que passou a viver com mais autenticidade, ele também foi capaz de apreciar a vida. E conclui:
“Comecei a entender que, durante aqueles momentos dolorosos em que Deus parecia tão distante, Ele estava realmente lá o tempo todo, esperando que eu reconhecesse o amor que Ele havia derramado sobre mim, esperando que eu recebesse esse amor tanto no meu corpo quanto na minha alma.”
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Católico transgênero relata “Advento pessoal”, em meio a “incertezas e esperas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU