Assassinato de rezadora Guarani pode ter sido encomendado por fazendeiros, dizem entidades

Retrato de Estela Vera Guarani feito em 2016 pela antropóloga Lauriene Seraguza (Foto: Reprodução | Lauriene Seraguza | Instituto Socioambiental)

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21 Dezembro 2022

Estela Vera era contra arrendamento ilegal em terra indígena e foi a quinta vítima do ano em áreas de conflitos no MS.

A reportagem é de Murilo Pajolla, publicada por Brasil de Fato, 19-12-2022.

A rezadora e liderança indígena Estela Vera Guarani, de 67 anos, foi assassinada a tiros na Terra Indígena (TI) Yvy Katu, município de Japorá (MS). A Aty Guasu, organização que representa os Guarani Kaiowá, afirma que ela foi vítima de fazendeiros que invadem a retomada para plantar soja e criar gado. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) aponta que esse é o quinto homicídio de indígenas Kaiowá e Guarani neste ano registrado em áreas de conflito no Mato Grosso do Sul.

Japorá (Foto: Wikimedia Commons)

Na última quinta-feira (15), homens com armas de grosso calibre invadiram a casa de Estela e dispararam vários tiros contra a vítima. O filho dela, que estava no local, conseguiu fugir. A mãe correu para uma área de pasto, mas foi alvejada na cabeça. A Yvy Katu é uma tekoha (terra sagrada) retomada pelos indígenas. A TI já está demarcada, mas falta ser homologada pela Presidência da República.

Paralisação de demarcações agrava violência

Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), ruralistas se aproveitaram do travamento dos processos demarcatórios pela Funai e fizeram uma nova investida contra a área. Na tekiha Yvy Katu, "todas as lideranças sofrem a ameaça de morte por parte dos fazendeiros", escreveu a Aty Guasu. "Atualmente o espaço da terra de Yvy Katu é invadido novamente e ocupado ilegalmente pelos fazendeiros arrendatários", diz a organização indígena.

O caso foi registrado como feminicídio pela Polícia Civil do Mato Grosso do Sul, mas até agora ninguém foi preso. A Aty Guasu pediu que a investigação seja conduzida pela Polícia Federal (PF) e salientou que outras lideranças estão ameaçadas de morte. O motivo são as denúncias feitas pelos indígenas de arrendamentos ilegais de terras dentro do território ancestral. Os arrendamentos muitas vezes ocorrem com participação de outros indígenas, cooptados pelo poder econômico do agronegócio.

"Por resistirem ao arrendamento, as indígenas e seus familiares sofrem cotidianamente ameaças e coerção por uma rede que envolve Poder Público, fazendeiros e outras forças econômicas e políticas da região – todos envolvidos e beneficiários dos arrendamentos. A partir disso, decorre a hipótese de o assassinato de Estela estar relacionado ao conflito com produtores de soja, de gado e arrendatários", escreveu o Cimi.

Intolerância religiosa não está descartada, diz Cimi

O Cimi também chama a atenção para a hipótese de intolerância religiosa, já que a Estela era uma importante líder espiritual na retomada. "No estado de Mato Grosso do Sul, as igrejas com perfil mais conservador acabaram funcionando como correia de transmissão do ideário violento e genocida de Bolsonaro, também dentro das aldeias, promovendo mais perseguições contra rezadoras e rezadores", diz a entidade.

A Aty Guasu pediu mais uma vez atenção às denúncias de arrendamento ilegal de terra indígena em Yvy Katu, onde Estela Vera foi assassinada. "Pedimos JUSTIÇA e investigação federal séria do assassinato ocorrido", escreveu em nota a associação dos Guarani Kaiowá.

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