Durante esses tempos difíceis e perturbadores em nosso mundo, há algo especialmente bom na tradição litúrgica para recuperarmos.
O artigo é de Chris McDonnell, professor aposentado de Teologia na Inglaterra, publicado por La Croix International, 17-12-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O Tempo do Advento avança a passos largos, chegando em sua última semana, o cumprimento do nosso caminho rumo ao Natal. A confusão nas ruas do centro e o som cada vez mais pesado das cartas caindo no carpete do corredor confirmam o avançar dos dias.
Porém, de uma outra forma a última semana do Advento também é marcada na Igreja, uma forma que é uma bela teologia da Vinda que estamos prestes a celebrar. Envolve palavras da Escritura, principalmente tiradas do profeta Isaías, para traçar a história. Faz parte do nosso tesouro litúrgico há muitos séculos. As passagens receberam o título geral de “Antífonas do Ó”, nomeadas a partir da exclamação que inicia cada uma.
Nas grandes orações diárias da Igreja, o Magnificat é sempre dito ou cantado como parte das Vésperas, a oração da noite. Durante a última semana do Advento, as antífonas que precedem e concluem o Magnificat dessa semana são aquelas que chamamos de Antífonas do Ó. Eles faziam parte do ofício da Igreja na Idade Média, embora sua reunião possa ser rastreada ainda mais longe.
Eles podem ser encontrados hoje nos livros da Liturgia das Horas do Advento, para os dias de 17 a 23 de dezembro. Eles contam a história das expectativas do Messias, usando repetidamente a simples palavra de desejo: “Vinde!”.
Eles não só são encontrados na oração da noite, mas também aparecem no lecionário diário na aclamação ao Evangelho durante a celebração da Eucaristia durante aquela semana. Eles oferecem a expectativa de que a longa espera está quase no fim, que o convite para “Vinde!” está prestes a ser cumprido.
Talvez seja hora de citar essas palavras que há tanto tempo são admiradas. Já foi dito que eles criam “uma poesia que enche de esplendor a liturgia”.
A Sabedoria do Senhor se ofereceu para nos sustentar e guiar.
Ó Sabedoria,
que saístes da boca do Altíssimo
guiando a Criação com força e amor:
Vinde ensinar-nos o caminho do conhecimento.
Um Líder para o povo em linha direta com Moisés, o legislador.
Ó Adonai,
Ó líder da casa de Israel,
Que destes a Lei a Moises no Sinai:
Vinde salvar-nos com sua força!
A Raiz da qual tudo cresce, uma linha ininterrupta de continuidade.
Ó Raiz de Jessé,
Sinal do amor de Deus para todo seu povo,
Vinde salvar-nos! Libertai-nos sem demora!
A Chave que abre uma porta, o caminho para a luz.
Ó Chave de Davi,
que abris os portões do Reino eterno de Deus,
Vinde logo e libertai o homem prisioneiro
Que nas trevas e na sombra da morte está sentado!
O esplendor e a glória suprema de Deus para nos guiar e nos ajudar.
Ó Amanhecer Radiante,
esplendor da luz eterna, sol da justiça:
vem e resplandece sobre os que habitam nas trevas e no
sombra da morte.
O Rei que está acima de tudo, que é o Salvador da humanidade.
Ó Rei das nações,
Ó Pedra angular da Igreja:
Vinde e salvai este homem tão frágil,
Que um dia criastes do pó!
A Antífona Ó Emanuel, a antífona mais familiar para nós através do hino do Advento, “Ó vinde, ó vinde, Emanuel”. O nome “Emanuel” vem dos escritos encontrados em Isaías – “Deus está conosco”, o ápice do nosso desejo, a conclusão de uma narrativa que se encontra em um estábulo em Belém.
Há, nestas breves antífonas, um resumo sucinto da teologia do nosso caminho adventista, da nossa expectativa da Vinda do Messias. Não é um caminho fácil, na verdade cheio de riscos e perigos, pedras e armadilhas, mas vale a pena, oferecendo-nos como presente o nascimento de uma criança, o Menino Jesus, Emanuel, Deus conosco.
Ó Emanuel,
Nosso rei e legislador:
Vinde salvar-nos,
Senhor nosso Deus.
Na pressa e agitação dos últimos dias do Advento, valeria a pena pegar essas palavras diárias das Escrituras e encontrar um lugar tranquilo apenas por alguns momentos para refletir sobre seu significado. As quatro velas da coroa do Advento foram acesas ao redor da vela central da Natividade, as Antífonas do Ó foram cantadas e em nosso mundo conturbado: é Natal mais uma vez.
A benção por este ano, ide bem, seguros na Vinda do Senhor!