Em novo encontro do XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e XXI Simpósio Internacional IHU, José Antonio Zamora refletirá as ameaças autoritárias numa sociedade democrática
Os tempos são sombrios, e não chega a ser exagero afirmar que o que está em jogo nas eleições presidenciais do Brasil, neste ano, é muito mais do que a escolha entre um e outro candidato. O pastor e teólogo Ed René Kivitz, em entrevista recente ao IHU, pontua que o que está em jogo é um modelo civilizatório. Já o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, em entrevista concedida recentemente também ao IHU, é ainda mais contundente ao afirmar que “os brasileiros estão sendo chamados a escolher entre a barbárie e a afirmação da democracia e dos direitos humanos”.
A questão de fundo que muitos, de diferentes áreas, parecem ter percebido é que aquilo que está sob ameaça é o sistema democrático brasileiro, que vem sendo construído há muitos anos e que teve um salto de qualidade com a promulgação da Constituição de 1988. Diferentemente do que se supunha, essa ruptura não necessariamente poderia acontecer com um golpe de Estado ou por outro chute de coturnos na porta das instituições democráticas. Na verdade, o risco reside nas próprias entranhas do sistema de democrático.
Isso, aliás, já foi até advertido por Harvard Steven Levitsky, um dos autores de Como as democracias morrem, olhando inclusive para o caso brasileiro. “Há muitas formas de uma democracia morrer e não só um sinal único. Por muitos cientistas políticos, a democracia no Brasil é considerada como uma das mais sólidas da América Latina, então não acredito que haja uma morte iminente. Dito isso, o Brasil tem passado por uma crise extraordinária durante os últimos três, quatro anos, a 'tripla crise'”, avaliou ele em entrevista de 2018, reproduzida pelo IHU.
Em uma entrevista de 2009, concedida à revista IHU On-Line, o professor José Antonio Zamora, agora do Conselho Superior de Investigaciones Científicas – CSIC, da Espanha, refletia, a partir de Walter Benjamin, uma crítica à Modernidade, vista materializada pelo autor na ideia de progresso. Dizia ele que “tanto a ideia burguesa, marxista ou social-democrata de progresso, de avanço a uma meta, concepção teleológica da história, e esta outra, do eterno retorno, são duas formas de falsa consciência daquilo que realmente ocorre”. Nesse sentido, a democracia moderna seria uma espécie de "falsa consciência" que nos cega, despistando-nos dos sintomas de suas deturpações e fazendo com que não percebemos os monstros que ela mesma gera? E, se sim, como enfrentar esses monstros sem destruir as próprias construções democráticas? São questões que ficam e que poderão, quem sabe, ser levadas ao próprio José Antonio Zamora que irá proferir uma palestra logo mais, às 10h, no IHU.
Dentro do XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e XXI Simpósio Internacional IHU, José Antonio Zamora proferirá a palestra intitulada “A constelação autoritária nas sociedades democráticas: uma ameaça que vem de dentro”. A atividade começa às 10h, com transmissão ao vivo pelo canal do IHU no YouTube e pelas redes sociais.
Formou-se em Filosofia e em Educação (especialidade em Filosofia) pela Universidade de Granada. Posteriormente, realizou pesquisa e doutorado na Universidade de Münster, Alemanha, onde obteve seu doutorado em 1995 com uma tese sobre o pensamento de Theodor Adorno orientada por Johann Baptist Metz.
Foi professor titular da Cátedra de Ética, Filosofia Moderna e Contemporânea e Filosofia da Religião, no Centro de Estudos San Fulgencio de Múrcia, afiliado à Pontifícia Universidade de Salamanca (1995-2003), professor associado de Teoria da Educação, na Universidade de Múrcia (2002-2003), investigador contratado (2003-2005) e cientista sênior (2005-2020) no Instituto de Filosofia CSIC, em Madri. Desde fevereiro de 2021 é pesquisador científico do referido instituto.
Professor Zamora (Foto: Academia.edu)
Foi professor visitante em diferentes universidades ibero-americanas (Universidade Centro-Americana "José Simeón Cañas", de San Salvador; Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás e Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Realizou diversos estágios de pós-doutorado em universidades alemãs (Münster e Berlim). Suas linhas de trabalho e pesquisa mais importantes são: Filosofia após Auschwitz, Teoria Crítica (T. Adorno, W. Benjamin), Teologias Políticas da Modernidade, Filosofia Política das Migrações, Sofrimento Social e Autoritarismo. Zamora é membro da Society for Critical Theory Studies e faz parte das equipes editoriais de Constelaciones: Jornal de Teoria Crítica e Jahrbuch Politische Theologie.