26 Agosto 2022
No final deste mês de agosto, mais precisamente no dia 31, na América do Sul, Central e do Norte, assim como na Europa, será celebrado o 34º aniversário da Páscoa de dom Leonidas Proaño, ex-bispo da diocese de Chimborazo, Equador.
A reportagem é de Pedro Pierre, publicada por Rebelión, 25-08-2022. A tradução é do Cepat.
Far-se-á memória do imenso legado que nos deixou ao longo do seu ministério pastoral, que marca o caminho que devemos seguir. Felizmente, ele continua sendo uma figura iluminadora para a Igreja, os povos indígenas da América Latina e para a sociedade em geral.
Uma das maiores virtudes de dom Leonidas Proaño era a solidariedade. Seu testemunho de vida é marcado por suas incansáveis lutas pela solidariedade. Ele é identificado internacionalmente com um dos seus poemas transformado em música sobre o mesmo tema: “Solidariedade, solidariedade, solidariedade!” – “Sentir como próprio o sofrimento do irmão daqui e de acolá, tornar próprias as angústias dos pobres...”.
No Equador é reconhecido como o ‘Bispo dos indígenas’. Ele mesmo, sendo mestiço, orgulhava-se de suas raízes indígenas: “Adoro o que tenho de indígena!” As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) o têm como fundador, na década de 1970. Ele também foi o grande defensor da natureza por sua cosmovisão indígena: “Temos que agir antes que seja tarde demais, antes que a ambição e a ganância de poucos transformem o nosso planeta em uma lua morta, em um cemitério do espaço”.
Em termos da América Latina, foi o promotor da Teologia da Libertação graças aos inúmeros encontros que promoveu na Casa de Retiros Santa Cruz, perto de Riobamba, onde viveu de forma muito simples. Fez da solidariedade sua bandeira de luta tanto com os povos indígenas do Equador e do continente, como também com os povos em rebeldia por seus direitos pisoteados, de modo especial com os da América Central. Seus numerosos escritos e intervenções foram integrados ao patrimônio nacional do Equador e é nomeado o “Pai da Igreja dos Pobres” da América Latina.
Monsenhor Proaño encontrou sua motivação pela solidariedade na educação que recebeu dos seus pais, no testemunho de Jesus de Nazaré e dos primeiros cristãos, na coragem dos seus mártires latino-americanos contemporâneos e em sua paixão por acabar com as injustiças. “Nós cristãos temos a capacidade de transformar este mundo de ódio e morte em um mundo de amor, em um mundo de entrega uns aos outros; essa é a enorme capacidade que podemos conquistar se formos coerentes com a nossa fé”.
Hoje dom Proaño continua sendo o emblema nacional e internacional das lutas pela solidariedade. Sendo dom Proaño o arquiteto da união dos povos indígenas do Equador, estes o citam em todas as suas manifestações. Graças à sua solidariedade para com eles, os povos indígenas procuram pôr um fim à marginalização pela qual continuam a ser vítimas há mais de 5 séculos, especialmente devido à exploração econômica. Nas últimas três décadas conseguiram ser reconhecidos como protagonistas de uma nova sociedade internacional que varre o capitalismo, substituindo-o pela “cosmovisão do Bem Viver”. Essa cosmovisão é baseada na comunidade, no compartilhamento equitativo, na participação mediante o consenso, na complementaridade e na comunhão com a natureza.
A nível continental, as lutas indígenas pelo Bem Viver continuam vivas e exemplares tanto a nível pessoal como coletivo. Há o testemunho vivo dos zapatistas no México e a plurinacionalidade na organização sociopolítica da Bolívia. Eles estão demonstrando o valor de suas culturas ancestrais diante dos infortúnios trazidos pela colonização europeia. Sua cosmovisão é uma alternativa social, econômica, política e espiritual em nível mundial para substituir a globalização neoliberal que destrói pessoas, povos e natureza, levando o planeta ao colapso. “Procuro em todos os lugares lutadores da paz e da vida”.
A nível internacional existem inúmeras associações e grupos que reivindicam a espiritualidade de dom Leonidas Proaño: lutam pelo meio ambiente, uma nova sociedade e uma Igreja sinodal. A nível eclesial, a espiritualidade indígena é assumida como sabedoria universal que estimula as pessoas e os povos a despertar uma nova consciência, transformar as religiões fechadas em estruturas obsoletas e revitalizar o cristianismo pela interculturalidade.
Atualmente, o Papa Francisco convoca os cristãos a construir a sinodalidade, ou seja, a colaborar decisivamente na implementação de uma Igreja nas mãos dos batizados que afaste o clericalismo autoritário e patriarcal. Dom Proaño lançou as bases para a criação de uma Igreja indígena que conserve seus valores tradicionais e expressa através da sua cultura a mensagem de Jesus de Nazaré.
Nestes tempos em que crescem de maneira descontrolada a pobreza, a miséria e a violência devido às imposições do sistema neoliberal, que a força firme e gentil de dom Leonidas Proaño esteja presente nas nossas lutas solidárias por uma sociedade justa e inclusiva e por uma Igreja sinodal a serviço do Reino. Na sua voz de “mestre da solidariedade” ouçamos a voz da Terra: “Filho, se como eu queres ser fecundo na vida, seja como eu, terra e nada mais que terra, sem vãs pretensões, sem queixas, sem invejas”.
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Leonidas Proaño, um exemplo de solidariedade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU