Idos de Agosto

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08 Agosto 2022

 

"Este será um agosto de desgosto para uns e antegosto para outros que, como eu, sabem que o apóstolo do “armai-vos uns aos outros” será alvo do mais poderoso projetil de defesa da democracia: as urnas."

 

O artigo é de Frei Betto, escritor.

 

Frei Betto, lança em agosto três novos livros: “Tom vermelho do verde” (Rocco); “Jesus militante” (Vozes); e “O estranho dia de Zacarias” (Cortez).

 

Eis o artigo.

 

Agosto me diz respeito. É um mês criado por razões políticas, em homenagem ao imperador romano César Augusto. Mês em que nasci, exatamente em hora, dia e ano em que a Resistência Francesa comemorou a libertação de Paris da ocupação nazista.

 

Mês no qual Getúlio Vargas decidiu, em 1954, sair da vida para não entrar na cadeia, e meteu uma bala no peito. E é o mês em que Jânio Quadros decidiu, em 1961, sair da presidência da República para retornar, com plenos poderes, ao Planalto, e mergulhou o Brasil em uma crise política que nos custou 21 anos de ditadura militar.

 

O suicídio de Vargas cancelou a festa de meu aniversário de 10 anos. Meu pai, signatário do “Manifesto dos Mineiros”, libelo contra o caudilho, convocou parentes e amigos para comemorar o fim da ditadura do Estado Novo. Mas, para minha tristeza, na madrugada de 24 de agosto o cadáver do déspota tombou na sala de minha casa. Tive a festa cancelada.

 

Em 1961, o presidente Jânio Quadros também quase estraga meu aniversário. Renunciou à presidência exatamente no dia. Como primeiro vice-presidente da Umes (União Municipal de Estudantes Secundaristas) de Belo Horizonte, fui para a Praça Sete, no centro da capital mineira, mobilizar estudantes pela volta de Jânio ao Planalto. Pela primeira vez, enfrentei a cavalaria do Exército, que nos expulsou dali.

 

Agora temos um agosto tenso, às vésperas de eleições que, se Deus quiser, devem escorraçar o atual ocupante do Planalto. Neste mês se iniciam oficialmente as campanhas eleitorais. Veremos todo tipo de ameaças daquele que teme ser derrotado. Irá vociferar, redobrar a convocação de seus aliados para 7 de setembro, quando deveria ser comemorado o bicentenário da independência do Brasil.

 

O que o Inominável quer é encontrar um modo de sabotar o processo eleitoral para preservar sua família no governo e isentá-la de responder, perante os tribunais, pelos crimes cometidos.

 

Será um agosto de desgosto para uns e antegosto para outros que, como eu, sabem que o apóstolo do “armai-vos uns aos outros” será alvo do mais poderoso projetil de defesa da democracia: as urnas.

 

Quem viver, verá.

 

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