Há cinquenta anos, o relatório Meadows derrubou o mito do crescimento infinito

Fonte: Wikimedia Commons

28 Julho 2022

 

Ao chamar a atenção para a preocupante situação em relação ao futuro da humanidade e ao apelar a políticas proativas para garantir o bem-estar de todos, Limites do crescimento teve o efeito de uma bomba em 1972.

 

A reportagem é de Gérard Vindt, publicada por Alternatives Économiques, 26-07-2022. A tradução é do Cepat.

 

Mesmo antes de ocorrer o primeiro choque do petróleo de 1973, muito antes do impacto dramático da atividade humana sobre os ecossistemas e o clima se tornar um assunto de grande preocupação, a publicação do relatório Meadows em Nova York em março de 1972 provocou um estrondo. É escrito por quatro pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) especializados em dinâmica de sistemas – Donella Meadows, Dennis Meadows, Jorgen Randers e William Behrens – que apresentam os resultados de uma pesquisa realizada por 17 cientistas de seis países (principalmente dos Estados Unidos, mas também da Alemanha, Índia, Irã, Noruega e Turquia) sob a direção de Dennis Meadows, na época com 30 anos.

 

Encomendado pelo Clube de Roma (um think tank de industriais, cientistas e altos funcionários internacionais), este relatório dá uma base científica às preocupações ligadas à evolução descontrolada de cinco parâmetros determinantes para o futuro da humanidade: a aceleração da industrialização, o crescimento da população, a extensão da desnutrição, a redução dos recursos não renováveis e a deterioração do meio ambiente.

 

Os múltiplos limites para o crescimento

 

A partir da observação quantitativa do crescimento exponencial dessas diferentes variáveis, os pesquisadores estudam os limites de cada uma delas. Ao executar um modelo computacional desenvolvido por Jay Forrester para estudar as variações dos cinco parâmetros e suas interações, eles formulam vários cenários: todos eles, a mais ou menos longo prazo, acabam esbarrando em limites que travam os processos de crescimento.

 

No cenário “padrão”, sem grandes mudanças no sistema atual, o crescimento da população e da produção industrial certamente será interrompido o mais tardar no século XXI por falta de recursos. Se admitirmos que a duração dos recursos disponíveis é duplicada, neste caso, o primeiro limite atingido será o da poluição, causada pela superação da capacidade de absorção do meio ambiente, levando ao aumento da mortalidade e das carências alimentares.

 

Mesmo no cenário mais “otimista”, que supõe recursos ilimitados, controle da poluição, crescimento da produção de alimentos e controle da natalidade, o crescimento incessante da produção e do consumo enfrentará antes de 2100 três crises simultâneas: superexploração do solo levando à erosão e queda na produção de alimentos, superexploração dos recursos por uma população mundial com alto consumo e explosão da poluição que leva ao aumento da mortalidade.

 

A miragem tecnológica

 

Para todos aqueles, então provavelmente uma grande maioria, que imaginam que o progresso tecnológico será capaz de enfrentar os desafios, o relatório endossa o lema de um clube ambientalista americano: “Nenhuma oposição cega ao progresso, mas oposição ao progresso cego”. Com efeito, mesmo supondo que a energia nuclear resolva o problema energético e que não tenhamos recursos limitados, o aumento da produção levará a um aumento acentuado da poluição: o custo do seu combate será então muito elevado, em detrimento de outros investimentos em áreas vitais.

 

Para os autores, “a confiança na tecnologia como solução definitiva para todos os problemas desvia nossa atenção do problema mais fundamental – o do crescimento em um sistema finito – e nos impede de tomar medidas efetivas para resolvê-lo. Será então necessário reagir com urgência, e será muito mais doloroso do que se a sociedade tivesse feito suas próprias escolhas”.

 

Mudanças necessárias

 

A humanidade está, portanto, em um momento de escolha, “que certamente trará profundas mudanças nas estruturas econômicas e sociais que permearam a cultura humana ao longo de séculos de crescimento”.

 

Os autores esboçam essas “profundas mudanças”: devemos lutar por um “estado de equilíbrio global”, “um sistema sustentável sem colapso repentino e incontrolável, capaz de satisfazer as necessidades materiais básicas de todos os povos”. Nesse estado de equilíbrio, a população e o capital investido nos serviços, na indústria e na agricultura devem parar de crescer. Por outro lado, todas as atividades que não exijam grande consumo de recursos não substituíveis ou que não produzam grave degradação ambiental podem continuar a crescer indefinidamente: “Educação, arte, música, religião, pesquisa científica básica, esportes, interações sociais podem desabrochar”.

 

O relatório, dirigido principalmente aos tomadores de decisão, procura convencê-los, com o apoio de dados, de que é urgente agir e de que o atual modelo de crescimento está ampliando o fosso entre ricos e pobres, causando fome e miséria, e a longo prazo leva à catástrofe.

 

“No passado, escrevem os seus autores, a ideia de que se podia ultrapassar os limites em vez de viver com eles era reforçada pela aparente imensidão da Terra e dos seus recursos e pela relativa pequenez do homem e das suas atividades”.

 

Este não é mais o caso hoje. E há urgência tanto mais quanto há uma forte inércia do sistema: trata-se de agir agora para mudar a situação em algumas décadas. E apelar a um amplo debate democrático sobre este assunto que nada mais é do que o futuro da humanidade.

 

Uma mensagem pouco escutada

 

Este apelo foi ouvido na época? Ele certamente está em consonância com a primeira Cúpula da Terra organizada pelas Nações Unidas (ONU) em Estocolmo em junho de 1972. Mas poucos são aqueles que, como o comissário europeu Sicco Mansholt, soaram o alarme: “Esta foi, para mim, uma revelação terrível. Entendi que era impossível se safar das adaptações: é todo o nosso sistema que precisa ser revisto, sua filosofia precisa ser radicalmente mudada”. E as reações hostis dominaram, tanto entre os economistas como entre os políticos. Deve ser dito que o relatório Meadows contraria os credos produtivistas da esquerda e da direita.

 

No entanto, os autores do relatório seguem trabalhando. Em 1992, eles publicaram uma atualização do seu relatório, Além dos limites: a humanidade já ultrapassou os limites do que o planeta pode suportar. É urgente recuar. Em 2004, surgiu uma nova atualização (Limites do Crescimento. A atualização de 30 anos), que utiliza modelos computacionais mais sofisticados. A realidade é infelizmente mais pessimista: a humanidade e seus tomadores de decisão, apesar de um início de conscientização, especialmente sobre as mudanças climáticas (o IPCC foi fundado em 1990), não tomaram decisões à altura dos desafios. Os atrasos acumulados na aplicação das boas resoluções da COP 21 sobre o clima, realizada em Paris em 2015, continuarão a demonstrar isso.

 

Já desde 1999, a atividade humana, pela sua “pegada ecológica” – definida por Mathis Wackernagel em 1994 – ultrapassou em 20% o que a Terra pode fornecer em termos de recursos e absorver em emissões. Em 2000, o químico Paul Crutzen e o biólogo Eugène Stoermer, observando que o homem havia se tornado o principal responsável pelos desequilíbrios naturais do planeta, viram nisso a entrada em uma nova era, “o Antropoceno”. E o alerta emitido pelos cientistas do MIT há cinquenta anos é mais relevante do que nunca. Em 2008, o pesquisador australiano Graham M. Turner comparou os cenários de Meadows de 1972 com trinta anos de dados (1970-2000): ele encontrou as projeções do cenário padrão (ou seja, sem mudanças fundamentais) de Limites do Crescimento.

 

Em 2020, a pesquisadora norte-americana Gaya Herrington confirma a pertinência de dois dos cenários iniciais do relatório Meadows que levam a uma interrupção do crescimento global, e pensa que o cenário otimista, o do “mundo estabilizado”, ainda é possível limitando o crescimento econômico. Nem toda a esperança está perdida, diz-nos também Dennis Meadows, ainda hoje: o pior, o colapso, nunca é certo. Mas há urgência.

 

Em 2004, o relatório Meadows foi atualizado, mas sua tradução francesa nunca foi publicada. Isso é feito este ano pelas edições Rue de l'Échiquier. O livro traz um prefácio escrito em dezembro de 2021 pelo próprio Dennis Meadows. Esta é a única edição do relatório disponível em francês desde a inicial de 1972, publicada pela Editora Fayard sob o questionável título Halte à la croissance?, que não foi reimpressa.

 

As conclusões são as mesmas de 1972... porém, “muito mais pessimistas”: “Não temos mais trinta anos para perder: teremos que fazer muitas mudanças se quisermos que a superação atual [dos limites] não siga um colapso no século XXI”, escreveram os autores em 2004.

 

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