22 Junho 2022
Após anos de isolamento devido à guerra e depois à pandemia, a comunidade fundada pelo padre Dall'Oglio volta a acolher peregrinos e visitantes. “Somos um oásis de espiritualidade e fraternidade em um contexto ainda continua duríssimo”, explica o abade frei Jihad Youssef.
A reportagem é de Chiara Zappa, publicada por AsiaNews, 21-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Após anos de isolamento devido à guerra e depois à pandemia de Covid-19, o mosteiro sírio de Mar Musa reabriu as suas portas para receber peregrinos e visitantes. O anúncio foi feito pela própria comunidade nascida nos anos 1990 por iniciativa do padre jesuíta Paolo Dall'Oglio, que fez desse lugar situado entre as montanhas e o deserto, uma centena de quilômetros ao norte de Damasco, um centro de diálogo entre o islamismo e o cristianismo.
"Este é um sinal importante, porque a abadia representa para muitos sírios de diferentes confissões religiosas e confessionais um oásis espiritual, de paz e amizade", comenta frei Jihad Youssef, abade de Deir Mar Musa Al Habashi (São Moisés, o Abissínio), um dos mais antigos mosteiros da Síria, onde se conservam preciosos afrescos, uma igreja do século XI e inscrições murais em árabe, siríaco e grego.
Depois que a guerra começou em 2011, combates ferozes entre grupos de oposição e forças do governo também afetaram a cidade vizinha de Nabek, enquanto entre 2015 e 2017 o Estado Islâmico assumiu o controle de uma região próxima, onde também ocorreram sequestros de habitantes cristãos. Para a comunidade, porém, o golpe mais duro foi o desaparecimento, em 2013, do padre Dall'Oglio na área de Raqqa, controlada por jihadistas. Desde então, nada se soube mais nada sobre o religioso.
Seu espírito, no entanto, é fortemente percebido dentro dos antigos muros de pedra, onde o silêncio é quebrado apenas pelos cantos dos monges durante as horas de oração. “Aqui não há sinal de internet, os nossos hóspedes podem usufruir de uma pausa do estilo de vida agitado da cidade, para se dedicarem ao encontro com Deus, consigo mesmo e conosco, num clima de amizade que supera as diferenças religiosas”, explica o abade da fraternidade, ecumênica e mista.
Uma “profecia de uma amizade global” particularmente significativa em um contexto em que, mesmo que não se atire mais, a vida cotidiana continua muito difícil: “Mais do que viver, as pessoas sobrevivem. Estamos passando por uma forte crise econômica, nossa moeda não vale mais nada, o trabalho é precário e mal pago e os preços de tudo foram às estrelas”.
Neste clima de forte desânimo, os moradores locais receberam com grande alegria a notícia da reabertura do mosteiro à hospitalidade: “Há tempo que muitos amigos nos perguntavam quando voltaríamos a receber visitantes. Eles nos diziam: 'Precisamos de vocês, para rezar, descansar, contemplar a natureza e caminhar nas montanhas'". O vínculo com a criação e o cuidado com o meio ambiente representam, desde o início, uma das peculiaridades de Deir Mar Musa. Os monges e as monjas trabalham a terra e seguem projetos de valorização da biodiversidade local, e os hóspedes – além de recortar espaços de reflexão e usufruir da grande biblioteca – podem compartilhar momentos de trabalho manual.
Nos últimos anos, a comunidade trabalhou intensamente para apoiar os deslocados e os pobres, tanto na área de Nabek quanto na província de Homs, onde fica o mosteiro de Mar Elian, parcialmente destruído no verão de 2015 pelos islâmicos (que também sequestraram o padre Jacques Mourad, que permaneceu prisioneiro por cinco meses). Justamente o Padre Mourad anunciou há algum tempo que a estrutura será reconstruída e as suas vinhas e olivais replantados.
Agora, a reabertura de Mar Musa é mais um sinal de esperança: "Os grupos já voltaram: tivemos 110 pessoas em um único dia, enquanto de Aleppo um padre acompanhou 35 mulheres da fraternidade paroquial para um retiro noturno e cerca de trinta jovens”, conta frei Jihad. Quem acrescenta: “Para os próximos meses nossa agenda já está lotada”.
Os peregrinos são principalmente sírios, até porque ainda não é fácil para os estrangeiros obterem vistos para entrar no país, mas "todos são bem-vindos", confirma o abade. "Para nós, a hospitalidade é sagrada: cada pessoa que chega vem visitar o Senhor e nós, acolhendo-a, acolhemos Jesus, em nome de Jesus. É sempre Deus quem recebe e quem é recebido".
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Síria. O mosteiro de Mar Musa reabre para acolher - Instituto Humanitas Unisinos - IHU