Diretor expõe a trajetória de produção de “Saúde tem Cura”. Documentário realizado durante trinta anos mergulha nos debates que cercam o Sistema Único de Saúde, sem ignorar seus problemas. É “um filme voltado para o futuro”, explica.
A reportagem é publicada por Outra Saúde, 09-06-2022.
Saúde tem Cura (2022, 1h30, Caliban), foi lançado nesta terça-feira (8/6) à noite, no Cinema Estação Botafogo, Rio de Janeiro. “O lançamento foi antológico”, conta Silvio Tendler, diretor do longa-metragem disponibilizado no YouTube, que não ia ao cinema desde o início da pandemia de covid-19. O filme, produzido em idas e vindas desde a Constituição de 1988, tenta apresentar um panorama detalhado sobre a importância da implementação do SUS no país e quais são seus principais desafios hoje.
“Não é um filme nostálgico, mas voltado para o futuro”, explica Tendler, que iniciou o projeto quando acompanhava a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada entre 17 e 21 de março de 1986. “Minha mãe era médica e trabalhava no sistema público de saúde. Então, na verdade, eu acompanho o tema desde a década de 1950, quando ela se formou”, contou o cineasta a Outra Saúde. As memórias do atendimento médico nos anos pré-ditadura e durante o regime militar desencadearam o interesse pelos debates em torno da criação do que viria a ser o SUS. “Na realidade, a luta pela implementação do sistema antecede tudo isso. Começa com Oswaldo Cruz e Adolpho Lutz, que no começo do século XX queriam que o Brasil fabricasse suas próprias vacinas e não fosse um mero importador”, lembra.
O documentário traz depoimentos de nomes reconhecidos na área da saúde, especialistas e profissionais que atuam em diversos segmentos do SUS. Drauzio Varella, Júlio Noronha e Margareth Dalcolmo são alguns dos entrevistados para discutir as conquistas, mas também os desafios com que o sistema se depara hoje. “O saldo do filme é favorável ao SUS, mas não fugimos das questões fundamentais de que muita coisa precisa melhorar”, explica Tendler. “Coloco temas polêmicos pois não quero unanimidade, quero reflexão”, ressalta.
Os principais problemas do Sistema são debatidos: a falta de financiamento pelos governos, a qualidade de alguns serviços oferecidos e o tipo de administração utilizada. Enquanto alguns especialistas defendem a parceria entre o sistema público e privado, outros acreditam que a ação só seria possível sob supervisão plena do Estado. Um ponto em comum, porém, é que o sistema privado não é suficiente para atender a demanda por saúde no Brasil. “Eu tentei mostrar o SUS como uma necessidade coletiva, fora do debate político, mas como mecanismo fundamental”, explica Tendler. “Temos um Sistema que é muito mais do que o atendimento em hospitais, mas que gera empregos, pesquisa e inovação tecnológica e que forma pessoas. A saúde é uma arma do desenvolvimento, não é despesa, mas economia”, conclui.