Povos indígenas apontam caminho possível à preservação da vida

Indígenas em protesto contra genocídio, no Mato Grosso do Sul (Foto: Cimi/Survival)

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25 Fevereiro 2022

 

O Conselho de Missão entre Povos Indígenas (Comin) da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB) lançou, no dia 17, o Cadernos da Semana dos Povos Indígenas 2022, sob o título “Direitos ao território, direito à vida”. O texto mostra que os povos indígenas, sua comunidade, “apontam um caminho possível de vida” num planeta em ebulição climática.

 

A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista. 

 

“Garantir os territórios indígenas, seus espaços físicos de reprodução social e cultural, é garantir vida aos animais, às matas, aos rios. Direito ao território é direito à vida, talvez até direito a muitas vidas!” – destaca o Caderno. Davi Guarani explica que, na cultura do seu povo, “tudo tem vida, tem espírito, a árvore tem espírito, a água tem espírito, a pedra tem espírito”.

Para além da compreensão do território como espaço delimitado de terra, os povos indígenas trazem consigo outra noção de território, como local “onde está conectada, intrinsicamente, sua forma de estar no mundo com outros domínios da vida”. Assim, ter o direito ao território garantido “é caminhar em direção à vida digna, não somente para pessoas indígenas, mas para todas as formas de vida que habitam este espaço”.

Essa concepção holística, no entanto, nunca foi entendida pelo colonizador branco, desde a chegada dos primeiros invasores aos dias de hoje. O Caderno do Comin lembra que “o Brasil não foi fruto de uma descoberta, o Brasil desde a narrativa indígena foi invadido. Dessa forma, a partir da invasão e do esbulho dos territórios indígenas, os povos indígenas foram despojados de sua autonomia e liberdade”.

Assim, a formação do Brasil significou para os povos indígenas “violências simbólicas e materiais, continuadas e atualizadas até o presente”. Fica a impressão de que o projeto de colonização “enxerga a expulsão dos povos indígenas como condição fundamental para o ‘desenvolvimento’ do país”.

Nessa trajetória de 500 anos, da “descoberta” do Brasil aos dias atuais, povos indígenas situados no território brasileiro foram vítimas de um genocídio monstruoso. Estima-se que na época da chegada de Cabral a terras baianas, existiam mais de um mil povos indígenas, com uma população de 2 a 4 milhões de pessoas. Cinco séculos depois, levantou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indígenas somam 896.917 pessoas, ou seja, cerca de 0,47% da população total do país.

Ainda hoje, os diversos ataques aos povos indígenas no campo das leis e políticas públicas levam a invasões, ao desmatamento, ao garimpo e à mineração ilegal em seus territórios. Célia Xakriabá explica que os povos indígenas têm sido os grandes defensores das florestas. “Embora não sejamos reconhecidos como melhores artilheiros, somos os melhores zagueiros: defendemos nossos biomas, sustentamos o pulmão do mundo. Parem o desmatamento. Porque quando corta uma árvore, corta parte de nós, corta água, corta a vida. Nos perguntamos o que o progresso da morte vai fazer?”

O texto do Caderno do Comin foi trabalhado por Douglas Jacinto da Rosa, do povo Kaingang, mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e membro do Conselho Estadual dos Povos Indígenas CEPI/RS. As ilustrações são de autoria de Wanessa Ribeiro, descendente do povo Guarani.

 

O caderno pode ser baixado acessando aqui.

 

 

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