04 Fevereiro 2022
Novos olhos “para ver dentro e ver além”. E braços para acolher Jesus e, portanto, “também os outros com confiança e humildade”. Caso contrário, corre-se o risco de "não apertar nada". Além disso, não se fechar na amargura, nas queixas, na rigidez (que são "uma perversão"). E não pensar na consagração "em termos de resultados, metas, sucesso". São várias as recomendações do Papa aos religiosos e às religiosas de todo o mundo no dia a eles dedicado.
A reportagem é de Mimmo Muolo, publicada por Avvenire, 03-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na Basílica de São Pedro, Francisco presidiu a celebração da Missa por ocasião da Candelária, que São João Paulo II quis que coincidisse com o Dia da Vida Consagrada, que está em sua XXVI edição este ano. E pediu para superar os problemas contingentes, olhando para o exemplo de espera paciente do velho Simeão e da profetisa Ana, que reconhecem Jesus durante sua apresentação no Templo, depois de tê-lo esperado toda a vida.
Em primeiro lugar, "permanecer fiéis todos os dias", alimentando "a chama da esperança que o Espírito acendeu" no coração de cada um. Portanto, prestar atenção ao "bichinho do narcisismo ou à ânsia de protagonismo", que também podem se esconder "por trás da aparência de obras boas ", bem como ao risco de "repetição mecânica: fazer as coisas por hábito, apenas para fazê-las".
O convite do Papa é para renovar o nosso olhar, a partir do modo como "Deus nos olha". Desta forma, "as durezas do nosso coração" se desmancham, "as feridas se curam" e é possível ter "novos olhos para ver a nós mesmos e ao mundo", portanto, também "as situações mais dolorosas". "Não se trata de um olhar ingênuo, que foge da realidade ou finge não ver os problemas - ressaltou o Papa Bergoglio -, mas de olhos que não se detêm nas aparências e sabem penetrar até nas frestas da fragilidade e dos fracassos para vislumbrar aí a presença de Deus".
É por isso que Francisco exortou a evitar atitudes pessimistas. E se "o mundo muitas vezes vê a vida consagrada como um desperdício, uma realidade do passado, algo inútil", os religiosos e as religiosas não devem ter os olhos voltados para trás, "arrastando-se por inércia nas formas do passado, paralisados pelo medo de mudar". "É uma tentação - frisou. A tentação de voltar atrás e conservar as tradições com rigidez. Vamos nos dar conta: a rigidez é uma perversão - reiterou ele com um acréscimo de improviso. E sob toda rigidez há sérios problemas”.
Em vez disso, “através das crises, dos números que faltam, das forças que faltam, o Espírito convida a renovar a nossa vida e as nossas comunidades. Vejamos Simeão e Ana - exortou novamente o Pontífice -: mesmo que sejam avançados nos anos, não passam os dias lamentando um passado que não volta mais, mas abrem os braços ao futuro que vem ao seu encontro".
Daí, sobretudo, o convite a acolher Jesus, que é "o essencial, o centro da fé". "Se aos consagrados faltam palavras que abençoem a Deus e aos outros - advertiu Francisco -, se falta a alegria, se falta o entusiasmo, se a vida fraterna é apenas cansaço, se falta o espanto, não é porque somos vítimas de alguém ou de alguma coisa, a verdadeira razão é porque os nossos braços já não apertam mais Jesus: então aqueles braços apertam o vazio”.
Por fim, o Pontífice repetiu uma recomendação que sempre acompanha seus discursos para aqueles que abraçaram a vida religiosa. Não se fechar na amargura. "É triste ver aqueles consagrados, aquelas consagradas, amargurando-se nas queixas por causa das coisas que não estão certas: o superior, a superiora, a comunidade". Ou "num rigor que nos torna inflexíveis, em atitudes de pretensa superioridade". Depois, há o perigo "de ferir a dignidade de algum irmão, de alguma irmã".
No final da Missa, iniciada apenas à luz de velas, o Cardeal João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para a Vida Consagrada, agradeceu ao Papa, dizendo-lhe "conte conosco" e convidou a todos a continuarem no caminho sinodal: "Ninguém se sinta excluído deste caminho ou pense 'não me diz respeito'".
A íntegra da homilia do Papa Francisco, em português, pode ser lida aqui.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O Papa: a rigidez é uma perversão. Não ao medo da mudança - Instituto Humanitas Unisinos - IHU