05 Janeiro 2022
José Oscar, economista colombiano, trabalha com modelos econométricos aptos a direcionar os investimentos em países latino-americanos: do combate à produção de cocaína à geração de energia solar nas favelas.
A reportagem é de Paola Del Vecchio, publicada por Avvenire, 04-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Quando li pela primeira vez a carta do papa à Economy of Francesco (EoF), me senti pessoalmente questionado. Dizia: vocês, economistas, são responsáveis pelas mudanças estruturais para garantir que ninguém seja deixado para trás. Para que todos aqueles que parecem condenados à exclusão sejam o motor para resolver os problemas e sair deles, num mundo onde as desigualdades continuam a aumentar”. José Oscar Henao Monje, economista colombiano com mestrado e tese de doutorado (em andamento) na Argentina, ingressou na comunidade latino-americana da EoF como pesquisador principal do Programa Internacional de Democracia, Sociedade e Novas Economias (Pidesone) da Universidade de Buenos Aires.
“Com a diretora Cristina Calvo - recorda - temos trabalhado nos últimos 7 anos no sentido de fortalecer as organizações da sociedade civil tanto como contributo para os objetivos de desenvolvimento sustentável como como instrumentos de tomada de decisões. Com a análise, por exemplo, dos retornos sociais dos investimentos, para garantir uma utilização eficiente dos escassos recursos, e resultados que gerem maiores benefícios para famílias, indivíduos ou comunidades em condições de vulnerabilidade”. A adesão à Economy of Francesco foi para José Oscar “uma oportunidade de realizar um sonho que cultivava desde criança”, que cresceu com as preocupações de quem 'sofreu muito' com a iniquidade. “Aproveitei a oportunidade- reflete - e sinto a corresponsabilidade de ajudar os outros”.
Pode fazer isso também graças à sua experiência académica na Pontifícia Universidade Católica da Argentina, “orientada - explica - para a utilização de métodos econométricos, instrumentos aplicados ao mercado de trabalho, às desigualdades, para contribuir para traçar políticas públicas, sociais e comunitárias que reduzam as disparidades existentes".
Atualmente participa de projetos da EoF na Colômbia e na Argentina e faz parte da Comissão Acadêmica da rede latino-americana, que organizou com as principais instituições universitárias, entre outras coisas, o primeiro congresso sobre desafios éticos para uma economia solidária de desenvolvimento social na região. Com a Caritas colombiana, o economista promoveu a implementação metodológica e territorial para a análise da governança e dos recursos comuns na região de Catatumbo, ao norte da Colômbia, na fronteira com a Venezuela.
“Uma área de conflito armado, tráficos ilícitos e produção de cocaína. O objetivo era ativar a participação cidadã, para que se tornasse promotora dos próprios projetos comunitários, entre os quais a abertura de estradas para a comercialização de seus produtos agrícolas ou melhoria dos mananciais”. No Brasil, José Oscar está envolvido com dois grupos de pesquisa. "Um envolve dois pesquisadores em São Paulo, empenhados em levar tecnologia de energia solar para favelas onde a eletricidade, fornecida pelo setor privado e inacessível pelos altos custos, é frequentemente roubada com ligações ilegais e efeitos adversos, muitas vezes mortais". No processo de formulação, explica, “participa um segundo grupo da aldeia EoF de energia e pobreza, com o economista argentino Cristian Varela, que visa replicar a experiência na região amazônica onde está localizado”.
Como responsável do Observatório de Desenvolvimento Sustentável do secretariado da Caritas para a América Latina e o Caribe, o economista também projetou "uma metodologia estatisticamente muito robusta para averiguar como as Caritas nacionais contribuem para o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável". Prevê finalizar um relatório intermediário em junho e o final em dezembro de 2022. “Estamos utilizando dois softwares de análise de dados muito poderosos - resume José Oscar -. Um permite gerar dashboards de resultados para conectá-los online, para que qualquer pessoa possa entrar na página web da Caritas e consultar como, por exemplo, aquela do Peru contribui para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ou como aquelas regionais avançam em relação aos objetivos relativos à pobreza ou à fome zero. E estamos em diálogo com a Caritas internacional para aplicar a metodologia em nível global”.
Na realidade, o jovem pai de um bebê de 9 meses confessa que a paixão por colocar seus talentos em prática na econometria vem do desejo de poder contar as coisas e projetar instrumentos para medi-las. “Durante a pandemia, escrevi um artigo que gostaria de publicar sobre uma metodologia que mede de maneira multidimensional as boas práticas inter-religiosas para o desenvolvimento sustentável”, declara ele. Para isso, ele desenhou um indicador multidimensional aplicado no momento "por 23 associações religiosas, entre as quais o Centro Ecumênico Regional de Aconselhamento e Serviços Creas na Argentina, a Igreja Metodista da Bolívia, a Caritas do Uruguai, o Movimento dos Focolares Suma Fraternidad na Argentina e o grupo do Brasil”.
Como se não bastasse, José Oscar está terminando sua tese de doutorado. O tema? O impacto do processo de paz das FARC sobre a pobreza multidimensional na Colômbia. “A minha hipótese - explica - é conseguir explicar aos que duvidam da paz que uma das principais variáveis para reduzir a pobreza rural é a desaceleração do conflito”.
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Impacto social “medido” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU