13 Dezembro 2021
Leonardo Boff completa 83 anos no dia 14 de dezembro, então parece ser um bom momento para refletir novamente sobre a vida e a obra do teólogo brasileiro.
O comentário é de Chris McDonnell, ex-diretor escolar da Inglaterra, em artigo publicado em La Croix International, 11-12-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele entrou na ordem franciscana em 1959 e foi ordenado em 1964. Durante os seis anos seguintes, fez seu doutorado em Teologia na Universidade de Munique, Alemanha. Foi um período que lançaria as bases daquela que veio a ser conhecida como “Teologia da Libertação”.
Boff e o padre peruano Gustavo Gutiérrez, assim como outros da América do Sul, desenvolveram uma teologia que buscava articular a sua indignação contra uma sociedade que rejeitava os pobres e os marginalizados.
Boff passou a ser visto como alguém que criticava a maneira como a autoridade era exercida na Igreja. Era inevitável que ele fosse submetido à censura do Vaticano.
Mas ele não foi o único a experimentar a censura durante o século XX.
Houve europeus que também foram contestados, como o jesuíta Pierre Teilhard de Chardin e os dominicanos Edward Schillebeeckx e Yves Congar. A Igreja acabaria reconhecendo o valor do seu ensino, mas isso ocorreria somente anos depois.
No caso de Boff, o teólogo brasileiro continuou ao longo dos anos ajudando as pessoas a buscarem e a encontrarem uma visão que una espiritualidade humana e justiça social.
Muitos milhares de pequenas “comunidades de base” foram formadas e buscam formas de estabelecer vínculos entre a nossa espiritualidade, a necessidade de justiça social e o cuidado com o ambiente.
Apesar das críticas que recebeu, Boff continuou expondo e vivendo a teologia da libertação, desafiando a Igreja e o Estado a pensarem de forma diferente.
Em uma entrevista de agosto de 2016, ele explicou que a Teologia da Libertação “não busca agir pelos pobres por meio do assistencialismo ou do paternalismo”.
“Em vez disso, ela busca agir com os pobres para aproveitar a sua sabedoria para mudar as suas vidas e seus meios de subsistência”, ressaltou.
Em um país como o Brasil, onde a minoria rica domina a maioria empobrecida, a voz e a presença de Boff continuam falando com e pelos pobres.
Ele foi acusado de ser comunista; ele não o foi e não o é. Lembremos das palavras de Dom Helder Câmara (falecido em 1999), o grande arcebispo de Olinda e Recife no Nordeste do Brasil.
“Quando dou comida aos pobres, eles me chamam de santo”, disse ele. “Quando pergunto por que os pobres não têm comida, eles me chamam de comunista.”
Boff levou Cristo ao povo cuja vida eucarística foi empobrecida pela falta de padres ordenados. Quando suas faculdades presbiterais foram restringidas, ele continuou celebrando a Eucaristia sempre que se encontrava com os necessitados.
Agora temos um bispo em Roma cuja formação cultural é sul-americana, um homem que está disposto a escutar as necessidades e as lágrimas dos pobres, um homem que está disposto a responder à voz deles.
É por isso que a assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia foi tão importante, e não apenas para o povo daquela região. Ela também deu o exemplo e enviou uma mensagem para toda a Igreja.
O Papa Francisco continuou a história da libertação entregando à Igreja a encíclica Laudato si’, que reconhece a urgência dos nossos tempos e a necessidade de cuidar da nossa casa comum.
“O cerne da teologia da libertação é o empoderamento dos pobres para acabar com a pobreza e alcançar a liberdade de viver uma vida boa”, escreveu Boff.
O papa reconheceu o trabalho do teólogo brasileiro no seu 80º aniversário.
Francisco enviou uma breve carta para agradecê-lo pelo seu apoio e enviar-lhe os melhores votos. Nessa mensagem, que Boff publicou alguns dias depois em seu blog, o papa saúda o teólogo como um irmão.
Boff reconhece que, assim como experimentou oposição em suas tentativas de viver o Evangelho ao lado dos pobres da América do Sul, Francisco também sofreu grande oposição por parte de elementos dentro da Cúria Romana.
Em uma carta que ele enviou a Francisco em novembro de 2015, Boff afirmou com franqueza as esperanças e as preocupações dos teólogos da libertação em relação ao papa argentino.
“Na América Latina, no Brasil, nas ilhas do Caribe e em outras partes do mundo, muitos de nós estamos preocupados com as atitudes fechadas e os ataques lançados contra o senhor por grupos conservadores, que são a minoria, mas são poderosos, vindos de dentro e fora da Igreja”, escreveu ele.
Sabemos que os profetas não são bem-vindos em sua pátria, mas continuam cantando a sua profecia apesar da hostilidade.
Leonardo Boff com certeza tem feito isso.
Por meio de seus muitos livros, ele nos ensinou o Evangelho. E, vivendo ao lado dos pobres, ele nos mostrou as consequências da nossa crença.
Feliz aniversário, Leonardo!
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Um tributo a Leonardo Boff pelo seu aniversário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU