02 Setembro 2021
Educador, jovem, camponês, gay. Lindolfo Kosmaski, morto no dia 1º de maio deste ano, teve seu corpo carbonizado. O crime, com indícios de homofobia, segue impune após quatro meses do ocorrido na cidade de São João do Triunfo, no estado do Paraná, onde residia.
A reportagem é de Wesley Lima, publicada por Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, 31-08-2021.
A acusação já realizou a denúncia e foi apresentada a defesa preliminar, mas tem várias questões em aberto. Micheli Toporowicz, advogada e assistente de acusação do caso, explica que o inquérito policial teve início no dia 01 de maio, dia em que foi encontrado o corpo.
Ato em protesto contra o assassinato do jovem camponês, em São João do Triunfo (PR) , no dia 8 de maio. Foto: Joka Madruga
Durante o inquérito houve a prisão de três suspeitos, que foram as últimas pessoas que tiveram contato com Lindolfo. Dessas prisões somente uma foi mantida. Micheli conta que “o crime foi muito bem premeditado e bem executado para esconder todos os vestígios de autoria”.
Hoje, o caso encontra-se ainda em fase processual inicial, ou seja, houve a conclusão do inquérito pela autoridade policial, foi encaminhado ao Ministério Público, que ofereceu denúncia no último dia 11, e que foi recebida pelo Magistrado no dia seguinte, ou seja, teve início a fase processual, mas sem solução.
Arte MST.
“Os próximos passos da assistência de acusação serão para que o mais breve possível esses acusados estejam sendo levados ao Tribunal do Júri, momento em que espera-se que a justiça seja aplicada de acordo com a gravidade e crueldade do cometimento deste homicídio”, pontua a advogada.
O assassinato do Lindolfo não é um caso isolado. Segundo levantamento do grupo Acontece Arte e Política LGBTI+ e Grupo Gay da Bahia, divulgado no dia 14 de maio, em 2020 houve o registro de 237 mortes violentas de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Foram 224 homicídios (94,5%) e 13 suicídios (5,5%), e aumento de travestis assassinadas. Ao todo, 161 travestis e mulheres transsexuais (70%), 51 gays (22%), 10 lésbicas (5%), 3 homens transsexuais (1%), 3 bissexuais (1%) e 2 homens heterossexuais confundidos com gays (0,4%).
Lindolfo tinha 25 anos, era estudante egresso da turma de Licenciatura em Educação do Campo da Escola Latina Americana de Agroecologia (ELAA), localizada no assentamento Contestado, no município da Lapa (PR). Participou de diversas atividades de formação do MST, como cursos e encontros do Coletivo LGBT Sem Terra e Jornadas de Agroecologia.
O jovem atuava como professor na rede estadual de ensino no Paraná, e na última eleição municipal, concorreu a vereador pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no município de São José do Triunfo. Na época do assassinato, estava dando sequência aos estudos no mestrado do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e em Matemática na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A morte de Lindolfo obteve repercussão nacional e internacional. Artistas e figuras públicas como a cantora e compositora Daniela Mercury, os deputados federais Talíria Petrone (PSOL), David Miranda (PSOL), Valmir Assunção (PT), João Daniel (PT), José Guimarães (PT) e muitos outros se manifestaram em repúdio ao ocorrido.
Vários movimentos e organizações populares no Brasil também denunciaram o assassinato do Lindolfo. Através da hashtag #JustiçaPorLindolfo, diversas declarações de solidariedade à família e amigos foram publicadas nas redes sociais e no dia 19 de maio, além de uma denúncia pública apresentada à Comissão de Direitos Humanos e Minoria da Câmara dos Deputados.
No Paraná, a Comunidade Emiliano Zapata inaugurou bosque em homenagem ao Lindolfo Kosmaski, em Ponta Grossa. Uma semana após o assassinato, um ato em protesto contra o assassinato do jovem camponês reuniu cerca 200 pessoas em São João do Triunfo, sul do Paraná, onde Lindolfo morava. Entre os participantes estavam os pais, irmãos e amigos do jovem, além de integrantes de diversas entidades e movimentos. Internacionalmente, o caso foi denunciado durante Audiência na Câmara Municipal de Paris, na França, no dia 18 de maio, e cartazes ocuparam as ruas de Nova Iorque, nos Estados Unidos, no dia 27 de junho, durante a Marcha de Libertação LGBTQIA+. Veículos de comunicação também falaram sobre o caso. Os portais Latin Times, Metro Weekly, Autres Bresils e Edge Media Network divulgaram o assassinato.
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Justiça por Lindolfo! Quatro meses de impunidade marcam assassinato do jovem camponês LGBT - Instituto Humanitas Unisinos - IHU