20 Julho 2021
"A floresta está se ressecando, o dossel é menos denso, há maior penetração de luz solar, quase não há musgo no tronco das árvores, etc… O micro clima é muito sensível e décimos de graus já fazem a diferença", escreve Bruno Versiani dos Anjos, mestre em Ecologia e analista ambiental do Ibama, em artigo publicado por EcoDebate, 19-07-2021.
Várias pessoas me colocam a eventual questão da inviabilidade econômica da pecuária na região de floresta amazônica. Primeira questão: se fosse inviável, por que está ocorrendo a ritmo tão desenfreado o desmatamento e porque há tanto pasto e gado bovino? Mas a que custo socioambiental e quais as consequências?
Façamos um histórico resumido da questão. Acredito no argumento do parágrafo acima em épocas pretéritas, ou seja, deveria ser, nas décadas de 60/70 inviável a pecuária e mesmo permanência de ranchos e fazendas , dada a altíssima umidade e calor, que levavam grande quantidade de doenças e pragas, sejam ao gado para lá levado, sejam às pessoas e seja mesmo às espécies vegetais cultivadas. Lemos sobre isso em material bibliográfico antigo: sobretudo os referentes à abertura da Transamazônica, em que o governo doava glebas, sendo que muitas eram simplesmente abandonadas. As condições climáticas eram terrivelmente adversas.
Contudo, em finais da década de 70, início da década de 80, essa realidade foi mudando. Iniciou-se o desbravamento / desmatamento das áreas de transição de biomas (Amazônia / Cerrado, por exemplo), em que as condições eram menos inóspitas. A expansão começou pela floresta maranhense, centro do Mato Grosso e sul/leste do Pará, onde as condições de clima não eram tão extremas.
Foram selecionando-se espécies de brachiara (capim muito resistente, mas pouco palatável aos herbívoros) e sub espécies de gado de origem indiana que se adaptaram paulatinamente ao clima: as variantes de zebu . Através de cruzamentos geraram, sobretudo, o atual “nelore”.
Devastadas imensas porções surgiu um efeito “feedback” positivo, ou seja, o desmatamento alterou o microclima – principalmente umidade e temperatura. Alterado o microclima, porções de floresta que eram anteriormente inóspitas à ocupação, pecuária e cultivo, se tornaram viáveis, fazendo com que o desmatamento adentrasse mais e mais.
Mais um detalhe que estimulava grandemente o desmatamento: a grilagem e invasão de terras públicas no Brasil é delito de baixíssima penalidade. O grande “motor” por trás do desmatamento é a voracidade em se grilar terras devolutas sem, praticamente, nenhuma penalidade.
O Clima da Amazônia, na minha opinião, infelizmente já está passando do ponto de “não retorno”. Fiz uma grande travessia, por volta de 2016, na FLONA Tapajós, e percebe-se que as grandes árvores já estão morrendo naturalmente. Muito triste. A floresta está se ressecando, o dossel é menos denso, há maior penetração de luz solar, quase não há musgo no tronco das árvores, etc… O micro clima é muito sensível e décimos de graus já fazem a diferença. O sub bosque e o solo estão ressecados.
Mais uma vez a humanidade irá corroer e matar gradativamente a imensa floresta tropical sul americana. A grotesca irresponsabilidade e imediatismo humano Já “deu cabo” da outrora grandiosa floresta indiana; a da África já está fragmentada e depauperada e a do sudeste asiático, onde viviam dezenas de sub espécies de tigres (grande parte extinta ou em vias) também está condenada (atualmente devido à produção em massa do óleo de palma).
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Histórico e consequências da pecuária na região de floresta amazônica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU