Indígenas nas cidades: memórias “esquecidas” e direitos violados

Foto: Wikimedia Commons

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

06 Julho 2021

 

Pouco se sabe sobre a realidade de indivíduos, famílias e comunidades indígenas que habitam ou transitam nas cidades, em geral, em todo o país. A questão dos indígenas em contextos urbanos é extremamente invisível e apagada perante a sociedade, porém, indígena é indígena em qualquer lugar, inclusive no meio urbano, tendo os mesmos direitos. Hoje, capitais e cidades em vários estados do país têm população indígena identificada, composta por várias etnias e histórias distintas, como é o caso da capital mineira, Belo Horizonte e região metropolitana, demandando urgentemente políticas públicas específicas, diferenciadas e informadas destinadas aos povos originários”, escreve Alenice Baeta, historiadora e arqueóloga, para os Cadernos IHU Ideias número 319.

Alenice chama a atenção para os fluxos migratórios da população indígena em direção aos grandes centros urbanos. Segundo ela, “no Brasil, a porcentagem de índios morando em centros urbanos é de 39%, de acordo com o Censo do IBGE de 2010, sendo que pelo menos 315 mil indígenas habitam áreas urbanas em todo o país. Todavia, estes dados, dez anos depois, já se encontram defasados. Os últimos dados censitários ainda revelam que metade dos indígenas registrados não teria nascido nas cidades, indicando a importância de compreender o fluxo migratório para as mesmas. A cidade de Belo Horizonte tem 3.477 indígenas, e na região metropolitana da Grande Belo Horizonte há 7.979 indígenas, de acordo com o censo (IBGE, 2010)”.

“Muitos são os motivos para o êxodo forçado de pessoas e famílias indígenas para as cidades, já sendo considerado um fenômeno mundial. Nesse sentido, as organizações indígenas buscam o reconhecimento a partir de características culturais próprias, afastando a imagem preconcebida do índio primitivo 'nu e na mata', que não pode interagir ou morar em cidades, sob a pena de deixar de 'ser índio'”, ressalta.

Alenice aponta para a importância de evocar, constantemente, a Constituição Cidadã e os demais direitos garantidores da vida dos povos originários. “ o Brasil tem responsabilidade e dever”, escreve ela, “de respeitar e promover os direitos dos povos indígenas tal como expressos na Constituição Brasileira de 1988, que, em seu artigo 231, reconhece aos indígenas, sem distinção de onde estejam, o direito à organização social, costumes, línguas, crenças, tradições e também à terra tradicionalmente ocupada; como também na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, de 2007, e na Convenção sobre os Povos Indígenas e Tribais, de 1989, e na Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Organização das Nações Unidas (ONU). Contudo, o direito constitucional referente às terras originais é frequentemente violado, e o governo tem sido cúmplice do latifúndio e do agronegócio que, com ganância sem fim, insiste em continuar invadindo os territórios indígenas”.

 

Imagem: Capa dos Cadernos IHU Ideias número 319, de Alenice Baeta.

 

“Nunca é tarde para chamar atenção sobre memórias destruídas, obliteradas e direitos violados. Um passado milenar que tentam escamotear e esmaecer de várias maneiras, negando o importante lastro e legado dos povos originários que percorreram e habitaram o(s) território(s) que hoje conhecemos como Região Metropolitana de Belo Horizonte e seus arredores. Mas também é tempo de chamar muita atenção a um possível futuro nas cidades, que, se viável, deverá fatalmente recuperar os ensinamentos e relações do bem viver comunitário dos povos tradicionais em geral, suas distintas exegeses, inserções, demandas, existências e territorialidades nas urbes”, conclui.

O texto completo pode ser acessado aqui.

 

Sobre a autora

 

Alenice Baeta. Historiadora e Arqueóloga. Pós-Doutorado pelo Departamento de Antropologia/Arqueologia-FAFICH/UFMG. Doutora pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São Paulo - USP. Mestre em Educação pela FAE/UFMG. Tem experiência na área de Patrimônio Cultural, Povos Tradicionais e Territorialidades. Membro do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva- Cedefes e do Movimento Serra Sempre Viva. Historiadora e Membro da ONG CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva).

 

Leia mais