11 Junho 2021
Os povos indígenas transmitem seus conhecimentos sobre plantas medicinais por via oral. Se suas línguas se extinguirem, valiosos conhecimentos médicos serão perdidos.
A reportagem é publicada por University of Zurich e reproduzida por EcoDebate, 09-06-2021. A tradução e edição são de Henrique Cortez.
Um estudo da Universidade de Zurique estima que 75% das aplicações de plantas medicinais do mundo são conhecidas apenas em um idioma.
A linguagem é uma das habilidades mais importantes de nossa espécie, pois nos permitiu ocupar quase todos os cantos do planeta. Entre outras coisas, a linguagem permite que as sociedades indígenas usem a biodiversidade que os cerca como uma “farmácia viva” e descreva as propriedades medicinais das plantas. Os lingüistas estimam que existam cerca de 7.400 línguas no mundo hoje.
A maioria desses idiomas, entretanto, não é registrada por escrito, e muitos idiomas não estão sendo passados para a próxima geração. Isso levou os lingüistas a estimar que 30% de todas as línguas desaparecerão até o final do século 21. Para as culturas indígenas, que em sua maioria transmitem o conhecimento oralmente, esse alto risco de extinção da linguagem também ameaça seu conhecimento sobre as plantas medicinais.
Pesquisadores da Universidade de Zurique já avaliaram o grau em que o conhecimento nativo de plantas medicinais está vinculado a línguas individuais. O pesquisador sênior Rodrigo Cámara-Leret e Jordi Bascompte, professor de ecologia, analisaram 3.597 espécies medicinais e 12.495 aplicações medicinais associadas a 236 línguas indígenas na América do Norte, noroeste da Amazônia e Nova Guiné. “Descobrimos que mais de 75 por cento de todos os serviços de plantas medicinais são linguisticamente únicos e, portanto, conhecidos apenas por um idioma”, ressalta Cámara-Leret.
Para quantificar quanto desse conhecimento linguisticamente único pode desaparecer com a extinção de línguas ou plantas, os pesquisadores consultaram o catálogo Glottolog de línguas do mundo e a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN para obter informações sobre a ameaça às línguas e às espécies de plantas medicinais, respectivamente. Eles descobriram que as línguas ameaçadas sustentam mais de 86% de todo o conhecimento único na América do Norte e na Amazônia, e 31% de todo o conhecimento único na Nova Guiné. Em contraste, menos de 5% das espécies de plantas medicinais estavam ameaçadas.
Os resultados deste estudo indicam que cada língua indígena fornece uma visão única sobre as aplicações medicinais associadas à biodiversidade. Infelizmente, o estudo sugere que a perda da linguagem será ainda mais crítica para a extinção do conhecimento medicinal do que a perda da biodiversidade. O estudo coincide com as Nações Unidas proclamando os próximos 10 anos como a Década Internacional das Línguas Indígenas para aumentar a consciência global sobre a situação crítica de muitas línguas indígenas. “Os próximos passos, em linha com a visão da ONU, exigirão a mobilização de recursos para a preservação, revitalização e promoção dessas línguas ameaçadas”, diz Bascompte. Além disso, o lançamento de esforços participativos em larga escala com base na comunidade será crucial para documentar o conhecimento medicinal em perigo antes que desapareça.
Rodrigo Cámara-Leret & Jordi Bascompte. Language extinction triggers the loss of unique medicinal knowledge. Proceedings of the National Academy of Sciences USA. June 8, 2021. DOI: Disponível aqui.
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A extinção de línguas indígenas provoca a perda do conhecimento medicinal único - Instituto Humanitas Unisinos - IHU