04 Junho 2021
“Não me surpreende que Bolsonaro falte com a verdade. O que me intriga é que o faça sem corar. O rubor é, nas palavras de Charles Darwin, “a mais peculiar e a mais humana das expressões”, à qual dedicou um capítulo inteiro em seu “A Expressão das Emoções no Homem e em Animais” – Helio Schwartsman, jornalista – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“Se eu coro quando cometo um “faux-pas”, estou dizendo que reconheço as regras sociais e mostro remorso se as violo. Estou, portanto, dizendo que sou uma pessoa confiável, não um sem-vergonha qualquer” – Helio Schwartsman, jornalista – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“Há pesquisas sugestivas de que psicopatas, que padecem de importantes déficits emocionais, até ruborizam, mas em condições muito diferentes das dos normotípicos. Pensando bem, faz sentido que Bolsonaro não tenha corado” – Helio Schwartsman, jornalista – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“O Exército não disfarça mais a decisão de servir aos propósitos políticos de Jair Bolsonaro. Com a decisão do comandante Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira de engavetar um processo contra o general Eduardo Pazuello, sem punição, os militares reconhecem que deixaram de ser uma instituição de Estado para trabalhar a favor do presidente” – Bruno Boghossian, jornalista – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“Trata-se de uma vitória para Bolsonaro, que trabalhou ativamente para evitar a punição e ainda premiou Pazuello com um cargo no Planalto. Com a decisão, o presidente faz uma demonstração de força para sua base radical, sedenta por sinais golpistas, e ainda estimula outros fardados a seguirem o exemplo do general” – Bruno Boghossian, jornalista – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“A Conmebol, dona do futebol na América do Sul, deve saber o que faz ao trazer a Copa América para o Brasil. Seus dirigentes leem jornais e não ignoram que somos o único país do mundo a combater a Covid 19 de forma patafísica. A patafísica, para quem nunca ouviu falar, é uma escola filosófica entre a física e a metafísica. Ou acima ou abaixo delas, dependendo de seu estudioso estar ou não plantando bananeira. Sua lógica é a do absurdo, sua língua oficial é o nonsense e ela se diz a ciência das soluções imaginárias” – Ruy Castro, jornalista – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“No Brasil, bem patafisicamente, o combate à Covid é a favor do vírus. Seu estrategista e líder, o dito Bolsonaro, usa sua condição de presidente da República para expor o máximo de brasileiros ao contágio, exortando-os a ir para as ruas sem máscara, aglomerando-se, arfando e cuspindo-se uns nos outros” – Ruy Castro, jornalista – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“E quem sairá vencedor de uma possível e, esta, sim, patafísica Copa das Cepas —um vibrante torneio paralelo à Copa América entre as nossas variantes e as trazidas pelos visitantes?” – Ruy Castro, jornalista – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“Não é possível que as pessoas não entendam que foi um ato político. O presidente tem todo direito, mas quem está na ativa não pode participar. Há um impedimento claro. Como ficaremos daqui para frente? (...) Os mais generosos podem dizer que há um impasse. Os mais críticos estão vendo que a situação chegou a um nível temerário. Eu me incluo no grupo dos mais críticos” – Gilberto Kassab, presidente do PSD – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“A inacreditável decisão do Exército de isentar Eduardo Pazuello de qualquer punição abre uma sinistra e inédita porteira institucional no Brasil. A partir de agora, qualquer oficial ou praça, ao menos da Força terrestre, se sentirá liberado para emprestar apoio a políticos. Instituição de Estado, o Exército agora permite o serviço a governos —ou à oposição a eles, embora isso não esteja em questão agora” – Igor Gielow, jornalista – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“A linha riscada no chão pelo antecessor do comandante, Edson Leal Pujol, que disse que a política era imiscível com o meio militar, foi apagada novamente. Considerando que Paulo Sérgio estava longe de ser considerado um oficial bolsonarista, a sinalização é péssima para a democracia” – Igor Gielow, jornalista – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“Militar insubordinado que saiu com o rabo entre as pernas do Exército em 1988, sob forte suspeita de liderar uma trama terrorista, Jair Bolsonaro foi tratado como pária pelos fardados estrelados até 2018. Agora, alcançou sua vingança. É psicanálise barata, mas parece que ele conseguiu enfim matar o pai, simbolicamente, e com a ajuda de um mero oficial de intendência. Shakespeare não faria melhor” – Igor Gielow, jornalista – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“Para além do número (nas manifestações), a disputa é por legitimidade. Quem fala em nome do “povo”? As marcas de motos e carros dos eventos pró-presidente atestam manifestantes de renda mais alta que a média dos brasileiros. Então o povo está do outro lado? O MST diagnosticou o contrário no sábado: “Foi baixa a participação da base da classe trabalhadora e dos camponeses”. Nenhum dos lados, até aqui, carregou a base da sociedade para a rua. Deste ângulo, o 29 de maio não começou outra história, agregou um capítulo. Desde os anos Dilma, enfrentam-se nas ruas duas coalizões de atores organizados, oriundos, em maioria, dos estratos médios e altos. Nos eventos antigoverno, há mais estudantes, profissionais da cultura e funcionários públicos, enquanto os bolsonaristas são sobretudo profissionais liberais e da segurança, empresários e “empreendedores”. A linha de renda mais baixa, que lota ônibus e hospital, comparece pouco em ambos os lados” – Angela Alonso, professora de sociologia da USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“Muitos apostam no poder mágico das manifestações sobre as instituições políticas. Mas até magia tem limites. A CPI sintoniza com os manifestantes de sábado na crítica, porém, com as urnas à vista, a nenhum partido interessa desalojar o morador do Planalto. Tirá-lo de cena agora beneficiaria apenas o vice, alçado imediatamente a candidato em 2022. Endossar manifestação antigoverno é uma coisa, ação de despejo são outros quinhentos. O coelho do impeachment tem tudo para ficar na cartola” – Angela Alonso, professora de sociologia da USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – Folha de S. Paulo, 04-06-2021.
“Qualquer guarda da esquina vai se investir de poderes para impor a sua própria lei, como já aconteceu esta semana em Goiás, quando um PM prendeu um professor que ousou chamar Bolsonaro de genocida. Bolsonaro poderá tranquilamente, daqui para a frente, continuar ameaçando os adversários e as instituições com o "meu Exército". O que faltará ainda para o presidente se tornar um ditador, com plenos poderes sobre a vida e a morte de 212 milhões de cidadãos? As milícias de Rio das Pedras estão comemorando. Com a absolvição sumária do general Pazuello, sem uma mísera advertência verbal que fosse, está oficialmente instaurada a anarquia militar, chancelada pelo comando do Exército. Com a absolvição sumária do general Pazuello, sem uma mísera advertência verbal que fosse, está oficialmente instaurada a anarquia militar, chancelada pelo comando do Exército” – Ricardo Kotscho, jornalista – Balaio do Kotscho – Portal Uol, 03-06-2021.
“O tenentismo venceu! No governo de Jair Bolsonaro, a hierarquia militar se transformou em mera obra de ficção. Um grande risco para a democracia” - Marco Aurélio de Carvalho, advogado e coordenador do grupo Prerrogativas – O Estado de S. Paulo, 04-06-2021.
“Ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Sérgio Etchegoyen chamou de “indefensável” a decisão do Exército de não punir Eduardo Pazuello: “Sou um soldado disciplinado, fui assim minha vida inteira. Não vou criticar uma decisão do comandante do Exército, até porque a julgo indefensável”, disse o general da reserva. Etchegoyen é conhecido por ser discreto e respeitado. Nos bastidores, militares de alta patente se disseram incrédulos, chocados, e decepcionados: Jair Bolsonaro conseguiu um Exército só “seu” – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 04-06-2021.
“Segundo generais da ativa e da reserva, a decisão corrói, mas não desestabiliza institucionalmente o Exército. O silêncio que se impõe agora é para pensar que tipo de reação pode ocorrer, sem desestabilizar o País. Porque, uma vez que isso ocorra, não há controle do processo” – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 04-06-2021.
“Além de criar um precedente perigoso, a decisão do comandante Paulo Sérgio Nogueira pode quebrar a posição monolítica do Exército. Antes, uma diretriz era dada e todos a obedeciam. E agora?” – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 04-06-2021.
“Reservadamente, ministros do STF lamentaram a decisão. Lembraram que uma reputação é difícil de ser construída e poucos erros podem derrubá-la” – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 04-06-2021.
“O Exército, infelizmente, estaria seguindo esse rumo, deixando-se dominar pelo presidente” – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 04-06-2021.
“O entorno de Pazuello comemorou a decisão e afirmou que ela já era esperada. A defesa foi “técnica”, disse um interlocutor do ex-ministro da Saúde, e o general conhece como ninguém o regimento” – Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo, 04-06-2021.
“Mas a vitória de Bolsonaro é uma vitória de Pirro. É que Bolsonaro venceu a batalha, mas arrisca perder seu Exército. Brigar por Pazuello, que hoje não é capaz de pôr em forma dois recrutas num quartel, pode não ter sido a decisão mais apropriada. O presidente escandaliza os soldados profissionais que se mantêm em silêncio, mas que se manifestam dentro da cadeia de comando. Na quarta-feira, 2, um oficial general ouvido pelo Estadão disse que quem conhece a história não repete o erro. Referia-se ao presidente João Goulart, que flertou com a anarquia militar. As ameaças a Bolsonaro, por enquanto, são veladas. Mas ele está mais uma vez afrontando o estabelecimento militar. Da última vez que o fez, há 30 anos, acabou defenestrado” – Marcelo Godoy, jornalista – O Estado de S. Paulo, 04-06-2021.
“Até março, o ministro Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e o general Leal Pujol afirmavam que as Forças Armadas eram instituições de Estado. No primeiro grande teste, seu substituto na Pasta, Walter Braga Netto, e Paulo Sérgio falharam para demonstrar essa verdade. O tenente-brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, ex-presidente do Superior Tribunal Militar, disse que Pazuello cometera transgressão disciplinar. “Se aceitar isso, acaba a disciplina nas Forças Armadas.” Sem a punição, como o Exército pode punir o sargento Luan Ferreira de Freitas Rocha, que participou de live do deputado Major Vítor Hugo (PSL-GO), fez reclamações salariais e conclamou os camaradas a participar do movimento? Quando o Duque d’Enghien foi morto a mando de Napoleão Bonaparte, um de seus ministros, vendo que a ação ia pôr contra o imperador as monarquias europeias, disse: “É pior do que um crime; é um erro”. Duzentos anos depois, a frase se aplica à decisão de absolver Pazuello” – Marcelo Godoy, jornalista – O Estado de S. Paulo, 04-06-2021.