24 Mai 2021
Cem policiais invadiram o seminário católico de Shaheqiao, na província chinesa de Hebei. Eles chegaram na tarde de quinta-feira e prenderam sete sacerdotes e dez seminaristas, alguém deve ter conseguido escapar porque os agentes voltaram na sexta-feira para vasculhar os arredores, casa por casa. AsiaNews, a revista online do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras, soube que a polícia também foi buscar monsenhor Joseph Zhang Weizhu, bispo da Prefeitura Apostólica de Xinxiang, da qual dependia o instituto. O seminário ficava em uma antiga fábrica cedida por um fiel da região, que fica a cerca de 170 quilômetros ao sul de Pequim. A proximidade com a capital torna muito improvável que as autoridades centrais não tenham sido informadas da ação e que tenha sido uma iniciativa autônoma das autoridades locais, como havia sido sugerido no passado diante de tais ações intimidatórias.
A reportagem é de Guido Santevecchi, publicada por Corriere della Sera, 23-05-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Segundo informações do AsiaNews, com o golpe de Shaheqiao foi preso quase todo o clero da Prefeitura, que tem jurisdição sobre 100.000 fiéis, (em toda a República Popular da China, os católicos seriam cerca de 14 milhões, incluindo aqueles que praticam sob a égide da chamada "Igreja Patriótica" alinhada com Pequim). A Prefeitura Apostólica de Xinxiang não é reconhecida pelo governo chinês: isso significa que todas as suas atividades podem ser consideradas "ilegais e criminosas". No final de abril, a Santa Sé deixou filtrar ao Corriere della Sera sua decepção com a repressão em curso. Em 2018, o Vaticano e Pequim assinaram um acordo provisório sobre a nomeação de bispos, renovando-o no outono de 2020. Os detalhes são secretos, a pedido chinês: pelo que se entende, dentro do Partido-Estado existem forças que se opõem a um abrandamento em relação à religião (não comunista). Xi Jinping deve estar indeciso entre a oportunidade de poder mostrar ao mundo um enorme sucesso político-diplomático e o medo de dar legitimidade a uma fé que ainda considera estranha à China e capaz de constituir um contrapoder inspirado em valores éticos não comunistas. Assume-se que no acordo a cúpula da Igreja Católica tivesse visto uma garantia de trégua enquanto no aguardo novos desenvolvimentos. O compromisso sobre as nomeações evitou, entretanto, o risco de um cisma causado pela nomeação de bispos "patrióticos" sem a investidura do Papa.
Mas em vez de uma distensão, seguiu-se uma cadeia de repressão: alguns orfanatos dirigidos por freiras foram fechados; os pais foram proibidos de levar seus filhos à missa; câmeras de vigilância apareceram na entrada dos locais de culto; as prisões de bispos "clandestinos" continuaram (aqueles que não concordaram em ser "endossados" pelo Partido). O próprio Monsenhor Joseph Zhang Weizhu, 63, ordenado bispo de Xinxiang em 1991, foi detido várias vezes. "Devemos ter muita paciência com os chineses", disse uma fonte do Vaticano a Massimo Franco no Corriere della Sera em abril: mas o sinal informal dirigido a Pequim era “o acordo foi sistematicamente desatendido”. No entanto, a Santa Sé mostrou grande cautela, mesmo diante da virada policial imposta em Hong Kong. Ele esperou dois anos antes de escolher o novo bispo do território, após a morte de seu antecessor em 2019. Em 17 de maio, foi anunciado que a diocese será dirigida por Stephen ChowSau-yan, um jesuíta nascido na cidade em 1959, quando Hong Kong ainda era uma colônia britânica. Monsenhor Chow é considerado um intelectual moderado, equidistante entre frente democrática e governo.
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O arrastão de Pequim no seminário católico: preso um bispo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU