11 Mai 2021
"Não fazemos apenas coisas sintéticas; a vida também parece ter se tornado algo à disposição da técnica e, com esta, realizável de forma sintética e sinteticamente moldável para obter as propriedades ou as quantidades desejadas". A opinião é de Paolo Benanti, teólogo e frei franciscano da Terceira Ordem Regular, professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, e acadêmico da Pontifícia Academia para a Vida.
O artigo foi publicado em seu blog pessoal, 10-05-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Talvez o aspartame seja o elemento sintético que mais bem representa o processo histórico-tecnológico do sintético. O aspartame é o alimento sintético necessário para um Ocidente que fez da superprodução e do hiperconsumo a sua figura distintiva desde o pós-guerra. Só o aspartame pode permitir que continuemos saboreando o doce que satisfaz a nossa oralidade e, ao mesmo tempo, exclui o “excesso” ligado à assimilação de calorias que o açúcar tradicional traz consigo.
Em outras palavras, o Ocidente começou a consumir aspartame para poder continuar consumindo quantidades cada vez maiores de alimentos que, pouco a pouco, se tornaram um produto industrial e sintético.
Este processo de síntese vive agora uma etapa posterior e talvez definitiva: a síntese alcança a vida.
No dia 5 de agosto de 2013, mais de 200 jornalistas lotaram o Riverside Studios, em Londres. A multidão, semelhante à que se reúne para a apresentação dos smartphones ou computadores mais recentes das principais marcas internacionais, não estava à espera de um conglomerado prodigioso de silício e vidro, mas sim de um sanduíche: um hambúrguer, para ser mais preciso, não menos surpreendente do ponto de vista tecnológico.
Durante a apresentação à imprensa, os dois degustadores contaram que, apesar de ser um pouco menos saboroso do que um hambúrguer tradicional – algo, aliás, incidental e superável – o produto artificial era totalmente igual aos hambúrgueres tradicionais.
A imprensa respondeu dando uma enorme ênfase no fato e cunhou uma série de epítetos para esse novo hambúrguer: de proveta, de laboratório, cultivado, in vitro, prova de princípio, sem crueldade e até mesmo o fantasioso e evocativo Frankenburger.
Com o desenvolvimento das carnes sintéticas, encontramo-nos no limiar da nossa contemporaneidade: a realidade sintética agora se mostra em toda a sua difusa natureza problemática. Não fazemos apenas coisas sintéticas; a vida também parece ter se tornado algo à disposição da técnica e, com esta, realizável de forma sintética e sinteticamente moldável para obter as propriedades ou as quantidades desejadas.
A última fronteira do sintético é nossa própria constituição humana. Em uma próxima ocasião, tentaremos aprofundar justamente esta última fronteira da realidade sintética: realizar o ser humano sintético.
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Síntese global. Artigo de Paolo Benanti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU