04 Mai 2021
Filho de vulcano na universidade
"O desmatamento na Amazônia vem provocando um fenômeno evolutivo que não deixa dúvidas sobre a ação nociva do homem sobre o ecossistema: as borboletas e mariposas estão perdendo a cor. Ou melhor, espécies com cores exuberantes, que se camuflam mais facilmente na mata, estão sendo substituídas por outras de asas pardas e cinzentas, as cores deixadas para trás pelas queimadas e motosserras. Cientistas analisaram a distribuição de mais de 60 espécies e confirmaram a mudança. (Globo)"
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (@apiboficial) irá protocolar, por meio de três advogados indígenas, um pedido de habeas corpus para trancar o inquérito contra a liderança Sônia Guajajara (@guajajarasonia) na Vara Federal Criminal do Distrito Federal.
Na última semana a líder indígena recebeu uma intimação sob a acusação de ela e a Apib terem difamado o governo federal com a websérie Maracá. O pedido partiu da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Segundo a argumentação jurídica apresentada há comprovações da ineficiência do governo Bolsonaro ao criar medidas de proteção aos povos indígenas durante a pandemia do novo coronavírus, fato que é corroborado pelo STF que acatou em 2020 um pedido da APIB para a criação de um plano emergencial de atendimento aos povos, mas o governo não se moveu. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso já rejeitou por 4 vezes as propostas apresentadas pela união e exige que a mesma esclareça as razões do descumprimento da decisão dada por ele, em julho de 2020.
"Não resta dúvida de que existe farta quantidade de documentos técnicos que evidenciam a ineficiência por parte do Governo Federal em combater a pandemia nos territórios indígenas. Diante de tal omissão, a Articulação dos Povos Indígenas iniciou a campanha emergência indígena, a fim de suprir a inércia do governo federal", argumenta a entidade para justificar a campanha da qual a Funai se queixa.
#somostodossoniaguajajara
Trecho da fala de Paul Robeson aos policiais disfarçados de parlamentares no Comitê de Atividades anti americanas, ou o macartismo em marcha histérica. Vale a pena! RR
"Porque meu pai foi escravo e meu povo morreu para construir esta terra, eu estou aqui e tenho uma parte disso, como vocês. E ninguém de mente fascista vai de desviar disso. Está claro? Sou pela paz com a União Soviética e sou pela paz com a China, e não sou pela paz ou amizade com o fascista Franco e não sou pela paz com os nazi fascistas alemães. Sou pela paz com as pessoas decentes".
Isto si que é para reflexionar.
— com Sly Silvestre Eliyahu
O Conselho Indígena de Roraima (CIR) repudia mais uma tentativa do Governo Federal de nos calar. Toda força a nossa liderança Sônia Guajajara. Sônia representa a nossa voz e a nossa luta.
“Eles não nos Calarão.”
Um livro eletrizante, agora também em e-book.
A história dos cavaleiros templários e do templo
Charles G. Addison
Tradução de Vera Ribeiro
365 páginas -- de R$ 84,00 por R$ 50,40 no site da editora.
Em 1118, doze anos depois da Primeira Cruzada, um grupo de nove cavaleiros obteve permissão do rei cristão Balduíno II para se estabelecer no antigo Templo de Salomão, em Jerusalém, no lugar onde hoje existe a mesquita de Al-Aqsa. Pretendiam criar um contingente militar permanente para proteger os peregrinos que se dirigiam à Terra Santa.
Dez anos depois o papa Honório II formalizou a existência da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, formada por monges combatentes que faziam voto de pobreza e castidade. Subordinados diretamente aos papas, independentes de qualquer poder secular ou eclesiástico, eles logo adquiriram grande reputação como principal força militar cristã na linha de frente contra os muçulmanos.
O manto branco que usavam, com uma cruz vermelha no lado esquerdo do peito, se tornou famoso em toda a Cristandade e respeitado nos campos de batalha. "Um cavaleiro Templário", dizia São Bernardo de Claraval, "é destemido e está seguro por todos os lados. Sua alma está protegida pela armadura da fé, assim como seu corpo está protegido pela armadura de aço. Está, pois, duplamente armado. Não precisa temer nem demônios nem homens."
Durante os 180 anos em que duraram as Cruzadas, os Templários acumularam enorme poder e fortuna em castelos, terras, imóveis, navios e tesouros, com os quais criaram o primeiro grande sistema bancário europeu, tornando-se credores de nobres e reis. Porém, depois que a Terra Santa foi reconquistada pelos muçulmanos, em 1291, o apoio à Ordem diminuiu, até que Filipe IV, rei da França, obteve autorização do papa Clemente V para lançar uma implacável perseguição contra ela sob a implausível acusação de praticar cultos demoníacos.
Prisões, torturas e execuções públicas se sucederam. Em 18 de março de 1314, Jacques de Molay, o último grão-mestre, foi queimado vivo em Paris, lançando desafios e imprecações contra o rei e o papa.
Os documentos originais dos julgamentos nunca foram divulgados. A grande frota templária desapareceu sem ser capturada. E o arquivo central da Ordem foi destruído em 1571 pelos otomanos. O fascínio em torno dos Templários subsistiu na forma de lendas e especulações, com poucas fontes confiáveis.
Em 1842, o advogado e historiador inglês Charles G. Addison publicou, finalmente, o resultado de suas extensas pesquisas, que usaram fontes hoje indisponíveis. É o livro que o leitor tem em mãos. É uma história completa da Ordem, desde sua criação até a recuperação do Templo de Londres, que ainda hoje está de pé. Uma história real, feita de fé, proezas militares, conspirações, traições e grande emoção.
Via Adhirley Delfini.
Acabei de receber um presente que me foi dado pelo amigo Cesar Benjamin; um presente que nunca poderei retribuir à altura: o monumental "Dicionário de Biografias Científicas".
Originalmente publicada pelo American Council of Learned Societies, dos Estados Unidos, esta beleza em três volumes de 2.693 páginas, em um acabamento de primeira, cobre a vida e a produção dos principais cientistas, filósofos e pensadores que revolucionaram a forma de concebermos o mundo, o universo e a nossa própria existência.
Desde a mais remota antiguidade até nossos dias, as principais ideias da Física, Biologia, Matemática, Filosofia, Antropologia, Química, Medicina, Economia, Astronomia, Psicologia nos são apresentadas de forma clara, didática e objetiva em textos que foram escritos de uma forma que podem ser desfrutados por leitores de diferentes níveis culturais; desde o aluno que está terminando um ensino médio de qualidade até o doutorando, passando pelo estudante de graduação.
É simplesmente espetacular.
Deixo o link da editora para aqueles que queiram obter mais informações sobre essa maravilha.
Em 23 de abril de 2019 (há dois anos), Paulo Guedes prometia enfaticamente, como é do seu estilo, que o preço do gás cairia pela metade... em dois anos.
Não sei se o preço foi multiplicado por três ou por quatro nesse período. O ministro continua fazendo promessas enfáticas.
O gás de zoinha pela metade do preço daqui dois anos:
Isso foi o que disse a poucas horas deste dia o Ministro da Economia PAULO GUEDES durante um discurso para 4000 prefeitos em Brasília, e a prova disso está neste video que estou postando ilustrando este post. Enfim, isso é uma PROMESSA.
Resta agora todos nós FICARMOS DE OLHO pra saber se vai acontecer mesmo. Só vou festejar quando eu vir tudo CONCRETIZADO.
Daqui a 2 anos nós todos vamos saber.
EU TO DE OLHO!!!
Artigo do sempre lúcido Marcelo Godoy. Copio para os não assinantes. RR
Enquanto bolsonaristas pregam golpe, França anuncia punição a generais extremistas
Marcelo Godoy, O Estado de S. Paulo 03 de maio de 2021
Caro leitor,
É inglória a tarefa de tentar um golpe de Estado sem dispor de tropas. Um grupo de 20 generais franceses da reserva divulgou no dia 21 de abril um manifesto assinado por 1.500 militares – 18 dos quais da ativa –, ameaçando o governo de Emmanuel Macron. Acusam o centrista de ser leniente com a criminalidade e com os imigrantes de origem muçulmana. Próximos à extremista de direita Marine Le Pen, o grupo afirmou que, se nada fosse feito pelo governo, a "frouxidão se espalharia pela sociedade, provocando uma explosão e a intervenção de nossos camaradas em uma missão perigosa de proteção dos nossos valores civilizacionais".
Bolsonaro e os militares
Os generais extremistas concluíram: "Acreditamos que não é mais tempo de se tergiversar, se não, amanhã, a guerra civil porá um termo a esse caos crescente, e os mortos, pelos quais os senhores serão responsáveis, se contarão aos milhares”. Tinham caneta e papel, mas nenhum homem armado para cumprir a ameaça. No Brasil, um grupo ultrabolsonarista encastelado no Clube Militar divulgou um texto apócrifo sobre a iniciativa dos franceses, liderada pelos generais de exército Christian Piquemal e Gilles Barrie. Dias depois, o presidente do Clube resolveu emular os colegas europeus.
O general Eduardo José Barbosa publicou um texto com críticas e ameaças aos Poderes Legislativo e Judiciário. Como a extrema-direita está no poder no Brasil, seus radicais não precisam ameaçar derrubar o presidente; eles dirigem seu ódio a quem lhes mostra os limites constitucionais, como mostrou o editorial do Estadão Ameaças e Arreganhos. Diz o chefe do clube que, se Jair Bolsonaro fechar os demais Poderes, estará cumprindo a Constituição "para restabelecer a ordem". Devia saber que, neste País, "não é mais de bom tom" dar à Constituição o mesmo valor das leis na Uganda de Idi Amin Dada.
Escreveu o general: "Que as algemas voltem a ser utilizadas, mas não nos trabalhadores que querem ganhar o sustento dos seus lares, e sim nos verdadeiros criminosos que estão a serviço do 'Poder das Trevas'." Para o general, as trevas estão por trás da CPI da Covid. Ele comparou os integrantes da comissão aos traficantes Fernandinho Beira-Mar e Marcola. Sobre os ministros do Supremo Tribunal Federal, afirmou: "Se não conseguem inocentar o bandido de estimação, basta encontrar subterfúgios para anular processos". Seu artigo tem o título O Poder das Trevas no Brasil. Ele não traz uma palavra sobre o Centrão ou sobre Flávio Bolsonaro...
Quando a República nasceu, Antonio Conselheiro costumava predicar, segundo Euclides da Cunha, por largo tempo, "olhos em terra, sem encarar a multidão abatida sob a algaravia, que derivava demoradamente, ao arrepio do bom senso, em melopeia fatigante...Imagine-se um bufão arrebatado numa visão do Apocalipse..." Seus seguidores tinham-no como um profeta, um emissário das alturas, que apontava aos sertanejos os pecadores e o caminho da salvação.
Mais de cem anos depois, o general Eduardo escreveu: "'O Brasil é a Pátria do Evangelho! Natural, portanto, que o poder das trevas queira destruir nossa Nação'." E explicou: "Evidente que, embora muitos acreditem literalmente nesta citação, ela abre esse nosso pensamento tão somente para sintetizar o momento que atravessa nosso País, afinal, como muitos dizem, bastou a eleição de um Presidente que acredita em Deus para que todo o inferno se levantasse contra ele." É assim que o general aponta à Nação quem são os pecadores e onde está a salvação.
Dias antes da publicação de seu artigo, o site do Ministério da Defesa registrava que o ministro Walter Braga Netto havia mantido dois encontros – na sexta-feira, dia 23 e no domingo, dia 25 – com integrantes da reserva, no Rio. O ministro não esclareceu se ele se encontrou com o general Eduardo ou o que tratou com os integrantes da reserva. Eduardo era um jovem capitão quando o tenente-coronel Cyro Leonardo de Albuquerque, então comandante do 7.º Grupo de Artilharia de Campanha, em Olinda, mandou ler no quartel a nota do ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, sobre o comportamento desonroso do então capitão Bolsonaro. Eduardo conhece o passado do seu colega de turma, que deixou a caserna para se tornar um político.
Trinta anos depois, as manifestações de militares da reserva trazem à memória os episódios de indisciplina que marcaram os quartéis na maior parte da República, às custas da profissionalização do Exército, solapando a democracia e o desenvolvimento das instituições. Ao analisar a obra do cientista político Oliveiros S. Ferreira, Vida e Morte do Partido Fardado, seu colega Eliezer Rizzo de Oliveira lembrou que a ação do partido fardado foi facilitada pela impunidade dos militares que se levantaram contra a ordem constitucional. "Tira-se daqui uma importante lição política: aplicação das normas republicanas confronta o partido fardado, ao passo que a impunidade reforça a autonomia militar."
Eis aqui a diferença entre o caso brasileiro e o caso francês. François Lecointre é o chefe do Estado-Maior daquele país. No mesmo dia em que o general Eduardo pregava o golpe no Brasil, Lecointre anunciou que os 18 militares da ativa que assinaram o documento ameaçando Macron serão submetidos a conselho militar. Além, disso, afirmou que os que ainda estivessem na reserva (deuxième section) seriam reformados imediatamente. "Terminado os conselhos de justificação, será o presidente da República que assinará os decretos de reforma", revelou ao jornal Le Parisien.
"A todos, em particular ao general (Christian) Piquemal que já foi reformado (após ter se envolvido em manifestações contra imigrantes em 2016), eu nego o direito de tomar posições políticas usando para isso a sua graduação." No Brasil, norma idêntica do Estatuto dos Militares é letra morta. O chefe do estado-maior completou que, para ele, a aposentadoria de ofício dos envolvidos já estava decidida. A França de Lecointre não é a Argélia de Raoul Salan, nem os signatários da carta dispunham de tropas, como seus colegas que tentaram o putsch em 1961, contra o presidente De Gaulle.
Salan e seus colegas diziam que De Gaulle traía os franceses nascidos na África, ao conceder a independência à colônia. Mas quando a Pátria estava diante de um perigo de morte, em 1940, alguns dos que tentaram falar grosso com De Gaulle em 1961 foram trabalhar sob as ordens de Vichy. As ligações entre militares e a extrema-direita são um fenômeno internacional. Na Alemanha, ele tem as cores do neonazismo; na Espanha, os candidatos a Tejero Molina são os franquistas de sempre e, nos Estados Unidos, vestem o boné de Donald Trump. O radicalismo os torna traidores de suas Nações, da obediência que devem ao Poder Civil e às Constituições.
A radicalização do Clube Militar acontece ao mesmo tempo de outro fato em sentido contrário: o silenciamento de oficiais da ativa que usavam o Twitter para publicar propaganda eleitoral de Bolsonaro, até nos dias que antecederam o pleito de 2018. Uma parte dos 82 oficiais flagrados fazendo 3,4 mil postagens políticas entre 2018 e 2020 excluiu seus tuítes partidários ou fechou o acesso de suas contas ao público. O fenômeno pode indicar o desgaste do governo Bolsonaro na caserna, já que 99% das manifestações eram de apoio ao presidente. Ou, como observara Oliveiros S. Ferreira, o estabelecimento militar parece se impor uma vez mais ao partido fardado.
Marcelo Godoy
Repórter especial
Jornalista formado em 1991, está no Estadão desde 1998. As relações entre o poder Civil e o poder Militar estão na ordem do dia desse repórter, desde que escreveu o livro A Casa da Vovó, prêmios Jabuti (2015) e Sérgio Buarque de Holanda, da Biblioteca Nacional (2015)
Via Rosane Pavam
Em 1976, Shavarsh Karapetyan, um nadador olímpico armênio, tinha acabado de completar uma corrida de 12 km com o irmão quando viram um ônibus de carrinho a cair num reservatório de barragens. O ônibus do carrinho afundou a 80 pés da costa a uma profundidade de 33 pés. Shavarsh imediatamente mergulhou e nadou até ao autocarro e apesar de não ter visibilidade, conseguiu chutar na janela de trás, ferindo-se no processo. Ele seguiu para salvar vinte pessoas presas no ônibus, uma de cada vez, por horas.
O efeito combinado da água fria e as suas perguntas de partir a janela de vidro levaram à sua internação por 45 dias após o incidente, durante o qual desenvolveu pneumonia, sepse e danos pulmonares que acabaram com a sua carreira atlética.
Durante anos, sua história não era conhecida, até que um artigo sobre o evento o identificou pelo nome em 1982. Em 1985, ele passou por um prédio em chamas e correu para dentro, novamente salvando pessoas presas dentro de cada vez até Ele caiu. Ele foi novamente hospitalizado com queimaduras graves e danos nos pulmões.
Ele ainda está a dar pontapés às 66. Só uma pessoa incrível que aprendi hoje e pensei em partilhar.
Por um Brasil cheio de filhos de porteiros formados e estudados.
Via Paulo Artaxo
Ciência brasileira na matéria de capa da Science desta semana: Trabalho da Fiocruz Amazônia Biobank. Pesquisadores em Manaus estão coletando e analisando novos vírus na floresta amazônia. Por exemplo 12% de 1400 espécies de morcegos estão na Amazônia. Eles são vetores de vírus que continuando o desmatamento, vão entrar em contato com humanos. Amostras de sangue de muitas espécies de macacos também estão sendo analisados sistematicamente.
FIOCRUZ é uma instituição chave para o futuro do Brasil e do planeta. Seu orçamento está sendo sistematicamente reduzido neste governo, assim como todos os órgãos de pesquisa do governo federal. Isso vai contra os interesses brasileiros. Vamos lutar pela Ciência brasileira cada vez mais.
Excelente matéria de capa da Science desta semana.
Um dos nossos grandes intelectuais. Pena
Católica praticante, a mulher baixou a cabeça e dirigiu algumas palavras à terra. Falou da nossa fragilidade diante do universo, a velocidade do tempo, do valor da amizade, do quanto necessitamos de afeto e de quanto carinho ela recebeu de seu amigo peludo. Lá embaixo, o ruído surdo da cidade. Uma ou outra buzina chegava viva até o alto do morro Apamecor onde se desenrolava o ato final de despedida ao pequeno Ted. Sol de fim de abril, tarde clara, uma brisa tépida tremulava o capim alto, as macelas cheirosas. Depois desse momento, em que me mantive em silêncio respeitoso, deixei a mulher a sós com sua dor e uma coleirinha dourada na mão. Tratei de dar um jeito em tudo. Limpei o resto de cascalho grudado na pá, o pequeno facão, joguei no porta-malas do táxi. A toalha, a caixa de papelão em que o Ted fora transportado até ali. Deixei o local limpo, como foi encontrado. Apenas a elevação de terra onde agora jazia Ted, o diminuto yorkshire de estimação da minha cliente. Porque às vezes ser taxista vai além de simplesmente transportar pessoas de um ponto ao outro. Encontrar um local isolado, mesmo dentro da cidade, arrumar uma pá, uma caixa, lidar com o corpo inerte de um cachorro não é uma coisa simples. Alguém com o mínimo de distanciamento processa melhor a situação. Cavar um cova, mesmo que rasa, no cascalho duro, sob um sol a pino. Coisas que uma mulher de mais idade não conseguiria, mesmo que tivesse condições físicas e psicológicas para tanto, o que, no caso, minha passageira não tinha. Fiquei feliz em poder proporcionar um sepultamento minimamente digno ao pequeno Ted, em ajudar minha antiga cliente. Não me custou nada.
Taxímetro no livre, vamo pra próxima.
Morro do Apamecor, sede campestre do colégio Rosário me falaram quando mudei aqui perto faz mais de 20 anos. Enchi o carro de crianças, meus filhos e amigos e tive a ilusão de poder fazer um picnic lá. Não fosse minha ousadia teria sido assaltada e sabe-se lá o quê. Deixei os bandidos com arma na mão. Engatei a primeira, fingi que ia parar e acelerei fundo. Arrisquei muito. Hoje olho o morro de longe, realmente muito lindo.
Em tempos de perdas, solidariedade é muita riqueza.
Parabéns, seu Mauro, pela coragem e solidariedade.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Breves do Facebook - Instituto Humanitas Unisinos - IHU