29 Abril 2021
O ex-bispo de Pemba, em Moçambique, admitiu que as ameaças de morte que recebeu e que obrigaram o papa a transferi-lo de volta para o Brasil, seu país natal, vieram do governo, e não de grupos extremistas que semearam o terror na região nos últimos três anos.
A reportagem é de Filipe Avillez, publicada por The Tablet, 28-04-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em uma entrevista à The Tablet, o bispo Luiz Fernando Lisboa confirmou que havia sido transferido devido às ameaças de morte e deu a entender que algumas delas vieram do governo, embora ele tenha sido vago sobre o assunto.
Dom Luiz Fernando Lisboa (Foto: Vatican Media)
Agora, porém, ele disse ao jornal italiano La Reppublica que o governo queria silenciar as suas críticas abertas ao modo como a crise em Cabo Delgado, Pemba, foi enfrentada.
“Foi o governo. Primeiro, recebi ameaças de expulsão, depois de apreensão dos meus documentos e, por fim, ameaças de morte.”
Questionado sobre a razão pela qual o governo queria mantê-lo calado, ele respondeu: “Maputo negou a guerra desde o início. Quando o conflito e o perigo ficaram evidentes, ele proibiu que se falasse sobre o assunto. Impediu que os jornalistas fizessem o seu trabalho”.
“Um repórter está desaparecido desde abril do ano passado. Ele trabalhava para uma rádio comunitária e cobria a guerra. Em sua última mensagem, ele disse que havia sido cercado pela polícia. A Igreja era a única instituição que falava sobre a situação. E isso não agradava ao governo.”
“Acima de tudo, ele não tolerava que saíssem notícias sobre o Estado. Por orgulho nacional, negócios. Quando, há um ano, a Conferência Episcopal condenou em um documento o que estava acontecendo, as autoridades reagiram mal, começando a sujar o meu nome.”
Antes da sua transferência de volta ao Brasil, para a Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, o bispo visitou o Papa Francisco, que lhe ofereceu apoio. “Ele evidentemente tinha mais informações do que eu. Ele sabia que eu estava correndo riscos e me ofereceu a transferência para o Brasil.”
Uma insurgência islamista causou milhares de mortes e dezenas de milhares de refugiados em Cabo Delgado, ao norte de Moçambique. Depois de três anos, o problema começou a chamar mais atenção no cenário internacional, e muitos países ofereceram apoio e ajuda para combater os terroristas.
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Moçambique: “O governo ameaçou me matar”, diz bispo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU