15 Abril 2021
Ainda que não sejam números inesperados, os dados, divulgados há poucas semanas, a partir do Censo 2020, realizado no México, tiveram o efeito de uma ducha fria para os católicos daquele país. Em termos percentuais, de fato, em dez anos os católicos perderam 5 pontos, em relação a 2010, passando de 82,7% para 77,7%. Quem se beneficiou não foram somente (e nem tanto) os neoevangélicos e pentecostais (que passaram de 7,5 a 11,2%), mas também (e sobretudo) aqueles que se declaram "sem religião" (de 4,7% a 8,1%). Em termos absolutos, os católicos são 97 milhões e 864.218, com um aumento de cerca de 14 milhões, devido ao forte aumento da população. “Mas a tendência de diminuição em termos percentuais da população católica - explica ao SIR da Cidade do México o padre Mario Ángel Flores Ramos, reitor da Pontifícia Universidade do México (UfM) - não é uma novidade, vem ocorrendo desde os anos 1970, mas neste caso a tendência se reforçou”.
A reportagem é de Bruno Desidera, publicada por Agenzia SIR, 14-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Entre os jovens estão aumentando os “sem religião”. Que fique claro: o México continua a ser, entre os “grandes países católicos” (está em segundo lugar depois do Brasil em termos absolutos), um daqueles que tem maior percentual de batizados. E também aquele em que o avanço dos neoevangélicos e pentecostais está mais contido. Mas a erosão é evidente, até porque os números são apenas a ponta do iceberg de fenômenos duradouros, que precisam ser lidos com profundidade e enfrentados com decisão.
“Estar abaixo de 80% é alarmante para um país que até quarenta anos atrás contava com cerca de 95% batizado”, continua o reitor.
O professor Rodolfo Soriano-Núñez, sociólogo da religião e autor do livro “En el nombre de Dios. Religión e democracia em México”, destaca: “A adesão à religião diminui com a idade. A geração do Papa Francisco é 90% católica, entre os nascidos na década de 1980 são 8,47% os sem religião, entre as pessoas na faixa de 30 anos a adesão ao catolicismo é de 75% e os sem religião sobem para 12%. Nos estados do sul é mais forte a atratividade das igrejas neopentecostais, no norte prevalece o processo de secularização. Em minha opinião, os escândalos sexuais também pesam no afastamento da Igreja Católica. Isso ficou bastante evidente no Chile. Lembro-me que, antes da eclosão da pandemia, era esperado no México o Mons. Scicluna, o grande especialista no assunto. Depois sua viagem foi adiada”. O México também passou por escândalos importantes, como por exemplo aquele dos Legionários de Cristo, porém, afirma o Padre Flores, "creio que aqui no México a questão tenha sida tratada de maneira geral, e acho que em todo caso a influência não seja tanto sobre os dados do censo, quanto sobre os homens de cultura”.
População total por grupo religioso 2010 a 2020 (Gráfico: Agenzia SIR)
Um problema cultural e pastoral. Em todo caso, mesmo que com abordagens distintas, nossos dois interlocutores concordam que os dados do censo devem questionar profundamente a Igreja mexicana e levar a conversões pastorais decisivas. Além disso, foi o próprio Papa Francisco, em visita ao México 5 anos atrás, que pediu "um projeto pastoral sério e qualificado"; depois disso, o episcopado mexicano realmente desenvolveu um plano de longo prazo, visando 2031, quando será celebrado o 500º aniversário da aparição de Guadalupe. E, depois de sua chegada na Cidade do México, o cardeal Carlos Aguiar Retes promoveu duas missões metropolitanas em dois anos consecutivos, a última das quais ocorreu há poucos meses, embora com modalidades particulares devido à pandemia.
Segundo o reitor da Pontifícia Universidade do México, “é necessária uma nova abordagem tanto ao nível pastoral como cultural. Trata-se das duas dimensões mais urgentes. Por outro lado, o aumento dos neoevangélicos, muito atentos à relação pessoal com as pessoas e à vida comunitária, nos pede uma mudança de estilo pastoral, como nos mostra o Papa Francisco. O aumento de quem não está ligado a nenhuma religião nos faz refletir sobre o avanço da secularização, principalmente nos grandes centros. Mas esse fenômeno desafia com força a Igreja mexicana, que carece de uma presença nos espaços públicos e também, em média, de uma qualidade cultural. Por isso digo que o desafio não é apenas pastoral, mas também, precisamente, cultural. Somos solicitados a ter uma fé mais testemunhal e de qualidade. Viemos de uma tradição cultural e política em que, mesmo permanecendo a fé, a Igreja foi apagada dos espaços públicos e sociais. A Pontifícia Universidade, por exemplo, uma das mais antigas da América, só pôde reabrir em 1992. Resta o fato que a qualidade cultural e intelectual é mediamente um problema tanto para os leigos quanto para os sacerdotes, que além disso, são poucos".
Abordagem “superficial”. O fato é que, em todo caso, resiste uma "especificidade mexicana": ou seja, que neoevangélicos e pentecostais não "bombam" como acontece na América Central (onde em alguns casos houve a "ultrapassagem" dos católicos) ou no Brasil.
Taxa de crescimento intercensal, nenhuma religião declarada 1980-2020 (Gráfico: Agenzia SIR)
De acordo com Soriano-Núñez, também esse aspecto, porém, chama em causa, paradoxalmente, a qualidade do catolicismo mexicano. E explica: “Na maioria das vezes se trata de uma abordagem habitual, superficial, sem clareza sobre o que significa ser católico. E o censo, muitas vezes, é respondido pela dona da casa, que marca uma única resposta para todos. Dessa forma, a adesão ao catolicismo continua ainda muito elevada, mas não se trata de uma perspectiva totalmente verdadeira”.
A confirmação, segundo a socióloga, vem de outros indicadores: “A frequência à missa, segundo o último levantamento nacional de 2013, era de 30%. A participação nos sacramentos é reduzida, há um tipo de presença não ativo ou participativo”. E para o futuro, “deve-se manter um novo equilíbrio entre a dimensão pastoral, há muito negligenciada, e aquela profética”.
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No México diminuem os católicos e crescem os sem religião. Flores Ramos (Pont. Universidade): "Precisamos de uma nova abordagem ao nível pastoral e cultural" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU