13 Abril 2021
Podemos sair da pandemia. Salvar a terra, colocar em segurança o universo humano, fazer a história continuar? O desenrolar dos eventos nos levou a essas indagações extremas. Muitas são as respostas.
O artigo é de Raniero La Valle, jornalista, publicado por Chiesa di Tutti Chiesa dei Poveri, 12-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Para a pandemia, dizem os governos, diz a ciência, existem as vacinas; para a economia deveriam prover os novos planos de investimento e gastos; para salvar a Terra, para colocar em segurança o ser humano, precisamos de uma ética universal, dizia Hans Kung, o teólogo indomável que extraiu das grandes religiões um destilado de moral natural, da "regra áurea" à não violência, à solidariedade, à igualdade; para fazer a história continuar, garantir e tornar efetivos os direitos fundamentais para todos, precisamos de uma Constituição da Terra, diz Luigi Ferrajoli, o filósofo apaixonado pela democracia e pelo direito, diz o movimento e a Escola “Constituinte Terra”, nós também dizemos.
Mas em virtude do que tudo isso pode acontecer, com que força, quem nos diz que não estamos falando de utopias, qual é o último recurso de onde pode chegar a salvação, para que possamos sair do mar profundo para a terra firme?
Em entrevista ao “Manifesto”, precisamente naqueles dias em que morria Hans Küng, com otimismo leigo Luigi Ferrajoli afirmava que criar “um constitucionalismo para além do Estado” que assegure vacinas e medicamentos que salvam vidas para todos, mesmo para os países pobres punidos pelo mercado, que estabeleça uma organização mundial da educação, que introduza uma propriedade planetária titular e dispensadora dos bens fundamentais para todos, a começar pela água, que introduza um monopólio público da força nas mãos de órgãos internacionais de polícia e, portanto, elimine as armas e os exércitos nacionais, tire do comércio os instrumentos de extermínio e nos dê a paz, não é uma utopia, basta a razão; a ideia de que não existam alternativas é uma ideologia de legitimação do existente que naturaliza o que é totalmente artificial, produto da irresponsabilidade da política e da economia.
Da mesma forma, foi suficiente a razão quatro séculos atrás para Thomas Hobbes entender que, para sair do estado de natureza e reprimir a liberdade selvagem portadora de morte, era necessário um pacto de convivência com base na proibição da guerra e da garantia de vida. Hans Küng, por sua vez, pensava que bastasse o chamado a tratar o humano com humanidade, mesmo sem um apelo explícito às fontes religiosas garantidoras do humano. Draghi, em resumo, apela à consciência contra a astúcia do salvar-se primeiro.
A uma pergunta semelhante, que aliás é a pergunta que acompanha a humanidade desde os primórdios, havia tentado responder outro grande humanista, Claudio Napoleoni, e antes dele um dos maiores filósofos do século XX, Martin Heidegger. Napoleoni havia argumentado como infundada a resposta de Franco Rodano que, no funcionamento laico da política, inspirado pelo marxismo, havia identificado a saída da crise e havia proposto o dilema de uma outra resposta laica, ou de aceitar a sugestão deixada em aberto por Heidegger ao se perguntar se agora apenas um Deus poderia nos salvar.
A modernidade, ou melhor, sua ideologia, fez sua escolha; não conta com Deus, aliás, nem mesmo acredita que exista, e já o exclui inclusive como hipótese; mesmo as religiões se voltam contra si mesmas, de Deus aos ídolos não é um grande ganho.
Resta a possibilidade considerada por Napoleoni. Esta não era a expectativa de um milagre, ninguém pode hipotecar a ação de Deus, mas era a disponibilidade de seguir a sua escola, de se tornar seus imitadores, valendo-se de extraordinárias atitudes de amor e sacrifício, sem as quais, dizia, não se consegue sair dessa situação.
Só mais tarde o Papa Francisco viria fazer a síntese, a colocar novamente Deus em jogo, chamando-o pelo nome, revelando-o como misericórdia e somente tal, e ao mesmo tempo reavaliando os homens como seus filhos e filhas gerados como irmãos, e convocando todas as religiões a um pacto de fraternidade, de antídoto contra a violência e de paz.
Esses são os termos da pergunta, é por tudo isso que podemos esperar.
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