25 Março 2021
Análise feita por grupo internacional sugere que floresta deixou de ser “ralo” para gases de efeito estufa e hoje agrava aquecimento da Terra.
A reportagem é publicada por Observatório do Clima, 23-03-2021.
Por muito tempo considerada um “ralo” de carbono, a Amazônia pode estar agora fazendo exatamente o oposto: emitindo mais gases de efeito estufa do que sequestra e aquecendo o planeta. A conclusão, de um estudo publicado nesta semana na revista Frontiers In Forests And Global Change, indica que as décadas de degradação da maior floresta tropical do mundo estão afetando, mais do que nunca, de forma negativa o clima global.
Para chegar a esse cenário, os mais de 30 autores do estudo realizaram uma vasta revisão de centenas de artigos científicos que avaliaram não somente os impactos relacionados às emissões de dióxido de carbono – decorrentes sobretudo do desmatamento –, mas também o impacto da emissão de outros gases de efeito estufa nos fluxos da floresta.
Entre os dados analisados estão as emissões de óxido nitroso decorrente da exploração de madeira; a liberação de carbono negro (pequenas partículas de fuligem que absorvem a luz solar e aumentam o calor) durante as queimadas; as mudanças nos padrões de chuva provocadas pelo desmatamento, que seca que aquece ainda mais a floresta; a liberação de gás metano durante construções de barragens, entre outros.
“Quando se incorpora um conjunto maior de análises sobre a região, decorrentes ou não da ação humana, surge uma imagem muito mais complicada sobre o impacto da Amazônia no clima global. Quando esses fatores são considerados juntamente com a emissão de CO2, vemos que o efeito líquido mais provável é o aquecimento da atmosfera”, afirma Kris Covey, principal autor do estudo e professor no Skidmore College, nos Estados Unidos.
O pesquisador destaca que diversas ações humanas têm piorado e acelerado esse processo. Entre elas, a pressão contínua e emergente da mineração e do petróleo, práticas agrícolas, de caça e pesca, entre outros. Apesar do cenário preocupante, a pesquisa, que foi apoiada pela National Geographic Society e desenvolvida por meio de uma colaboração da sociedade civil com cientistas, indica que os danos ainda podem ser revertidos, desde que medidas imediatas para conter o desmatamento na Amazônia, reduzir da construção de barragens e aumentar os esforços de restauração sejam tomadas.
“É possível reverter, mas temos muito trabalho a fazer. Precisamos reduzir drasticamente a degradação da Amazônia e ativar programas de restauração em grande escala”, diz Covey. Ele lembra que, em 2018, o americano Thomas Lovejoy e o brasileiro Carlos Nobre haviam alertado em um artigo na revista Science Advances que a Amazônia está à beira de um “ponto de virada”: com o desmatamento entre 20% e 25% (hoje ele está em 20%), a floresta poderia entrar num estado de savanização, no qual a cobertura florestal é substituída por uma savana pobre. Lovejoy é coautor do novo estudo, que também leva a assinatura de Ismael Nobre, irmão de Carlos, do peruano-brasileiro José Marengo, do Cemaden, e de Paula Bernasconi e Alice Thuault, do ICV (Instituto Centro de Vida), entre outros.
Bernasconi destaca que o principal objetivo dessa revisão de literatura, a mais abrangente feita até hoje sobre as consequências da degradação da maior floresta tropical do mundo no clima global, foi promover um olhar ampliado sobre os diferentes fluxos que existem na Amazônia e como as ações humanas impactam esses processos.
“O artigo ressalta, uma vez mais, o importante papel da Amazônia e dos seus ciclos naturais e reforça a urgência da implementação tanto de medidas de políticas públicas como de ações do setor privado para a conservação da floresta”, conclui.
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Amazônia já é fonte de carbono, diz estudo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU