04 Março 2021
Com o blog anônimo Mosul Eye, o historiador sunita Omar Mohammed documentou as atrocidades nos anos do “califado”. A chegada do pontífice à sua cidade é um sonho que se torna realidade: “Ele também mostrará a nós, iraquianos, que o único caminho para seguir em frente é aceitar uns aos outros”.
A reportagem é de Asia News, 02-03-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“O mundo nos próximos dias verá Mosul através dos olhos do Papa Francisco. E isso é muito importante também para nós, moradores da cidade.” É o que defende o professor Omar Mohammed, jovem docente de história da Universidade de Mosul, em um depoimento em vídeo concedido do Iraque ao Centro Missionário do Pime em Milão.
Ele ficou conhecido em todo o mundo durante os anos mais sombrios da cidade, por ter divulgado as notícias sobre as atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico no blog anônimo Mosul Eye.
Muçulmano sunita, hoje o professor Mohammed é um dos intelectuais que lutam com mais coragem em Mosul pelo retorno das comunidades cristãs e pela preservação do caráter plural e do patrimônio cultural da cidade. Ainda nas horas em que o ISIS estava sendo derrotado, ele havia pedido que universidades de todo o mundo doassem livros para reconstruir a biblioteca da cidade, queimada pela fúria fundamentalista. A corrente de solidariedade iniciada via redes sociais funcionou: milhares de volumes possibilitaram a reabertura da estrutura em tempo recorde.
Com o seu blog Mosul Eye, o professor Mohammed passou a falar sobre o renascimento da música e da arte na cidade, a retomada dos pequenos negócios, o desafio do retorno de quem havia sido forçado ao exílio.
Agora, do Iraque, Mohammed fala da visita do Papa Francisco – esperada para este sábado, 7 de março, em Mosul – como de um sonho que se torna realidade. “Vivi mais de dois anos – diz ele no vídeo – sob o governo brutal do chamado Estado Islâmico, que destruiu a nossa cultura e a nossa história, deportou os cristãos das suas cidades, escravizou os yazidis e também matou muitos muçulmanos.”
Ele explica que encontrou refúgio em uma frase que ouviu do Papa Francisco em uma de suas audiências: “O amor, por sua natureza, é criativo, o amor é sempre criativo”. O professor acredita que essas palavras podem curar as feridas de Mosul.
“Esta visita – acrescenta – chamará a atenção do mundo para Mosul, mas também levará a mensagem certa para o seu povo: o único caminho para seguir em frente é aceitar uns aos outros. Esta visita nos traz a esperança que perdemos há muito tempo. Estamos muito confiantes na sabedoria do Papa Francisco. Ele saberá abordar as questões com atenção e dizer ao mundo aquilo que ele vê. Não vemos a hora de encontrá-lo.”
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