18 Setembro 2020
“Hildegard, uma santa visionária, foi uma intelectual orgânica”, escreve Lucía López Alonso, em artigo publicado por Religión Digital, 17-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
No ano de 1112, inaugurando o século XII, Hildegard de Bingen entrou no convento. Com apenas 14 anos entraria na vida religiosa da época, que suporia assumir um brutal ritual de reclusão (o que em alguns conventos se traduzia em um permanente confinamento, dentro de uma cela de apenas oito pés), imposto para expressar exteriormente o desejo de se afastar do mundo e de seus baixos prazeres.
Acima desse pensamento simplista, Hildegard não se esquivaria dos prazeres, mas pelo contrário. Desfrutaria da música e da pintura, se esforçaria em olhar para o mundo com paixão e pouco a pouco se transformaria em uma mulher sábia e influente.
Perseguindo o saber em todas as suas esferas, não só a da oração e da contemplação a que predispunha uma cela conventual, a santa (comemorada hoje, 17 de setembro) é representada com hábito beneditino e palheta e tabletes de cera: como freira e escritor. A literatura autobiográfica e visionária que ele produziu resistiu ao teste do tempo e continua a surpreender com seu encanto místico.
Quando ele tinha 43 anos, uma voz do céu lhe disse: “Diga e escreva o que você vê e ouve”. Era a confirmação do que vinha fazendo, por impulso interior, desde os 40 anos: escrevendo sua Vida, na qual descrevia suas experiências de aparições ou visões. Nelas, ele fala na terceira pessoa para se referir à "Sabedoria": “Não sou eu que disse essas palavras sobre mim, mas a Sabedoria as disse”.
Outra de suas obras, Scivias, contém a descrição de 26 visões da freira nascida no Sacro Império Romano. Sustentada pelo êxtase enquanto duraram, Hildegard depois os lembrou como acontecimentos que iam além do que é percebido materialmente: “Eu nem percebo nada pelo encontro dos meus cinco sentidos”. Não é de se estranhar, então, que algo tão poético tenha chamado a atenção dos artistas da época, que deixaram no manuscrito de Lucca cerca de dez visões de Hildegard ilustradas com grande beleza.
Em uma Idade Média sem igualdade de oportunidades, Hildegard conseguiu fundar o mosteiro de Rupertsberg, dirigindo a coexistência de 18 monjas. Alcançar a abadessa era um fato - dizem suas próprias palavras - que ela ansiava "não tanto segundo Deus, mas segundo a honra do século". Com o mesmo entusiasmo, Hildegard aproveitou e combinou todos os vértices de seu talento, que o Vaticano reconheceu ao nomeá-la Doutora da Igreja. O mais moderno, talvez, da figura desta freira medieval é sua intelectualidade orgânica, com a qual ela mergulhou tanto na ciência quanto na religião. Observando a natureza, como atesta seu Livro das sutilezas das várias naturezas da criação, Hildegard aprendeu botânica, remédios naturais e medicina ainda mais complexa. Sua biografia permanece como uma referência para o encontro do sagrado com o mundano, o poder e a simplicidade, o sensorial e o espiritual, a investigação do meio ambiente e o autoconhecimento.
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Hildegard de Bingen: mulher líder, mística e científica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU