09 Setembro 2020
"Simonis era certamente um conservador: 'No sentido de São Paulo:' Experimentem tudo, mas guardem o que é bom '. Eu sou conservador por isso. É uma obrigação. Devemos guardar o bom do passado'. Como remediar a deriva 'assustadora'? 'Tentar convencer os fiéis. E isso é muito difícil. Começar uma pastoral diferente com novos sacerdotes jovens. Estou ao lado do seminário de Gijsen em Rolduc, na diocese de Roermond'", escreve Francesco Strazzari, em artigo publicado por Settimana News, 06-09-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Segundo o articulista, "dez anos depois do sínodo da igreja da Holanda, de 1980, ainda havia quem tentasse responder às muitas perguntas em aberto, mas a maioria o havia esquecido totalmente. Eles concordaram que a fórmula estava totalmente errada, imposta de cima. A política da Santa Sé na nomeação dos novos bispos certamente não foi brilhante e as consequências podiam ser vistas. Van Munster, secretário franciscano da Conferência Episcopal, confidenciou-me: “Essa situação vai continuar por mais dez anos”. A culpa? Um sorriso triste".
No dia 2 de setembro morreu, aos 88 anos, o cardeal holandês Adrianus Simonis. Ele era de Lisse, diocese de Rotterdam. Sacerdote em 1957, eleito bispo de Rotterdam no final de dezembro de 1970, consagrado em março de 1971, coadjutor de Utrecht em 27 de junho de 1983 e arcebispo em 3 de dezembro do mesmo ano. Foi nomeado cardeal no consistório de 25 de maio de 1985 por João Paulo II. Ele se tornou arcebispo emérito de Utrecht em abril de 2007.
Na década de 1970, a Holanda estava atribulada pelo caso Schillebeeckx, o conhecido teólogo de Nijmegen, sob processo pela Congregação para a Doutrina da Fé.
Em 29 de maio de 1979, João Paulo II decidiu reunir em Roma um sínodo dos bispos da Holanda para tratar dos principais problemas teológicos e pastorais da província eclesiástica holandesa. O Arcebispo de Utrecht e presidente da Conferência Episcopal era o Card. Willebrands, que sucedeu ao mítico card. Alfrink.
O objetivo do sínodo holandês - comunicava a Conferência Episcopal - era fortalecer a colegialidade dos bispos entre si e dos bispos com o papa, promover a unidade da hierarquia, discutir a vida da Igreja e sua responsabilidade no mundo contemporâneo.
O sínodo começou na segunda-feira, 14 de janeiro de 1980, no Vaticano. Era sabido que os bispos não concordavam entre si. Tudo havia começado na época do famoso concílio pastoral (1965-1970), que questionou "coisas demais", segundo Roma, e lançava contínuos ataques ao Vaticano, o qual, entretanto, não tardou a se manifestar.
A oportunidade certa surgiu com a nomeação de dois bispos tradicionalistas, Simonis e Gijsen, respectivamente em Rotterdam e Roermond. Foi uma imposição contra a opinião da população. O bispo Simonis não tinha realmente as mesmas rígidas posições ultraconservadoras de Gijsen e, por um tempo, se manteve em silêncio.
Roma interveio contra o concílio pastoral, que realizou assembleias nacionais em 1973-74-78 e depois proferiu um categórico basta!
Simonis comentou: “Os delegados mostraram uma grave falta de responsabilidade pelos problemas da unidade da Igreja”. As assembleias nacionais foram acusadas de serem dominadas por sociólogos, Goddijn na liderança, e pela falta de escrúpulos teológicos de Schillebeekx e sua escola.
O Sínodo Holandês foi realizado de 14 a 31 de janeiro de 1980: dezesseis dias de trabalho, vinte e oito sessões gerais, cerca de trezentos discursos. O cardeal Alfrink, arcebispo emérito de Utrecht, uma personalidade conciliar “histórica”, foi excluído. Faltava por completo uma discussão serena e objetiva.
Não se acreditava muito no sínodo, ainda que os jornais holandeses já estivessem há algum tempo alinhando-se com as formações, que curiosos cartuns reproduziam. Simonis e Gijsen na defesa com os cardeais da cúria Baggio e Oddi, Bluyssen de 's-Hertogenbosch e Ernst de Breda no ataque, com um árbitro, o papa, que intervinha para separar os litigiosos. Certamente foi um sínodo "romano".
No final de janeiro de 1981 - o sínodo já havia terminado há um ano – eu estava na Holanda e entrevistei bispos, alguns teólogos, agentes da pastoral, sociólogos, religiosos e leigos.
Eu também entrevistei Simonis. Conversador brilhante, a quem, na verdade, eram reconhecidos dons e intuição pastorais. Ele foi considerado um conservador mais por razões pastorais do que doutrinárias. Disse-me que a situação continuava difícil, dada a manipulação e a má informação a que se somava o surgimento de novos problemas por falta de soluções concretas. Os padres estavam desanimados, decepcionados e chocados os teólogos: “Porque muitos sacerdotes pensam que voltamos à velha Igreja, aquela anterior ao Vaticano II, mas isso não é verdade. Eles pensam que deve ser dada uma interpretação muito livre do concílio: aceitar o seu espírito, mas não a mensagem”.
Simonis era certamente um conservador: "No sentido de São Paulo:" Experimentem tudo, mas guardem o que é bom ". Eu sou conservador por isso. É uma obrigação. Devemos guardar o bom do passado”. Como remediar a deriva "assustadora"? “Tentar convencer os fiéis. E isso é muito difícil. Começar uma pastoral diferente com novos sacerdotes jovens. Estou ao lado do seminário de Gijsen em Rolduc, na diocese de Roermond.
Para mim, os novos sacerdotes devem vir apenas desse seminário. Este ano (1981) serão ordenados seis, provenientes desse seminário”. E como se comporta com esses futuros padres, que não compartilham as decisões do sínodo? “Eu não os ordeno. Não. Não. Se eles não forem ‘ortodoxos’, eu não os ordeno. Para ordená-los, tenho que verificar se estão de acordo com as diretrizes da Igreja”.
Abro um parêntese sobre aquele seminário e sobre o bispo Gijsen.
Na época de Gijsen, o seminário de Rolduc, uma abadia administrada pelos jesuítas, entrou nas crônicas por abusos sexuais. Falava-se da relação do vice-reitor com um seminarista e outros casos. Gijsen estava ciente disso. Dizia-se que ele teria abusado de adolescentes na década de 1950.
Gijsen foi enviado para a distante Reykjavik, capital da Islândia, onde os católicos eram cerca de 10 mil e lá permaneceu de 1996 a 2007.
Em minhas muitas viagens à Holanda, isso sempre me foi confirmado. Até pelos próprios bispos.
Voltando ao diálogo com Simonis, perguntei-lhe sobre o caso Schillebeekx: “Concordo com a Congregação Romana no que diz respeito ao seu caso: não uma condenação, mas esclarecimentos. Mas o senhor acredita que seja teologia aquela dos chamados ‘teólogos holandeses’? É antropologia e nada mais”. Você já pensou em ter dois tipos de padre, casado e celibatários? "Mas você está brincando. Não é possível. Seria criado um cisma do tipo Lefebvre”.
O céu caiu quando, em 8 de julho, foi anunciada a nomeação de Adrianus Simonis como arcebispo coadjutor de Utrecht com direito de sucessão.
Em 8 de dezembro, ele oficialmente assumiu o lugar de card. Willebrands, que escreveu aos seus fiéis despedindo-se: “Esta mudança será inesperada para muitos e também decepcionante. Muitos a perceberão como dolorosa. Eu entendo e sinto isso junto com vocês. No entanto, peço-lhes insistentemente para acolher Mons. Simonis, meu coadjutor e sucessor, com compreensão e apoio”.
O capítulo de Utrecht, que havia apresentado uma tríade de nomes à Congregação dos Bispos e apoiado a candidatura de um "diocesano" com uma série de argumentos e considerações, declarou: "Aceitamos essa nomeação, mas não podemos esconder que ela, em nossa fé na Igreja, causa-nos uma profunda decepção”.
O próprio Willebrands, na noite de 8 de dezembro, falando na rádio e na televisão, declarou que teve dificuldades com a nomeação, comentando: “Na Holanda, as opiniões são diferentes daquelas do papa. Se as reflexões do capítulo e de outros tivessem sido levadas em consideração, o desapontamento teria sido evitado. Certamente o papa não as considerou motivo suficiente para mudar suas escolhas”.
Uma centena de padres, em carta aberta ao Papa, perguntava por que não havia sido levada em consideração a apresentação dos candidatos, cuidadosamente preparada pelo Capítulo. Eles escreveram a Simonis perguntando por que ele aceitou a nomeação, mesmo sabendo que seu nome não constava da tríade apresentada pelo capítulo.
Eles o alertaram para alguns pontos fixos, entre os quais: a escolha pelos fracos e pelos pobres; a necessidade da colaboração de todos os fiéis; a igualdade de homens e mulheres na Igreja; a necessidade de colaboração pastoral e de reintegração dos padres casados; a consulta leal ao conselho pastoral diocesano e aos decanos; a confiança na formação do ministério pastoral da escola católica superior com sede em Utrecht.
Eu vi Simonis novamente em 1987. Ele tinha acabado de voltar de um encontro com João Paulo II sobre a aplicação do controverso Sínodo particular dos Países Baixos. “Foi - disse-me - um panorama sobre as ‘conclusões’, o documento elaborado depois do sínodo. A situação é triste. Como esses holandeses são estranhos! Cheios de rigor e teimosos. Melhor os italianos”.
Em julho de 1989, eu o encontrei em sua casa. Ele estava obcecado com a constante exigência de abolir a lei do celibato: “Você acha que revogando-a resolveremos os problemas da nossa Igreja? Não, não ... O problema é mais profundo, mais sério. Aqui, na Holanda, muitos católicos dizem ter dificuldades com o Santo Padre porque ele é muito severo, restaurador, não permite o acesso das mulheres ao sacerdócio, é rigoroso no campo sexual, etc. Os protestantes não têm papa, eles concedem o ministério às mulheres, são menos rígidos no campo sexual, mas também estão em dificuldades. Eles têm um declínio que é mais relevante do que a Igreja Católica. Estou convencido de que enfrentamos uma verdadeira crise de fé”.
E a famosa "teologia holandesa"? “Falo a título pessoal. Tenho pouco contato com os teólogos. Eles não vêm a mim e eu não tenho tempo de ir até eles, porque tenho muito o que fazer: visitar as paróquias, receber muitas e muitas pessoas. Não tenho tempo".
Era conhecida a sua posição sobre o feminismo, sobre a homossexualidade, que enfureciam feministas e homossexuais: “Sim, passei por dois processos, que foram resolvidos a meu favor. No entanto, as feministas apelaram e o processo continua. Falo como bispo da sexualidade e explico a posição da Igreja referindo-me aos documentos da Santa Sé. Elas me acusaram de incitamento à discriminação”.
Dez anos depois do sínodo de 1980, ainda havia quem tentasse responder às muitas perguntas em aberto, mas a maioria o havia esquecido totalmente. Eles concordaram que a fórmula estava totalmente errada, imposta de cima.
A política da Santa Sé na nomeação dos novos bispos certamente não foi brilhante e as consequências podiam ser vistas. Van Munster, secretário franciscano da Conferência Episcopal, confidenciou-me: “Essa situação vai continuar por mais dez anos”. A culpa? Um sorriso triste.
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O Cardeal Simonis e a Igreja holandesa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU