19 Agosto 2020
Por enquanto sem fogo, incendeia-se a Cinemateca Brasileira. Por enquanto sem fogo, incendeia-se a Biblioteca Nacional. Por enquanto sem fogo, incendeia-se a CAPES, incendeia-se o CNPQ. Por enquanto sem fogo, incendeia-se cada universidade pública do Brasil (com as cinzas, pensam talvez construir um puxadinho no Mackenzie, antro colaboracionista). Por enquanto sem fogo, incendeia-se cada escola e cada centro cultural, cada biblioteca e cada museu, cada teatro e cada cinema, futuros terrenos baldios onde erguer novas igrejas neopentecostais. Mas o fogo logo vem, é só aguardar. O Brasil é literal mesmo nas alegorias de sua devastação.
O projeto de privatizar as universidades públicas paulistas vem de longa data. A ele não são estranhos, muito pelo contrário, figuras proeminentes do PSDB. E a ele se incorporaram privatistas os mais ignaros que tudo fizeram, incluindo recente CPI, para apontar "corrupção"nos campi paulistas. Não podemos e não devemos ficar no simbolismo de redigir artigos, moções, protestos pela internet. É preciso que as autoridades acadêmicas, unidas aos professores, funcionários e alunos, sigam presencialmente até os palácios do Executivo e do Legislativo, para denunciar o crime continuado contra o saber no Estado. Basta de seitas internas nos campi, unamos corpo e alma para fazer algo visível ao público e aos que tentam, nas sombras, destruir um patrimônio da Humanidade concentrado em laboratórios, bibliotecas, salas de aula das únicas universidades que merecem tal nome. Já tramita em plano federal projeto de doação de mais de 1 bilhão de reais para supostas universidades privadas. E quanto às públicas, ameaças de subtração de mais de um bilhão de reais. Este é um assassinato do espírito. Coloco-me ao dispor de quem organizar uma caminhada presencial até os palácios, mesmo sob a ameaça perene da força física contra quem pensa.
Roberto Romano
Urgente
Notícia de ar polar em São Paulo
Precisamos urgente: Cobertores , meias, gorros e agasalhos para os irmãos de rua .
Por que gente como Sara Winter é perigosa? Porque eles vivem em um mundo no qual não existe dúvida, no qual o sujeito se escuda na ilusão de uma causa maior e transcendente. Já repararam que quando o religioso começa a perder um debate ele apela para “vou orar por você?”, “vou pedir que você enxergue a verdade?” Como essa gente crê piamente que está lutando pela verdade suprema, eles não enxergam barreira moral alguma em todas as suas ações. Quando o terrorista islâmico joga um avião numa torre, ele não pensa nas consequências assassinas de seus atos, pensa nas recompensas por “cumprir a vontade de Deus”. É isso: em última instância, a certeza que a religião oferece (“estou lutando pela causa certa”) é o maior perigo que ela encerra.
Multiplicidade e diferença não existem nesse mundo, ele é puro desejo de unidade, ordem absoluta e perfeição - ideais que deveriam ser repulsivos para qualquer ser humano minimamente sensato. E esse tipo de lógica, infelizmente, é o mesmo que ocasionalmente move certos movimentos da esquerda. Não à toa, o moralista e o justiceiro são complementos naturais (que me produzem invariavelmente profundo asco).
QUE ELAS FALEM
Que nos cultos/missas desta semana nas igrejas, que nos terreiros, sinagogas, mesquitas e outros espaços de fé as mulheres possam fazer rodas de conversas - livres de amarras religiosas - sobre estupro, outras violências, direitos sexuais e reprodutivos, enfim.
Esse exercício pode gerar reflexões, debates, sororidade, libertações, transformações. Delas, entre elas e também, fundamentalmente, entre eles, nós os machos.
A hora é esta. É tempo de arrependimento. É urgente a conversão às lutas das mulheres por parte de pastores, padres, pais de santo, rabinos, xeiques e outros líderes religiosos. E também de mulheres dominadas pelo machismo.
Tem estupro acontecendo agora, contra crianças inclusive.
Não é possível que as religiões não consigam duvidar de seus dogmas, olhar para a cruel realidade e pensarem corajosamente na defesa dos direitos das mulheres e de outros grupos alvos de violência sexual.
Que elas falem. Pode ser o início de uma revolução. Por justiça, alegria, paz.
CNBB, presta atenção: fazer aborto para salvar vida de criança não é crime. Estuprar criança é crime hediondo.
A melhor resposta da sociedade ao ABORTO não é o julgamento, mas a defesa incondicional do direito à vida digna para todos.
Oportunistas de Tragéedias
Como já percebido, tudo, absolutamente tudo, por aqui é politizado. Não importa as famílias de quase 109 mil vítimas da COVID-19, o tema é político antes de ser pesaroso e enlutado; não importa a dor e a tragédia de uma criança que teve a sua inocência roubada e violada quando ainda tinha seis anos de idade, é preciso fustigar, esfregar a religiosidade farisaica na frente de um hospital. O que conta mesmo é a disputa narrativa em torno de fatos que são chocantes por si mesmos. A partir dessa disputa narrativa permeada pelo antagonismo político, o oportunismo é evidente diante da tragédia.
Oportunistas de tragédias são sanguessugas que ignoram a violência cometida, a dor e o sofrimento do outro para tirar proveito político-social a partir de fatos que provocam comoção. No fundo não se trata de ser “defensor da vida”. Em muitos casos esse chavão é meramente recurso retórico de gente hipócrita que sabe, mas finge não saber, que no país a quantidade de estupros é alarmante e em 99% dos casos o agressor não é punido. E mais! O Brasil contabilizou mais de 66 mil casos de violência sexual em 2018, o que corresponde a mais de 180 estupros por dia. Entre as vítimas, 54% tinham até 13 anos. Mas para os oportunistas de tragédias isso não importa muito, não caiu na mídia e não ganhou as redes sociais.
Os oportunistas de tragédias alegam que não há uma “cultura do estupro” no país. E muitos desses instrumentalizam a religião, na sua versão mais sórdida e, no caso do cristianismo, desconexo do Evangelho, para condenar o aborto nas condições que a legislação brasileira permite, mas fazem vista grossa com pastores e padres pedófilos.
Aos oportunistas de tragédias que habitam as redes sociais e destilam o veneno da inumanidade e cultuam a insensibilidade, não demorará muito para politizarem mais uma tragédia assim que ela acontecer.
Quando nossos bispos aprenderão que "calar" em certas situações é um ato de misericórdia!
"Quem não tiver pecado...".
Antes de dizer banalidades sobre a Idade Média, a propósito do aborto e de sua proibição ("estamos de volta à Idade Média" etc.), as pessoas podiam estudar um pouco e se surpreender com a descoberta de que a ideia de que a vida se inicia com a concepção é uma ideia moderna, do século XVI (isto é, ligada à Reforma). Os problemas que nos afligem são intrinsecamente modernos, e não medievais (a não ser na medida em que a Idade Média é o começo de uma modernidade, mas este é outro assunto - sobre o qual, aliás, fiz uma tese de doutorado). Aceitem que dói menos, como se diz. E, percebendo isso, fica até mais fácil combater os argumentos contra a legalização do aborto, porque estamos todos - nossos amigos e os obscurantistas - no mesmo horizonte de racionalidade.
Ele: Alonso, você já leu o texto do pastor "Fulano" sobre esse caso da menina?
Eu: Meu caro, não li. No mais, não tenho nenhuma predileção por textos escritos por homens sobre aborto, estupro e mulheres, principalmente pastores. Nesse assunto só escuto, leio e sou solidário com elas, as mulheres. Nem mesmo ouso colocar meus argumentos sobre esse tema tão delicado da menina. Não tenho competência para isso porque o meu lugar de fala estará comprometido pela simples condição de ser homem.
Carta a Dom Walmor, presidente da CNBB
Dom Walmor,
Tenho 91 anos, tive 10 filhos e sou catolicíssima.
Fiquei impactada com sua declaração de “crime hediondo”, em referência ao aborto feito na menina de 10 anos, estuprada desde os 6 anos pelo tio.
Até hoje, a Igreja não proclamou um dogma sobre o momento da animação do resultado de uma relação sexual. Questão de prudência, para não entrar na fria em que entrou, com a condenação de Galileu.
Crime hediondo, Dom Walmor, é deixar que crianças vivas pobres e miseráveis morram de fome, no Brasil.. Principalmente, negras.
Muitos daqueles homens e mulheres que foram à frente do hospital protestar contra o aborto, são hipócritas : levam suas mulheres e amantes, filhas e netas a clínicas aborteiras ilegais, sem que nada lhes aconteça.
A Igreja continua machista, como desde que adquiriu poder político, com Constantino.
Jesus não era machista. Ao contrário. Lembre a atitude dele com a adúltera e com a samaritana.
No momento em que escreveu a sua declaração, senhor presidente da CNBB, o Espírito Santo estava cochilando.
Seria melhor o senhor ter ficado calado.
Saudações
Irene da Silva Telles
Eu atravesso as coisas - e no meio da travessia não vejo!
GSV
Renda Básica!
No meio da crise, muito lulista tentou fazer passar uma velha ideia como se fosse o resultado de seu calculo matemático, de sua lógica, e agora e o fascista que vai fazer a renda básica (chamada de Brasil).
O fato é que o lulismo só estava preocupado com a renda das empreiteiras!
Aqui uma modesta contribuição de 15 anos atrás
Bolsa-Família é embrião da renda universal
ANTONIO NEGRI e GIUSEPPE COCCO
"para a gente se transformar em ruim ou em valentão, ah basta se olhar um minutinho no espelho - caprichando de fazer cara de valentia; ou cara de ruindade"
GSV
Deixa o mundo dar seus giros! Estou de costas guardadas, a poder de minhas rezas
GSV
"o medo como se fosse mel a escorrer do crânio
por tudo ser de novo tão concentrado e leve
a dor em nós de uma tão forte 'ignorância activa'
'a fazer-se' um prova
de elegância na 'razão' do tempo"
Herberto Helder em "Antropofagias" (texto 7)
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