Padre Tasca, arcebispo de Gênova, Itália, o bispo da mudança

Padre Marco Tasca. | Foto: Franciscanos Conventuales de España/Facebook/Reprodução

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11 Agosto 2020

Seu primeiro gesto lembra o Papa Bergoglio: nenhuma acomodação na cúria, mas um quarto no convento.

A reportagem é de Marco Ansaldo, publicada por La Repubblica, 08-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Em silêncio, sem clamor, mas com uma determinação igual às intenções anunciadas, está em andamento uma revolução em Gênova na Igreja. Aquela do novo bispo. E o bispo, no início de seu mandato, está surpreendendo os fiéis. Mais do que com palavras – na verdade, muito poucas até agora – pelos comportamentos. Nem mesmo um mês se passou desde sua ordenação oficial como o novo arcebispo da Lanterna, que D. Marco Tasca, 63 anos, originário da província de Pádua, já se parece uma cópia do Papa Francisco. O original, é claro, não tem igual, e nós já o conhecemos bastante bem.

Mas o homem que Jorge Mario Bergoglio escolheu como sucessor do cardeal Angelo Bagnasco, também muito querido pelos genoveses em seus 14 anos à frente de uma das dioceses mais importantes e delicadas da Itália, parece seguir os passos de um homem que revolucionou o Vaticano como não acontecia desde o tempo de João XXIII, Angelo Roncalli. Só o tempo poderá medir a força de D. Tasca. E, portanto, um juízo mais fundamentado sobre ele. Mas os sinais estão todos aí, e os passos dessas poucas três semanas não devem ser ignorados em sua essência e demonstração de um gesto diferente, de uma atitude diferente, de uma abordagem oposta àquela a que as hierarquias eclesiásticas católicas acostumaram no passado.

Marco Tasca, bispo sem máscara no dia da sua posse e do seu abraço aos fiéis na Piazza della Vittoria que o acolheu com cantos e aplausos (mas, no dia seguinte, ao subir as escadas da Catedral ele a usou), não dorme na Cúria. Em vez disso, pediu para arrumar um quarto muito simples, uma cama, uma mesinha de cabeceira, um guarda-roupa, uma mesa, na igreja de San Francesco di Albaro onde às vezes desce para rezar missa, mas em um dos altares laterais.

Todo domingo vai celebrar a função principal não na Catedral, mas em diferentes paróquias. Outro dia parece ter recusado um convite à fábrica da Ansaldo para um evento organizado por monsenhor Molinari. Até agora não concedeu nenhuma entrevista, exceto para o semanário católico local Il Cittadino, pouco antes de sua posse. Já esclarecendo, na eventualidade, que não queria falar de si mesmo, mas da Igreja, de Gênova, dos fiéis.

Com palavras que recordou anteontem na sua primeira “Carta à Igreja que está em Gênova”, intitulada “Renascer do alto”, publicada no site online da diocese. Um texto em que aborda o tema da retomada depois da Covid: “O próximo ano pastoral – pode ser lido - não começará simplesmente, como se nada tivesse acontecido! A pandemia foi e é uma dura prova para a humanidade e contém um ensinamento. Expôs a nossa vulnerabilidade, as nossas falsas seguranças; desorganizou as nossas agendas, os nossos programas, as nossas prioridades. Mas, constitui também uma ocasião, um convite, a tornar Cristo ‘o centro’ e, consequentemente, a construir relações muito mais humanas, quanto mais vividas em comunhão com Deus e com os irmãos”.

A continuação da mensagem era depois dedicados à transformação das paróquias, justamente a que está se tornando sua principal missão. “Somos todos chamados – paróquias, comunidades religiosas, agregações – a renovar o impulso missionário. O testemunho requer uma presença cristã nos vários ambientes da vida onde o ser humano se encontra; a casa, a escola, a universidade, os locais de trabalho, os espaços de tempo livre, o mundo da saúde: juntos constituem o campo de Deus e todos pedem para ser habitados na lógica da missão”. E aqui o novo arcebispo dirige-se a cada paróquia, por ser “chamada a encontrar novas modalidades de vizinhança e de proximidade e a transformar estruturas, compromissos, horários segundo a lógica da missão.

É necessário promover práticas e modelos através dos quais todo batizado, em virtude da iniciação cristã recebida, se torne protagonista ativo da evangelização”. D.Tasca concluiu com o que parece ser uma decisiva mudança de rota eclesiástica, na linha do Papa argentino: “É preciso cuidar para que as nossas celebrações sejam transparência do mistério e da fé, excluindo aquelas iniciativas que, em vez de anunciar o Protagonista, chamam a atenção para o ministro ou para a assembleia”.

Esse é o início. Segundo o sinal do que foi anunciado na noite de sábado, 11 de julho, logo que ocupou a cadeira do bispo, e ficou comovido por uma festividade não comum por parte dos seus novos fiéis: “Rogo a Deus que se realize o voto que me foi dirigido nestes últimos dias: de não ser simplesmente um franciscano bispo, mas um bispo franciscano”. É isso. Como pertencente a uma ordem, a dos Frades Menores conventuais, que se declara “mendicante”, é possível acreditar nesse seu esforço.

 

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