20 Dezembro 2019
O Sínodo para a Amazônia é um processo, que não foi encerrado no final da assembleia sinodal, realizada em Roma de 6 a 27 de outubro. Como aponta o Documento Final, o pós-sínodo deve ser momento para dinamizar a vida da Igreja na Amazônia, um desafio que está sendo assumido desde o território amazônico. Na espera da exortação pós-sinodal, que o Papa Francisco, no discurso final na sala sinodal, disse gostaria estivesse pronta antes do final do ano, mas que tudo indica que só vai ser publicado no final de janeiro ou início de fevereiro, os passos vão sendo dados.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Na arquidiocese de Manaus, onde vivem sua fé o maior grupo dos participantes do Sínodo, tendo em conta aqueles que faziam parte da assembleia sinodal e os que participaram das atividades da Amazônia Casa Comum, esses passos já estão sendo dados. Tudo o que foi refletido durante o processo de escuta e a assembleia sinodal, está sendo a base para continuar fazendo realidade os novos caminhos que o Sínodo para a Amazônia procurou desde sua convocatória.
(Foto: Luis Miguel Modino)
Um dos elementos mais destacados do processo sinodal é que tem sido um tempo para olhar para os povos originários, cada vez mais ameaçados, inclusive de morte, com muitas lideranças tendo que se calar e fugir. Diante disso, a Igreja é desafiada a se posicionar do lado dos povos indígenas, assumindo a dimensão martirial que nasce do seguimento ao Crucificado – Ressuscitado.
De fato, aqueles que estavam em Roma no tempo da assembleia sinodal, eles têm consciência de ter estado lá em nome dos povos da Amazônia, que expressaram suas demandas e esperanças durante o tempo de escuta. Foi um tempo em que muita gente se sentiu envolvida nesse processo sinodal, em que muita gente rezou e deu visibilidade à vida dos povos, especialmente nas atividades da Amazônia Casa Comum. Isso teve como resultado um documento que vai ser refletido ao longo de muitas gerações, um documento com muitas aberturas, com muitas possibilidades de gerar novos caminhos.
O Sínodo ajudou, mais uma vez, a mostrar um Papa próximo do povo, que quer fazer realidade uma Igreja pé no chão. Um Papa que acolheu a muita gente que nunca tinha pensado chegar lá, que sem protocolo se misturou com o povo, que o escutou, que se interessou pelo que a Igreja e os povos da Amazônia vivem no seu cotidiano, uma Igreja que levou a vida de seus mártires, para que, desde dentro da sala sinodal, intercedessem pelo Sínodo.
Aqueles que viveram o Concilio, e que descobriram nele um novo jeito de ser Igreja, mas que aos poucos foram se desencantando, tem visto no Sínodo para a Amazônia uma retomada de elementos que tinham ficado no escanteios. Assim pode se interpretar que todos, independentemente de sua condição de cardeais, bispos, padres, religiosos ou leigos, tivessem a oportunidade de falar dentro da sala sinodal. Também que na assembléia pudessem ser falados temas considerados tabu até pouco tempo atrás, como a ordenação de homens casados ou das diaconisas. São discussões que ajudam a amadurecer. Como reconhece um dos padres sinodais, “desencalhamos o barco, agora tem que concerta-lo e limpar o canal para faze-lo andar”.
Que o barco ande vai depender do povo, que está recebendo, e vai receber ao longo dos próximos meses, tudo o que esse povo colocou ao longo do processo de escuta. Isso é uma responsabilidade para a Igreja, o que foi refletido não pode ficar no papel. Tudo o que foi vivido até agora tem sido um tempo de kairós, que ninguém imaginava, e que demonstra mais uma vez que o Espírito se faz presente desde as periferias do mundo, mas também desde a diversidade, pois quanto mais diverso, mais divino, a diversidade nunca é ameaça, e sim um princípio divino que fundamenta a Trindade, ela é geradora de diálogo, que deve ser o caminho a ser seguido na Igreja. Temos vivido um Sínodo que levou a diversidade para dentro de Roma, que a amazonizou.
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A Igreja de Manaus vai dando os primeiros passos no pós-Sínodo da Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU