A liberdade de crer

Fé. | Foto: Pixabay

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

17 Dezembro 2019

"É por isso que acreditar em Jesus Cristo é um ato de liberdade, e é por isso que a  não é alienação, mas uma convicção que ajuda os seres humanos a encontrar sentido na vida, desenvolvendo relações de fraternidade, praticando a solidariedade com os outros, especialmente com os menos favorecidos e os mais fraco."

O comentário é de Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por la Repubblica, 16-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

No mundo ocidental, reina cada vez mais a indiferença em relação a Deus, em quem acreditam minorias cristãs ou pertencentes a outras religiões monoteístas, a ponto de já se falar de época não apenas secularizada, mas pós-cristã.

Até o Iluminismo a existência de Deus não era questionada, o que era considerado necessário por quase todos.

A virada da modernidade ocorre precisamente quando a afirmação da existência de Deus não é mais imposta como necessária.

Primeiro a ciência, depois a filosofia e, enfim a política, reivindicaram a liberdade e a autonomia da religião, e assim o homem moderno aprendeu a viver sem Deus, a pensar e viver na ausência de Deus, “mesmo se não houvesse Deus" (etsi Deus non daretur).

Nesse concreto processo histórico, Deus aos poucos perdeu seu "ser para a humanidade e para o mundo". Mas podemos afirmar que o "desaparecimento" de Deus tem um sentido para a própria fé: o homem se libertou de Deus e do temor de Deus, conquistando sua liberdade diante dele.

Até agora, esse fenômeno de descrença e de ateísmo se desenvolveu apenas no mundo cristão, e isso tem um significado: é um efeito do espírito do Evangelho que ensina essa liberdade e permite que o ser humano se aproxime de Deus com plena gratuidade. A modernidade, portanto, também pode ser lida como uma revolta do Evangelho contra a religião, porque Deus quer o homem livre e porque nada nos obriga a acreditar em um Deus que se revelou na cruz em Jesus Cristo, na humildade e na pobreza humana.

Um Deus na cruz não nos ameaça, mas nos deixa a liberdade de acreditar e não acreditar, enquanto as outras imagens de Deus, forjadas por seus crentes, por muito tempo o fizeram perverso, vingativo, fazendo dele um dominador onipotente que reivindicava glória e honra. Deus, ao invés disso, é a suprema gratuidade que abre para nós o espaço infinito da liberdade, e a busca por ele que fazemos é sempre uma busca por humanidade. A fé cristã rejeita garantias, enquanto a religião as oferece.

É por isso que acreditar em Jesus Cristo é um ato de liberdade, e é por isso que a não é alienação, mas uma convicção que ajuda os seres humanos a encontrar sentido na vida, desenvolvendo relações de fraternidade, praticando a solidariedade com os outros, especialmente com os menos favorecidos e os mais fraco. A igreja hoje muitas vezes se queixa da perda da fé em Deus e atribui tal processo ao homem orgulhoso e idólatra de si mesmo. Na minha opinião, deveria refletir sobre o fato de que na modernidade deixou o homem sozinho depois de tê-lo sobrecarregado com um excesso de intransigência e de autoritarismo.

 

Leia mais