Parece que há questões destacadas nas discussões na assembleia sinodal do Sínodo para a Amazônia, mas, acima de tudo, está sendo imposto um ambiente fraterno, que com o tempo vai ajudar a focar nos objetivos do Sínodo, “dar o melhor pela Amazônia, defender a causa dos pobres, a causa amazônica”, como reconhece um dos padres sinodais, o Oblato de Maria Imaculada, padre Roberto Carrasco.
A entrevista é de Luis Miguel Modino.
O religioso lembra que "o centro está se tornando periferia e a periferia está se tornando o centro". Este é "um novo estilo, uma nova maneira do Papa Francisco", destacando como temas centrais a interculturalidade e o papel dos leigos, principalmente das mulheres, que desempenham um papel fundamental na Amazônia, pois "para onde vamos, encontramos uma religiosa, uma leiga”.
O padre sinodal afirma que as mulheres "estão começando a ter voz", algo que considera necessário. De fato, a reação às intervenções femininas é "muito positiva", com aplausos, insistindo que "estamos muito felizes em sentir que essa voz precisa ser ouvida", pois ouvir a voz de uma mulher "enriquece e faz a Igreja, a Palavra de Deus, seja transmitida com aquela sensibilidade que muitas vezes nós, os homens, não temos”.
Como o senhor vê que esses primeiros dias da assembleia sinodal estão se desenvolvendo, quais são os problemas que mais aparecem nas reflexões?
Vejo que o ambiente é muito fraterno; em primeiro lugar, todos nós desejamos dar o melhor de nós pela Amazônia, defender a causa dos pobres, a causa amazônica. Mas, acima de tudo, dar esse grito, acompanhar esse grito e transmitir aquele grito que vem da periferia.
Alguém disse que o centro está se tornando periferia e a periferia está se tornando o centro. Eu acredito que isso é fundamental, porque aqueles de nós que estamos aqui, dentro desta sala sinodal, estamos percebendo que concordamos nas denúncias, concordamos nas esperanças, mas acima de tudo concordamos na fé em um Deus. Porque se existem certas diferenças, que são pequenas, não são como algumas pessoas, que estão se sentindo escandalizadas, porque acreditam que a proposta amazônica mudará a estrutura da Igreja, não.
Pelo contrário, não é apenas uma proposta, é um novo estilo, é uma nova maneira do Papa Francisco. Acredito, por exemplo, no papel da mulher, que está sendo muito comentado, acredito na questão da interculturalidade, na questão do diálogo intercultural, que está sendo discutida, hoje falamos muito sobre isso. Um tema muito importante é como abrir novos ministérios para os leigos. Porque, às vezes, os leigos são assim, digamos, determinados pelos padres. Mas temos que quebrar esses individualismos, quebrar esse clericalismo para dar uma oportunidade ao laicato, não apenas participativo, mas também um laicato que nos ajude a tomar decisões.
Isso inclui, é claro, a participação das mulheres, que hoje tem sido o ponto focal porque foram resgatadas e valorizadas, sua presença foi exaltada. Então, acho que hoje isso foi fundamental. E há algo que quero sublinhar: que hoje houve uma atitude de grande tranquilidade, não era como nos dias anteriores. Acho que neste terceiro dia as pessoas se sentiram mais confiantes, já acredito que estamos nos conhecendo mais, estamos nos liberando mais e as propostas são mais ricas. Porque, como disse o Papa Francisco, não tenham medo, não tenham vergonha de falar, mas muito pelo contrário, ajudem-me, disse o Papa Francisco, com todas as suas opiniões, com tudo o que sentem e o que pensam.
Como o Sínodo pode ajudar a Igreja a descobrir, não apenas na Amazônia, mas também na Igreja universal, que sem os leigos, especialmente sem as mulheres, é mais difícil realizar essa labor de presença, essa labor de evangelização?
Olha, aqueles de nós que viajamos pela Amazônia, e você sabe disso, sabemos muito bem que para onde vamos encontramos uma religiosa, uma leiga. A Amazônia tem um rosto feminino, a Amazônia é uma mulher, e ouso dizer isso, uno-me aos gritos de tantas religiosas, de tantas mulheres leigas, encarregadas da Igreja, não apenas acompanhando, ouvindo. E acredito que essa deve ser a atitude da Igreja hoje, a atitude da Igreja não apenas de uma mudança, mas de uma abertura para essa face, para esse olhar, para esse coração feminino. Por que? Porque a Igreja é Mãe e Mestra. Então, se ela é Mãe e Mestra, então ela também tem o coração dessa Mãe.
Acredito que apostar hoje no trabalho missionário, no trabalho de presença e dando às mulheres o espaço de que precisam, entre aspas, para formalizá-lo, acho que seria fundamental. Não sei como será o ministério, nem a conclusão final, porque ainda não está sendo discutido, apenas intervenções estão sendo ouvidas. Mas o bom vento é que o papel das mulheres, para nós que estamos dentro, é totalmente importante.
E as mulheres estão conversando, estão tendo voz dentro da assembleia?
Naturalmente, elas estão começando a ter voz. Ainda sinto que há algo lá, mas precisamos que elas se soltem, não podemos forçar isso, precisamos que elas sintam-se à vontade para conversar também. Acredito que haverá um momento de explosão a qualquer momento, porque ainda não chegamos. Penso que até hoje falamos, mais ou menos, de 60 a 70 pais sinodais, pouco mais de 100 ainda estão faltando. Então, entre toda a voz feminina que foi ouvida, foi ouvida e ainda precisamos ouvir mais elas.
As poucas mulheres que falaram, qual foi a reação, especialmente da parte dos homens que estão na assembleia sinodal a essa posição das mulheres?
Aqueles que estão perto de mim, que são bispos e padres, são muito positivos. Aplaudimos, estamos muito felizes em sentir que essa voz precisa ser ouvida. Você sabe que aqui nesses círculos, a Igreja está acostumada à voz masculina, mas ouvir uma voz feminina, ouvir uma voz feminina acho que enriquece e faz a Igreja, a Palavra de Deus, ser transmitida com a sensibilidade que muitas vezes nós, homens, não temos.