23 Setembro 2019
Michael Czerny, padre que em breve será declarado cardeal e um dos principais assessores do Papa Francisco, atuando como um rosto público da pauta de Francisco para os migrantes e refugiados e que desempenhou um papel fundamental na organização do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia a ocorrer no próximo mês, disse que não se preocupa com as críticas que o evento tem recebido.
A reportagem é de Elise Harris, publicada por Crux, 22-09-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Na opinião de Czerny, a atenção mundial que o sínodo vem recebendo, mesmo se negativa às vezes, é um sinal da importância de sua pauta.
Falando à imprensa durante a apresentação, em 20 de setembro, do novo projeto “Amazônia: Casa Comum”, Czerny disse: “Acolhemos o interesse neste sínodo”, acrescentando que o falatório sobre certos pontos, como o de padres casados, “já é algo interessante”.
Atualmente um dos subsecretários do departamento para migrantes e refugiados – parte do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral –, que se reporta diretamente ao papa –, Czerny receberá o barrete vermelho das mãos de Francisco em 5 de outubro. Quando ele fala, portanto, presume-se que se esteja ouvindo o pensamento do próprio papa.
Embora não tenha começado ainda, o sínodo amazônico dos dias 6 a 27 de outubro – a coincidir com um mês missionário extraordinário convocado por Francisco – já gerou polêmicas entre os críticos que argumentam que a sua pauta é mais política do que espiritual, e que a possível ordenação na Amazônia dos chamados viri probati, ou homens casados maduros, seria uma ameaça à identidade sacerdotal.
Estes debates sobre temas geográficos, políticos e econômicos – que vão desde questões ambientais a mulheres e aos direitos indígenas – equivalem a uma distração da missão espiritual da Igreja, segundo Czerny. “Há muitas dimensões” no sínodo, diz ele, que insistiu que “é um tópico fundamentalmente humano que, sobretudo, envolve a Igreja”.
O religioso notou como aquilo que acontece no Salão Sinodal é muitas vezes diferente do que a imprensa representa, e falou que o debate não deveria se reduzir a uns poucos temas candentes.
“Os membros do sínodo são todos maduros; eu não acho que haja algum perigo de confusão”, disse, acrescentando que, independentemente do que acontecer, em sua opinião, “isso só enriquecerá o processo”.
Ao tocar no tema das mudanças climáticas e naqueles que não se alinham com a postura do Vaticano apresentada na encíclica ambiental de 2015 de Francisco intitulada Laudato Si’, Czerny observou que esse ceticismo climático é um fator a considerar, “mas não é decisivo”.
“Como avançar nestes temas é uma boa pergunta”, disse ele, saudando o movimento climático dos jovens lançados pela adolescente sueca Greta Thunberg, cujas greves estudantis chamadas Sextas-feiras pelo Futuro viraram sensação internacional.
Os jovens, segundo Czerny, “têm uma resposta muito importante e existencial para esse perigo, seja uma resposta sincera ou só uma farsa”. Observando como os jovens em geral falam a partir da própria experiência, o futuro cardeal ressaltou que “é um testemunho muito importante a se ouvir”.
O religioso também saudou iniciativas como o projeto Amazônia: Casa Comum, que, disse ele, pode servir não apenas como uma fonte central para o sínodo, mas também para os pobres e populações vulneráveis da região amazônica.
Lançado como resposta ao Sínodo sobre a Amazônia, o projeto é uma iniciativa que reúne diferentes grupos, organizações e instituições que realizarão eventos durante a assembleia sinodal. Entre elas está a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, entidade que tem desempenhado um importante papel na organização do sínodo.
Cerca de 130 eventos já estão no calendário com a presença de aproximadamente 50 indígenas. A programação inclui momentos de oração, mostra fotográfica, palestras e debates. Um sítio eletrônico para o projeto já foi lançado em italiano, inglês, espanhol e português.
Em conversa com jornalistas via Skype, o Cardeal Pedro Barreto Jimeno, de Huancayo, no Peru, vice-presidente da REPAM e um dos três presidentes delegados a participar do sínodo, falou que a assembleia especial sinodal deste ano se originou na Assembleia Geral do Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM, ocorrida em Aparecida-SP, em 2007.
Na época, o então arcebispo de Buenos Aires, Dom Jorge Mario Bergoglio, esteve encarregado de laborar o documento final do encontro, que, de acordo com Barreto, “falava de uma necessidade de conscientização nas Américas sobre a importância da Amazônia para a humanidade, não apenas como um espaço geográfico, mas como os pulmões do mundo”.
Ele apontou para dois documentos-chave de Francisco – a exortação apostólica de 2013, Evangelii Gaudium, e Laudato Si' – dizendo que ambos “contêm muito do que Aparecida quis dizer para nós latino-americanos”.
Ao falar do papel da Igreja na região, Barreto disse que a tarefa primária é escutar as pessoas que aí vivem e tentar dar o melhor para atender às necessidades delas.
Barreto lembrou como uma mulher que morava na Amazônia contou que “os políticos não têm tempo para nos ouvir, os empresários muito menos. Mas o Papa Francisco e a Igreja Católica têm tempo para nos escutar com prazer e atenção”.
“O que acontece na Amazônia, as alegrias e os sofrimentos, também acontece à humanidade”, disse ele, expressando a convicção de “que este sínodo já está dando frutos”.
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Importante assessor papal, novo cardeal não se preocupa com agitação pelo Sínodo amazônico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU