Programa “Future-se” e a mercantilização da educação e da ciência é tema da revista IHU On-Line desta semana

Fachada da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná – UFPR, durante manifestação contrária ao contingenciamento de recursos pelo Governo Federal/ Foto: Associação de Professores UFPR

20 Agosto 2019

A edição 539 da IHU On-Line, intitulada "Do ethos ao business em tempos de 'Future-se'", propõe reflexões acerca da mercantilização da educação e da ciência

Lançado recentemente pelo Governo Federal, o programa Future-se tem causado muitas discussões. Isso porque nos pilares que sustentam a proposta estão a abertura das academias a parcerias com a iniciativa privada, gestão descentralizada e afastada da máquina estatal, além do financiamento associado a fundos de investimentos no mercado de capitais. Para quem vive a realidade universitária no Brasil, o projeto é o último ataque às instituições públicas de ensino, pois, além de repetir ações que já são desenvolvidas, retira o Estado de cena e as entrega ao mercado, limitando a autonomia de pesquisa e gestão. É nesse sentido que o Future-se converte-se em “Fature-se”. As repercussões tendem a inundar todo o universo acadêmico, impactando tanto as universidades públicas quanto as privadas.

A IHU On-Line entra nesse debate para refletir sobre a proposta.

 

Para Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia na Unicamp, a proposta visa apenas uma visão eficiente – nos modelos do mercado – e se descola da acadêmica. Para ele, assim como as universidades públicas, as confessionais e comunitárias “serão produtoras de dividendos para acionistas e não geradoras de ideias”.

Ivan Domingues, filósofo e professor titular da UFMG, também vê a proposta como algo que desvirtua a gênese da universidade, transformando seu ethos em business.

Carolina Catini, professora do departamento de Ciências Sociais da Educação da Faculdade de Educação da Unicamp, vê na proposta a revelação de mais uma das faces da financeirização e privatização dos direitos sociais que move o atual governo.

O professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, em Portugal, Boaventura de Sousa Santos, analisa como a educação e a geração de ciência vão se convertendo, historicamente, num lucrativo mercado.

Future-se está aberto para consulta pública até dia 29 de agosto, através do site do MEC

 

Para Marina Campos de Avelar Maia, doutora em Educação e pesquisadora associada ao Graduate Institute of International and Development Studies, da Suíça, corre-se o sério risco de gerir uma universidade reduzida a lógicas de grandes redes internacionais de fast-food.

Tatiana Roque, professora do Instituto de Matemática da UFRJ, destaca que esses ataques à universidade precisam ser compreendidos no contexto desse governo que, segundo ela, faz avançar a democracia iliberal.

José Geraldo de Sousa Junior, doutor em Direito e professor e ex-reitor da UnB, analisa em detalhes o Future-se e vê como principal problema “o caráter inteiramente vendido à lógica privatizante e mercadorizadora do projeto econômico-político que está por trás, delirante do ethos público universitário que marca o sentido social e político da universidade como condição estratégica para o desenvolvimento soberano do país”.

O ex-ministro da Educação, filósofo e professor na USP, Renato Janine Ribeiro, é taxativo ao afirmar que o Future-se é uma proposta de quem não conhece a realidade da universidade no Brasil.

 

Andréa Caldas, doutora em Educação e professora na UFPR, chama atenção de como a inserção de lógicas mercadológicas pode arruinar o ambiente acadêmico e, logo, as produções científicas.

A proposta do Future-se compreende, além das universidades, os Institutos Federais de Educação. Flávio Luis Barbosa Nunes, reitor e professor do Instituto Federal Sul-rio-grandense - IFSul, destaca que essas instituições são tão prejudicadas quanto a academia. Para ele, a gestão estatal é fundamental para assegurar o acesso universal à formação integral do sujeito.

A versão eletrônica está disponível em versão HTML.

A versão impressa circulará na Unisinos Campus São Leopoldo e na Unisinos Campus Porto Alegre a partir desta 4a. feira.

 

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