Corte australiana julgará na próxima semana a apelação do cardeal Pell

Cardeal George Pell. Foto: The Tablet

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16 Agosto 2019

Um tribunal australiano anunciará seu veredito na próxima semana sobre a apelação do mais antigo clérigo católico considerado culpado por abuso sexual de crianças.

Cardeal George Pell pode ficar em liberdade se os juízes o absolverem das cinco acusações por molestar dois meninos do coral da catedral, mais de duas décadas atrás. Eles também podem encomendar um novo julgamento, nesse caso, Pell poderia ser libertado sob fiança. Ou então rejeitarem a apelação.

A reportagem é de Crux, 15-08-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Não importa o veredito do Tribunal de Apelação do estado de Victoria, o caso de Pell provavelmente terminará na Suprema Corte, a instância final da Austrália.

Pell, 78, está em uma prisão em Melbourne desde março, quando foi condenado a seis anos por acusações de ter violado um menino de 13 anos e também ter lidado indecentemente com o menino e o amigo de 13 anos do menino em uma sala dos fundos da Catedral de St. Patrick, em Melbourne, em dezembro de 1996. Ele também foi condenado por apertar um dos genitais do menino em um corredor da catedral, em fevereiro de 1997.

O tribunal de apelações ouviu seus argumentos contra as cinco condenações no início de junho, e os três juízes anunciaram na quinta-feira que vão dar seu veredicto na próxima quarta-feira.

Pell havia se tornado arcebispo de Melbourne, a segunda maior cidade da Austrália, meses antes de seus crimes supostamente terem ocorrido e estabelecido um acordo de indenização mundial para vítimas de abuso sexual de clérigos. Ele foi até recentemente ministro das finanças do papa Francisco, descrito em seu julgamento como o terceiro clérigo mais antigo do Vaticano.

Os advogados de Pell precisam provar nas apelações à corte que o júri de oito homens e quatro mulheres, que em unanimidade o condenaram em dezembro, devem ter dúvidas razoáveis sobre a sua culpa. Um julgamento anterior havia terminado em impasse. Em uma decisão por maioria de 11 a 1 para condená-lo ou absolve-lo poderia ter sido aceita, mas um dos jurados não aceitou.

“Os vereditos representam uma falha do nosso sistema de júri”, disseram os advogados de Pell na declaração submetida ao tribunal de apelação.

“Se aceita o que os juris podem e fazem, as vezes, dar vereditos perversos nos quais estão insustentáveis pelas evidência como o um todo e estão também contrários à lei”, adicionam.

Os procuradores responderam que a evidência de mais de 20 padres, membros do corais, acólitos e oficiais da igreja mostraram que eram “possíveis obstáculos” para o caso de acusação, mas não impediram o que júri decidisse satisfatoriamente, além de uma dúvida razoável sobre o caso de Pell.

Os advogados de Pell argumentam que os eventos em 1996 como descritos pela acusação eram “improváveis e também impossíveis” de terem acontecido rapidamente e em uma parte da catedral onde os acólitos e padres andavam a qualquer momento.

Um dos meninos dos corais, identificado pelo juiz de condenação como J.J., foi a chave para as testemunhas de acusação. Seu amigo, identificado como M.R., morreu de overdose de heroína em 2014, aos 31 anos, sem nunca ter reclamado de ter sido abusado.

Pell também foi condenado sobre uma alegação que ele agarrou J.J. pelas genitais e empurrou contra a parede nos corredores da catedral logo depois de uma missa, em 1997. Os advogados de Pell escreveram no recurso à corte que a alegação era “implausível”.

O procurador Chris Boyce descreveu a queixa como uma “testemunha muito forte”.

“Ele claramente não é um mentiroso. Ele não é um fantasista. Ele era uma testemunha da verdade”, disse Boyce ao tribunal de apelação.

Pell não prestou depoimento em nenhum dos seus julgamentos.

Mas ambos os jurados viram suas reações às alegações quando foram levados a ele pela polícia em um registro em vídeo de uma entrevista em Roma em 2016. Pell rejeitou as acusações como “lixo absolutamente vergonhoso” e uma “falsidade desordenada”.

O papado de Francisco foi tumultado pelos abusos sexuais clericais e pela manipulação da Igreja nesses casos. Em pouco mais de um ano, o Papa reconheceu ter cometido "graves erros" no pior encobrimento do Chile, Pell foi condenado por abuso, um cardeal francês foi condenado por encobrir um pedófilo e um terceiro cardeal, ex-norte-americano, líder da igreja, Theodore McCarrick, foi destituído depois que uma investigação do Vaticano determinou que ele molestou crianças e adultos.

A Igreja da Austrália tem enfrentado uma grave crise.

O ex-arcebispo de Adelaide, Philip Wilson, em 2018, tornou-se o católico mais graduado condenado por esconder abuso sexual infantil. Isso foi antes de o cardeal francês Philippe Barbarin receber uma sentença suspensa de seis meses por um tribunal de Lyon sob uma condenação semelhante em março deste ano.

Mas um tribunal de apelação do estado de Nova Gales do Sul em dezembro revogou a condenação de Wilson depois que ele cumpriu quase quatro meses de uma sentença de prisão domiciliar por um ano.

Em uma decisão que poderia dar esperança a Pell, a promotoria no caso de Wilson decidiu não recorrer a um tribunal superior.

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