Medjugorje: Mas afinal, o papa deu seu aval às famosas “aparições” da Kraljice Mira (o título com o qual Nossa Senhora teria se revelado aos seis videntes bósnios)?

Imagem de Nossa Senhora em Medjugorje. | Foto: Wikipédia

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08 Agosto 2019

Não é compreensível passar a ideia de que Medjugorje seja um lugar de oração e de conversão, e em tal dimensão não tenha nada a ver com as supostas "aparições" da Mãe de Deus. Está crescendo uma grande confusão nada saudável para a vida de fé de milhões de católicos.

A reportagem é publicada por Il sismógrafo, 07-08-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

É verdade que o Papa Francisco, em mais de uma ocasião, oficial e pública, se declarou bastante incrédulo quanto às famosas "aparições" de Nossa Senhora de Medjugorje. Em algumas oportunidades, ele até usou palavras sarcásticas. Francisco disse, por exemplo, retornando de Fátima "Eu prefiro a mãe da Nossa Senhora mãe, e não a Nossa Senhora chefe de escritório telegráfico que envia uma mensagem todos os dias".

Deve ser lembrado que desde as primeiras "aparições" (24 de junho de 1981), Nossa Senhora de Medjugorje teria entregue ou transmitido aos videntes bósnios pelo menos 70 mil mensagens. Também é verdade que, há mais de cinco anos, o Santo Padre tem em sua mesa o relatório final da Comissão presidido pelo cardeal Camillo Ruini, um grupo de especialistas internacionais que estudou a fundo a questão "Medjugorje".

É também verdade que numa conferência de imprensa, o Papa Francisco revelou a substância de tais conclusões dizendo algo que não se entende de imediato, ou seja: a Comissão Ruini decidiu expressar-se com dois votos, um sobre as primeiras sete supostas aparições, que ocorreram entre 24 de junho e 3 de julho de 1981, que seriam sobrenaturais (milagrosas) e outro voto sobre tudo o que aconteceu depois de 3 de julho de 1981 e que, obviamente, não pode ser certificado como sobrenatural.

Ninguém nunca explicou até o momento, com transparência e clareza, quais são as razões que permitem dizer que, até 3 de julho de 1981, os videntes viram, realmente, Nossa Senhora (que teria falado com eles) e que todos os milhares e milhares de aparições subsequentes - incluindo mensagens, conversas e até mesmo revelações de segredos - não seriam eventos possíveis de serem julgados "verídicos" como fatos sobrenaturais.

Qual seria a "discriminante"? O que torna possível distinguir esses dois períodos? Uma distinção nada insignificante, pois separa aparições privadas, reconhecidas pela Igreja como sobrenaturais, de fatos e eventos sobre os quais a mesma Igreja exclui dimensões sobrenaturais.

Se essa passagem não for explicada, os católicos, os fiéis, permanecerão imersos na confusão total que desde sempre caracterizou essas supostas aparições de Medjugorje.

Em qualquer caso, deve recordar-se que enquanto isso, nestes anos, o Papa Francisco se concentrou sobretudo na dimensão pastoral, explicando sempre que essa dimensão, urgente e necessária para os peregrinos, não diz respeito à questão de fundo, ou seja, a verdadeira natureza das aparições. Em outras palavras: nada do que até agora foi decidido em matéria pastoral e será decidido no futuro, tem a ver com a decisão final do Pontífice sobre o Relatório Ruini. O Papa e a Santa Sé reiteraram tudo isso claramente em várias ocasiões.

O eixo dessa preocupação pastoral em relação a Medjugorje é o arcebispo polonês Mons. Henryk Hoser, enviado especial do Papa, que vem trabalhando intensamente no local desde 2017.

Considerando a veracidade do que foi dito antes, deve-se explicitar, entretanto, que a recente participação no Festival Juvenil de Medjugorje de cardeais, arcebispos, bispos e outros prelados, muitos deles colaboradores do Papa no Vaticano e na sua diocese, levanta algumas questões cujas respostas, o bom senso e a lógica do pensamento, evidenciam como uma operação indolor (sem polêmica) colocada em prática para avalizar as aparições da Kraljice Mira (Rainha da Paz, o título com o qual Nossa Senhora se apresentou aos "videntes").

Por que estamos dizendo isso?

Porque dizer "Medjugorje" significa necessariamente "aparições de Nossa Senhora". Medjugorje não é apenas um lugar qualquer e ter a pretensão de passar a ideia de que Medjugorje seja um lugar de peregrinação, conversão, confissão, oração e cura, independentemente da chamada "Nossa Senhora de Medjugorje", não é correto, ou melhor, é insidioso porque pode dar impressão de que se trata de uma maneira tangencial de resolver a questão. Tanto é assim que, há dias circulam artigos sobre o fato de que, mesmo que indiretamente, o Santo Padre reconheceu a natureza sobrenatural das aparições de Medjugorje. Isso evidencia a confusão a que nos referimos.

Para os fiéis não é compreensível a distinção que se quer fazer entre Medjugorje "lugar de oração e conversão" e Medjugorje "lugar de aparições da Mãe de Deus". A relação entre lugar e aparições, neste caso, é intrínseca, de outra forma não se entende porque, do ponto de vista pastoral, não se proclama lugar de oração e conversão o Maracanã no Brasil ou o Grand Canyon no Colorado, ou qualquer outro lugar do mundo.

Se é legítimo, bom e urgente o cuidado pastoral daqueles que vão em peregrinação aos lugares dessas chamadas "aparições marianas" (não há outro motivo para ir a Medjugorje!), a mesma urgência de cuidado pastoral existe em relação a centenas de milhões de católicos que querem saber com clareza o que o magistério diz sobre as aparições da Virgem Santa neste lugar específico e que querem sabê-lo com palavras cristalinas, sem tantos artifícios muitas vezes incompreensíveis.

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