31 Julho 2019
As produções vencedoras da 52ª Edição dos Prêmios de Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foram anunciadas no dia 19 de julho durante a programação do 11º Mutirão Brasileiro da Comunicação, em Goiânia (GO). O evento também homenageou a freira e agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dorothy Stang, assassinada em 2005 no Pará.
A reportagem é publicada por Comissão Pastoral da Terra - CPT com informações da CNBB, 30-07-2019.
Um trabalho produzido a muitas mãos e que durou cerca de 10 anos, o longa-metragem “O Voo da Primavera” representa, conforme a Essá Filmes, um fragmento histórico “da luta pela terra e pelo território no Brasil, que retrata a resistência indígena, quilombola, camponesa e tem como linha condutora o trabalho de Dom Tomás Balduino”, um dos fundadores da CPT e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). A obra foi vencedora na categoria longa-metragem “Margarida de Prata”.
“Esse é um prêmio coletivo. Ele foi conquistado a partir de muitas organizações e pessoas que acreditaram que o cinema também é um espaço de luta, de resistência e de mostrar os direitos humanos. E é muito importante esse filme ter sido escolhido diante do que vivemos hoje no Brasil, com grandes retrocessos no meio ambiente e nos direitos humanos. São tantos retrocessos em tão pouco tempo. E esse filme bate de frente com tudo isso, revive esse movimento histórico de luta e resistência pela conquista dos direitos sociais, traz um pouco do que foi a ditadura militar no Brasil e mostra pessoas que se uniram para lutar por um bem maior, a vida”, explica Dagmar Talga, diretora do filme.
Além da categoria longa-metragem, a CNBB premia trabalhos nas áreas de Rádio (Prêmio Microfone de Prata), Imprensa (Prêmio Dom Hélder Câmara), TV (Prêmio Clara de Assis) e Internet (Prêmio Dom Luciano Mendes de Almeida). Para a organização religiosa, a iniciativa é uma forma de enaltecer “os valores humanos e cristãos em trabalhos em diversas áreas da comunicação e da arte”.
Há alguns anos, na sede da CPT em Uberlândia, em Minas Gerais, Dagmar Talga e Dom Tomás conversavam quando surgiu a proposta de realizar um filme sobre o religioso, que concordou, mas ponderou: “Que não seja uma biografia, e sim que mostre as lutas e as causas”, relembra a diretora do filme, que é formada em jornalismo pela Universidade do Triângulo Mineiro e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Militante na área de comunicação, Talga considera que os comunicadores e comunicadoras devem construir, continuamente, em suas produções, uma leitura crítica sobre a comunicação. “Seja a partir do cinema, das artes, da informação, a comunicação tem que estar bem definida e ter uma olhar para a sociedade, e não construir uma realidade a partir dos fatos”.
A jornalista ressalta que todas as pessoas e organizações que participaram da produção do longa “estão muito felizes com esse prêmio, pois Dom Tomás buscou a vida inteira um bem comum a partir de suas articulações, de sua palavra, de seu abraço, e de sua imensa coragem”.
Apresentado ao público em maio de 2018 durante a Semana Dom Tomás Balduino na Cidade de Goiás, o filme tem Produção Executiva da Essá Filmes, Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, Gwatá – Núcleo de Agroecologia e Educação do Campo da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Diocese de Goiás, Família Dominicana, e Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis da UEG.
Dedicado ao cinema, no ano 1967 a CNBB deu início ao Prêmio de Comunicação intitulado “Margarida de Prata”. Para a Conferência, “essa iniciativa representou um importante apoio à produção cultural livre do país, sobretudo, na época em que o país passava por um período de repressão militar”.
Ao longo de mais de cinco décadas, importantes produções cinematográficas foram premiadas, como “Morte e Vida Severina”, de Zelito Viana; “A Queda”, de Ruy Guerra e Nelson Xavier; “Os Anos JK – Uma Trajetória Política”, de Silvio Tendler; “Em Nome da Razão”, de Helvécio Ratton; “Eles não usam Black‐Tie”, de Leon Hirszman; “Central do Brasil”, de Walter Salles; “Frei Tito”, de Marlene França; “Bicho de Sete Cabeças”, de Laís Bodanzky; entre tantos outros.
A luta pela terra e pelo território representa um capítulo longo e violento da história brasileira. Essa história, que passa pelo avanço do capitalismo no campo, esteve permeada pela expropriação material e simbólica dos povos indígenas, das populações tradicionais e comunidades camponesas, além de ter resultado em milhares de assassinatos em conflitos no campo. Em contrapartida, o povo organizado em movimentos sociais, com apoio de diferentes organizações, tem construído uma base sólida de luta e resistência.
Nesse processo estiveram imersos, direta ou indiretamente, vários sujeitos e instituições. Alguns setores da Igreja Católica, a partir de grupos ligados à concepção da Teologia da Libertação, compuseram a raiz da luta pela terra, território, e pelo povo do campo, das águas e das florestas. Dom Tomás Balduino, que atuou como bispo na Cidade de Goiás (GO) entre 1967 e 1998, foi um personagem importante da resistência com o povo. Defendeu durante toda a vida que “Direitos não se pedem de joelhos, mas se exigem de pé”.
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Filme ‘O Voo da Primavera’, sobre Dom Tomás Balduino, recebe prêmio ‘Margarida de Prata’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU