19 Julho 2019
Em um filme que retrata a vida de Jesus através das lentes de sua principal discípula feminina, é inspirador que o que mantém tudo conectado é a paixão compartilhada por Deus e pelo Reino de Deus. Essa relação cheia de fé é central para a fidelidade de Maria e para a necessidade de Jesus do compassivo acompanhamento através do sofrimento e da morte.
Esse mesmo relacionamento levou Maria ao túmulo na manhã de Páscoa.
Nossos próprios relacionamentos cheios de fé nos abrem ao amor e fidelidade de Deus em tempos de sofrimento. Sofrimento que parece ser parte integrante do nascimento do novo Reino de Deus.
O comentário é de Christine Schenke, religiosa da congregação das Irmãs de São José, é enfermeira e trabalhou como parteira com famílias urbanas durante 18 anos, antes de co-fundar a FutureChurch, publicado por National Catholic Reporter, 17-07-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Todos os meses de julho, durante os últimos 23 anos, eu aderi às belas celebrações em honra à Santa Maria Madalena. Ao preparar a festa para ela neste ano, eu vi o filme “Maria Madalena", dirigido por Garth Davis, com Rooney Mara como Maria Madalena, Juaquin Phoenix como Jesus, e Chiwetel Ejiofor como Pedro.
Previsivelmente, o filme atraiu tanto elogios como críticas. Eu adorei a positiva resenha de John Anderson, em America Magazine: “O filme de Maria Madalena é de muitas formas um ato de amor, um esforço para contar sua história atualizada e honestamente, com fidelidade às Escrituras”.
Eu lamentei a queixa de Michael Ward sobre o que ele via como o "ritmo glacial" de um filme que foca mais na relação cheia de fé entre Maria e Jesus do que no shazam de milagres, parábolas ou cenas de paixão cheias de ação. O retrato do filme sobre a crucificação é angustiante, mas não há glorificação gratuita da violência, à la Mel Gibson – em A Paixão de Cristo.
Do mesmo modo eu concordo com Rose Pacatte, que na sua opinião, o filme é perfeito para a Semana Santa, e também uma forma perfeita de celebrar a eminente “Apóstola dos Apóstolos”, na sua festa em 22 de julho (Outra grande forma de celebrar, é fazendo download dos materiais gratuitos – em inglês – da FutureChurch, neste link).
Escrito por Helen Edmundson e Philippa Goslett, o filme é cinematograficamente bonito, quanto bem fundamentado em pesquisas contemporâneas sobre o contexto religioso e político em que Jesus e Maria procuraram Deus e o Reino de Deus.
Encontrar Deus e o "Reino" de Deus guia a busca de Maria e a paixão de Jesus para levar os valores de Deus a um povo oprimido, dilacerado pela pobreza e pela violência política, no qual os líderes religiosos são cúmplices (Por que isso soa familiar?).
Eu amei a interpretação inovadora dos demônios de Maria como sua incapacidade de se conformar às normas patriarcais. Sua veemente recusa a se casar - "Eu não fui feito para essa vida" - leva a um exorcismo excruciante nas mãos de seu irmão que quase a afoga no mar da Galiléia. Mas o pai deles intervém e a família se volta para o “curandeiro” Jesus.
A troca perspicaz de Maria com Jesus marca o início de um relacionamento profundamente enraizado em Deus e nas coisas de Deus.
"Sua família diz que você tem um demônio", diz Jesus.
"Se há um demônio, sempre esteve lá", lamenta Maria.
"O que você deseja?" Jesus pergunta.
"Conhecer a Deus", Maria responde.
"E ainda assim você sentiu a presença de Deus", observa Jesus.
"Às vezes, em silêncio", admite Maria.
"Sempre esteve lá. Tudo o que precisa é da sua fé", explica Jesus gentilmente.
Depois de um silêncio fértil, ele toca suavemente sua testa. "Não há demônios aqui. Descanse na luz", diz ele.
Maria logo se torna o primeiro membro feminino do corpo de Jesus, apesar do aviso de sua irmã: "Todos aqueles homens com ele, você estará perdida".
Enquanto isso, os homens reclamam que "ela vai dividir nossa comunidade".
Em um filme que poderia ser considerado um midrash cristão, Maria facilita o caminho para Jesus ensinar outras mulheres. Ele pergunta a ela "o que devo ensinar?"
"Somos tão diferentes dos homens que você deve nos ensinar coisas diferentes", é a resposta espirituosa de Maria. Mas uma mulher na multidão fala: "Somos mulheres. Nossas vidas não são nossas".
"Seu espírito é seu e você deve responder por isso - você é precioso para Deus", Jesus diz a ela. Quando confrontados com a escolha de obedecer a Deus ou a seu marido, eles devem seguir a Deus, mas ele lhes diz: "embora eles te julguem, te perseguem, você deve perdoar".
Outra mulher ousadamente desafia Jesus, contando-lhe uma esposa assassinada pelos homens de sua família por causa de alegado adultério. Embora um irmão tenha se arrependido e pedido perdão a Deus, a mulher não poderia: "Eu não sou Deus", ela diz amargamente.
"O que esse ódio faz por você?" Jesus desafia. "Como se sente? Ele se infiltra em seus dias e noites até consumir tudo o que você já foi. Você é uma irmã forte, mas precisa perdoar. Não há outro caminho para entrar no reino de Deus."
Quando as mulheres escolhem se unir ao grupo itinerante de Jesus, elas não se sentem confortáveis em ser batizadas pelos homens. Maria os batiza com Jesus nas proximidades. Isso é consistente, com evidências históricas significativas, de que as mulheres batizaram outras mulheres na igreja primitiva.
Com base em fontes extra-canônicas destacando a liderança de Maria no cristianismo primitivo, o filme retrata Maria compreendendo melhor que os discípulos masculinos sobre o significado da vida, morte e ressurreição de Jesus.
Depois que Jesus destrói raivosamente as mesas dos cambistas do templo - "o Reino de Deus não é para ser comprado e vendido. Nem uma pedra será deixada sobre a outra". - os discípulos masculinos querem tirá-lo da cidade imediatamente. Mas Jesus pede a Maria para "abrir os olhos para a luz". A vinda do Reino "já começou", com o Templo, a ação que torna sua prisão e morte inevitáveis. "Não deixe que eles parem com isso", ele implora.
"Eu estarei com você, não vou sair", promete Maria. Então, Jesus diz à ela: "Você é minha testemunha".
Os homens - liderados por Pedro e Judas - esperam que Jesus inaugure o tão esperado Reino de Deus com poder e dramáticos milagres indutores do medo. Eles não estavam preparados para aceitar, como Jesus já havia feito, a dolorosa verdade de que o sofrimento e a morte são parte integrante do nascimento do novo Reino de Deus.
Depois de acompanhar Jesus em sua morte horrível e experimentar a sua presença ressuscitada, Maria diz aos perturbados discípulos: "Talvez tenhamos entendido mal. Até a morte já se foi. O reino não pode ser construído pelo conflito. Não por oposição. Não por destruição. Ela cresce conosco, com cada ato de amor e cuidado. Com o nosso perdão ".
Em um filme que retrata a vida de Jesus através das lentes de seu principal discípulo feminino, é inspirador que o que mantém tudo conectado é a paixão compartilhada por Deus e pelo Reino de Deus. Essa relação cheia de fé é central para a fidelidade de Maria e para a necessidade de Jesus de acompanhamento compassivo através do sofrimento e da morte.
Esse mesmo relacionamento levou Maria ao túmulo na manhã de Páscoa.
Nossos próprios relacionamentos cheios de fé nos abrem ao amor e fidelidade de Deus em tempos de sofrimento. Sofrimento que parece ser parte integrante do nascimento do novo Reino de Deus.
Em um encontro da Ressurreição, Jesus louva Maria: "Não desanime agora. Você não perguntou uma vez como será o Reino?" Então ele sorri para ela e ambos riem alegremente.
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O filme de Maria Madalena tem tudo a ver sobre relacionamentos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU