28 Junho 2019
"Rezemos todos por todas as pessoas mais afetadas pela discriminação institucional e pelos atos de fanatismo escondidos por trás de uma fachada de liberdade religiosa", escreve Jocelyn A. Sideco, pregadora de retiros e diretora espiritual especializada em missão, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 27-06-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Escola Preparatória Jesuíta Brebeuf, nos Estados Unidos, fez algo corajoso há alguns dias. Eles discordaram de uma autoridade e reivindicaram sua própria identidade católica. Uma questão de governança surgiu nos últimos dois anos, resultando em um decreto canônico arquidiocesano formal para não se reconhecer mais a Brebeuf como uma escola católica no seu território.
O que eles fizeram? Recusaram-se a demitir um empregado, apesar da evidência de estar em um casamento com uma pessoa do mesmo sexo. Como diz Brett Krutzch, ex- aluno e atual professor da Brebeuf, em um artigo recente [disponível aqui, em inglês], “para uma instituição jesuíta, proteger um professor em um casamento com uma pessoa do mesmo sexo contra um arcebispo em término de mandato é nada menos do que monumental”.
Tendo trabalhado e sido formada em instituições jesuítas por quase 30 anos, minha mente, meu coração e minha imaginação foram influenciados por esse momento na história de alguns seguidores de Jesus. Discordar respeitosamente, continuar no trabalho que lhe foi dado, privilegiar as vidas daqueles que mais necessitam de misericórdia e de cuidado, e fazer tudo isso com humildade e convicção simplesmente dignificam a nossa compreensão do que a Igreja pode ser realmente.
Primado da consciência. Inclusão de Jesus. Centrar-se na dignidade da pessoa humana. Todos esses são impulsos, lembretes, diretrizes e objetivos da prática de qualquer pessoa de fé, especialmente de todos os católicos. Discernimento, exame de consciência e tomada de consciência, contemplação na ação, todos esses são valores da espiritualidade inaciana que colorem a minha vida como um católico fiel.
Eu penso em como sou convidada a acompanhar Jesus. Penso em como Jesus me acompanha. Penso em como preciso “receber com docilidade a Palavra que foi plantada no meu coração” (Tiago 1, 21), assim como as opiniões e as perspectivas dos outros em quem confio ao meu redor. Penso nas maneiras pelas quais Jesus chamou os líderes da Igreja a fim de ajudá-los a chamar outras pessoas que não se sentiam bem ao seu redor. O que estaria em jogo para Jesus? Penso em como ele entende o amor de Deus por ele e a necessidade da sua devoção inabalável para cultivar relacionamentos com esse Deus cuja misericórdia, perdão e amor encarnam a verdadeira liberdade e paz.
Como Jesus estaria presente agora? Parece tão clichê, mas todos concordamos que ele estaria perto dos mais vulneráveis e necessitados do cuidado terno e amoroso de Deus – a mulher com hemorragia, a mulher pega em adultério, o discípulo que o traiu três vezes, o cego, as crianças que ele colocou na frente dos seus discípulos e as multidões... tantas multidões.
Então, penso na vida dos estudantes enquanto eles testemunham uma discordância respeitosa. O que está em jogo para eles? Suas vidas de fé? Suas relações com Deus e uns com os outros? Penso naqueles cujas vidas, decisões e afirmações de dignidade despertaram melhores formas de amar em nós.
O Evangelho desse domingo nos convida a imaginar como seria caminhar com Jesus. Ele está convencido do desafio de Jerusalém e exige que seus seguidores priorizem a Deus, a providência de Deus e os caminhos misteriosos de Deus. Cada vez que alguém perguntava se eles poderiam cuidar de uma responsabilidade pessoal antes de ir em frente com tudo, Jesus esclareceria a realidade da incerteza desse chamado. Ele resume esse sentimento dizendo: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não serve para o Reino de Deus”.
Isso pode soar duro, mas Jesus foi claro: o reino de Deus requer toda a nossa atenção, todo o nosso ser, toda a nossa devoção. Não devemos nos envolver no sentimentalismo dos relacionamentos perdidos quando encontramos e escolhemos uma relação com Jesus. Não devemos perder de vista a bondade de Deus no nosso meio, que nos dá a coragem de dar o próximo passo na fé. Mesmo se pudéssemos imaginar as terríveis consequências que exigem morte e ressurreição, devemos ser compelidos a passar por isso até o fim.
Esse é o mais verdadeiro chamado à liberdade através de Cristo. E é por isso que sinto muita gratidão, muito amor, muita misericórdia e muita força para dar o próximo passo na fé.
Rezemos todos pelos alunos e ex-alunos impactados pelas recentes decisões envolvendo as políticas identitárias na Arquidiocese de Indianápolis e em outros territórios que vivem a tensão de valorizar tanto suas crenças quanto as pessoas.
Rezemos todos por todas as pessoas mais afetadas pela discriminação institucional e pelos atos de fanatismo escondidos por trás de uma fachada de liberdade religiosa.
Rezemos todos pela liderança dos jesuítas do Meio-Oeste dos Estados Unidos, pela liderança da Arquidiocese de Indianápolis e pela liderança de todas as pessoas de boa vontade.
Rezemos todos por todas as famílias impactadas por esses incidentes de recebimento. Eu rezo pelo fim da violência e pelo fim de tudo que nos impede de manter relacionamentos corretos uns com os outros.
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Escola de Indianápolis inspira orgulho católico e jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU