12 Junho 2019
Com o típico reflexo dos regimes autoritários, e um roteiro testado desde os tempos das "revoluções laranjas", o complô americano é uma teoria cômoda também para explicar o protesto de Hong Kong. A mídia do governo de Pequim alude à mão de Washington por trás da mobilização de massa. Seria bom: se fosse verdade. Ao contrário, o que está acontecendo em Hong Kong nestes dias é dramático, também devido ao silêncio de Donald Trump e de todo o Ocidente.
O comentário é de Federico Rampini, jornalista italiano, publicado por La Repubblica, 11-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nos últimos vinte anos, o status de Hong Kong era considerado como um teste para a China. O respeito pelos "privilégios" (leia-se: liberdade de expressão, estado de direito, tribunais independentes, habeas corpus) acordados em 1997 no momento da passagem da ilha do Reino Unido para a China, sempre foi observado com vigilância por Washington, Londres, e pelas outras capitais europeias. Da capacidade de Pequim de manter aquelas promessas e de seguir a máxima "uma nação, dois sistemas" (ou seja, tolerar um sistema político e jurídico diferente em Hong Kong, embora o território tenha voltado a fazer parte da Grande China) era medida a confiabilidade dos dirigentes comunistas como interlocutores de uma ordem mundial baseada em regras.
De fato, Hong Kong permaneceu por muito tempo - em parte ainda é - uma feliz exceção, um oásis onde jornais e cidadãos podem criticar seu próprio governo local ou nacional sem medo de acabar na cadeia. Por trás do respeito pelos direitos, havia um cálculo: era conveniente à China manter o status especial de Hong Kong também por seu papel como centro financeiro global, sede de muitos bancos estrangeiros e multinacionais.
Em suma, uma plataforma de business com efeitos positivos sobre a pátria. Com Xi Jinping, a música mudou. Já há alguns anos, os ataques da polícia chinesa contra dissidentes de Hong Kong tornaram-se mais frequentes. Alguns foram literalmente sequestrados, desapareceram por um longo tempo, apenas para reaparecer nas mãos das autoridades chinesas e até mesmo pronunciar "autodenúncias" no estilo stalinista. A reforma da lei sobre a extradição tornaria a tarefa ainda mais fácil para a polícia chinesa: não precisaria mais organizar sequestros, os dissidentes seriam entregues pelas autoridades de Hong Kong. Este é o medo que desencadeou os protestos nas ruas.
Trump está se preparando para encontrar Xi Jinping no G20 de Osaka em um clima de tensão, mas reduziu toda a relação bilateral à dimensão econômica. Enquanto o verdadeiro ponto fraco da China, particularmente naquela área do mundo ainda lotada de democracias liberais aliadas dos EUA (de Taiwan ao Japão e à Coréia do Sul), é justamente a natureza de seu regime.
Ter cancelado a questão dos direitos humanos e das liberdades da esfera de nossas "políticas chinesas" enfraquece todo o Ocidente. Incluindo aquela Europa que parece interessada apenas nas Novas Rotas da Seda, sempre medindo as relações com a China numa perspectiva mercantilista.
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A responsabilidade do Ocidente pelos direitos humanos deixa as rédeas soltas ao Dragão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU