04 Abril 2019
Peter Tabichi: “Cristo é o melhor modelo de professor”.
A entrevista é de Violaine des Courières, publicada por La Vie, 03-04-2019. A tradução é de André Langer.
Você é agora conhecido como o “melhor professor do mundo”. Você foi formado pelos seus irmãos franciscanos. O que eles lhe ensinaram?
Depois de me formar em matemática e física em 2006, eu entrei para os franciscanos. Lá, minha formação durou três anos. O frei franciscano que nos ensinou me marcou profundamente. Ele nos explicava que para ter sucesso era preciso desenvolver a criatividade, o espírito de equipe e, acima de tudo, privilegiar a ação e a palavra. Logo após essa formação, fui enviado como professor para Offaka, uma escola franciscana localizada em Adraa, em Uganda. Lá, adquiri competências mais técnicas.
Nesta escola, havia pouquíssimos suportes pedagógicos. Ensinar sem livro didático, sem internet exigiu que eu fosse criativo. Diante de estudantes com capacidades de concentração limitadas, também exigia um excelente senso de pedagogia. Eu também compreendi que para permitir que esses estudantes tivessem sucesso, era preciso ajudá-los a adquirir um espírito de equipe. Esses métodos – específicos da nossa instituição franciscana – tiveram bons resultados acadêmicos. Depois eu fui transferido para uma escola pública mista em Keriko, no oeste do Quênia.
(Fonte: RC Diocese of Argyll)
Quando você chegou na escola de Keriko em 2016, ficou impressionado com a miséria das crianças...
Sim. Eu me deparei com estudantes em grandes dificuldades materiais. Muitos deles são órfãos. Eles não têm o suficiente para comer e às vezes sofrem com a escassez de água, o que explica suas dificuldades de concentração. Paradoxalmente, tudo isso não os impede de demonstrar uma certa alegria de viver.
Você mora em um convento com outros quatro frades franciscanos. Como a sua vocação religiosa influi na sua profissão?
Primeiro, há a força da oração pessoal e comunitária. Cada manhã, quando acordo, peço a Deus que me ajude a me recordar que sem Ele não posso fazer nada. Depois, lendo os Evangelhos, eu me edifico em contato com os ensinamentos de Cristo. Para mim, ele é o melhor modelo de professor. Muitas vezes, procuro imitar sua pedagogia para falar com meus alunos. Depois, a oração comunitária dos ofícios matutino e noturno me ajuda a não cair no desânimo e a manter a energia e o entusiasmo.
Na cerimônia de premiação em Dubai, você agradeceu ao seu pai. O que ele lhe ensinou?
Para mim, ele é tudo desde que a minha mãe morreu quando eu tinha onze anos de idade. Ele é um professor aposentado. Em tenra idade, eu fui tocado por sua humildade, sua simplicidade, a paixão com que ele exerceu seu trabalho, sua força de resistência e seu altruísmo.
A mídia falou sobre seu total comprometimento com seus alunos e que você doa 80% do seu salário para a sua escola. Esses pontos se explicam pelo voto de pobreza feito durante a sua profissão perpétua de franciscano?
De fato, eu fiz meus votos perpétuos em dezembro passado. Mensalmente, eu envio todo o meu salário para a Comissão do Serviço aos Professores do Quênia. Eles então o distribuem entre as diversas escolas do país, e depois me mandam um subsídio mensal para a manutenção dos meus assuntos pessoais (é menos de 20% do meu salário).
Peter é recebido no Quênia após o prêmio (Foto: Ben Ndonga)
Você recebeu quase um milhão de euros. Quais são seus projetos para os próximos meses e anos?
Para mim, a prioridade é, em primeiro lugar, enfrentar o desafio da segurança alimentar e do acesso à água potável para a região! Em seguida, munir a escola de Keriko de instalações permanentes, como um laboratório científico e uma sala de informática. Finalmente, gostaria que este dinheiro ajudasse outras escolas quenianas. Eu também planejo promover a educação das meninas. Temos de mostrar ao mundo que existe um grande potencial entre os jovens africanos!
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O “melhor professor do mundo” é queniano... mas também franciscano! Entrevista com Peter Tabichi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU