12 Janeiro 2019
Uma das questões mais persistentes do pontificado de Francisco é se seu posicionamento pró-imigrantes terá resultados tangíveis.
Enquanto os bispos no Ocidente declaram seu apoio aos imigrantes, cada vez mais cidadãos votam em políticos nacionalistas e isolacionistas.
A reportagem é de Claire Giangravè, publicada por Crux, 10-01-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Para a Igreja, a imigração tornou-se uma espécie de tema divisionista, como em qualquer outra faixa da sociedade. Um número assustador de fiéis deixa as missas por causa das homilias pró-imigração, o Twitter está repleto de publicações contra uma igreja que entra em questões que estão além do seu alcance e até padres e freiras murmuram que o Papa está indo "longe demais".
Para saber se este pontificado vai conseguir promover sua visão sobre a imigração, basta avaliar se consegue conquistar o coração do povo, apresentar uma frente unida no clero, ser eficaz na diplomacia global e alcançar resultados tangíveis que beneficiem os imigrantes.
Embora seja muito cedo chegar a conclusões concretas, é possível ter uma noção da capacidade de Francisco de aplicar e sustentar a pressão sobre o que pode ser o legado deste pontificado dando uma olhada rápida no placar do Vaticano nessas áreas.
Um levantamento da situação política na Europa e na América do Norte mostra que Francisco tem uma tarefa árdua para promover o acolhimento de imigrantes em meio à população. Países como a Polônia, a Hungria e a República Tcheca (os três com maioria católica) colocaram políticos populistas e protecionistas no poder, e nos Estados Unidos, as políticas anti-imigração continuam ganhando apoio apesar do clamor dos bispos.
A Itália é uma prova real perfeita para a eficácia do discurso de Francisco. Além de ser o quintal do Vaticano, sua política está sempre entrelaçada com o espírito dos corredores papais e o país testemunhou um aumento consistente da popularidade do governante populista e da coalizão contra a imigração, que bateu de frente com o apelo do pontífice de "acolher, proteger, promover e integrar" os imigrantes.
Matteo Salvini, líder do partido Liga Norte e Ministro do Interior, representa o sentimento anti-imigração na Itália. Os ataques contínuos do clero só aumentaram seu apoio - o que é comprovado pelos números.
Seu partido aparece com 32% das intenções de voto, segundo uma pesquisa recente do Tecné, um instituto de pesquisa e análise italiano. Com Salvini, a Liga Norte fechou as fronteiras e os portos, facilitou a deportação de imigrantes ilegais e aumentou as penalidades para quem entrar no país ilegalmente.
Os italianos aprovaram as políticas, e o apoio ao partido cresceu 15% desde sua eleição, em 4 de março de 2018.
É difícil identificar o apoio a um pontífice entre os membros do clero. São muitos os bispos, padres e freiras que já se declararam a favor das pautas de imigração de Francisco, mas quem é contra geralmente conversa entre si ou de forma anônima.
"Todos os dias, freiras, frades e padres dizem: Continue assim, Matteo, estamos orando por você", disse Salvini no dia 9 de janeiro, durante a campanha das eleições regionais na Itália central. O ministro disse que tem o apoio da "Igreja territorial, a Igreja das paróquias, que vivencia problemas reais na pele, que talvez sejam vistas de longe no Vaticano".
“É possível haver integração com um número limitado de pessoas", acrescentou. "Até mesmo o Catecismo da Igreja Católica diz que acolher o estranho é um dever na medida em que é possível. Acredito que chegamos nessa medida."
Outros membros do clero falam abertamente em oposição aos esforços da Igreja a favor da imigração. O ex-arcebispo de Ferrara, Luigi Negri, disse que os bispos e prefeitos que usam a objeção consciente para agir de forma contrária às leis do país estão desviando o conceito.
"O direito de se opor deve ser defendido quando princípios fundamentais estão em causa", disse Luigi, no domingo. Os "que usam a objeção consciente deliberadamente como estratégia política contra ações legítimas de autoridades de maior ou igual escalão estão abusando do conceito”.
Sem dúvida, o âmbito da mensagem papal sobre imigração que teve mais sucesso foi o diplomático, em que embaixadores papais passaram a promover uma ampla acolhida e integração dos imigrantes.
Apesar da falta de participação de certos países - como a Itália, os Estados Unidos e a Austrália -, o Pacto Global da ONU para a imigração, assinado no Marrocos, no fim do ano passado, representou um marco importante, graças à liderança e à diplomacia da Santa Sé.
Nenhuma instituição promoveu tanto visões progressistas sobre a imigração em nível global quanto a Santa Sé, e apesar de nem todos concordarem, o corpo diplomático do Vaticano definiu os padrões para a promoção de políticas a favor da imigração por meio de declarações e outras formas de ativismo.
No discurso aos embaixadores junto à Santa Sé, no início do ano, Francisco lançou oficialmente a segunda fase de seu posicionamento global pró-imigração, enfatizando a importância do multilateralismo.
Por exemplo, na época das comemorações natalícias, a Europa brigou sobre que país deveria receber dois navios de imigrantes com 49 pessoas. Vários países concordaram em abrir suas fronteiras no dia 9 de janeiro, após um impasse de quase três semanas e um apelo papal.
"Não podemos continuar confiando em soluções desorganizadas", disse Dimitris Avramopoulos, Comissário Europeu para Assuntos Internos. "Precisamos de um grupo consistente de Estados-Membros prontos para mostrar solidariedade por meio da participação."
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O ano novo traz novos desafios para os incentivos do Papa à imigração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU