"A Igreja tutela a humanidade, quem especula não é cristão". Entrevista com Antonio Spadaro

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10 Janeiro 2019

Padre Antonio Spadaro, diretor da Civiltà Cattolica, a revista dos jesuítas, está entre os principais conselheiros de Jorge Mario Bergoglio.

A entrevista é de Carlo Tecce, publicada por il Fatto Quotidiano, 08-01-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista. 

O apelo do Papa Francisco para o desembarque de 49 migrantes não foi atendido, por quê?

(Nota de IHU On-Line: no dia de ontem, 09-01-2018, sob a liderança de Malta, vários países europeus aceitaram acolher os migrantes que estavam à deriva no Mar Mediterrâneo desde antes do Natal de 2018. Nas 'tuitadas' do dia de hoje e em 'breves do facebook", pode ser visualizado o vídeo e a explosão de alegria dos migrantes quando do anúncio de que o desembarque foi autorizado na Ilha de Malta)

Receber um resultado político imediato não está entre as competências do Pontífice. O Papa não faz política, ele prega o Evangelho e tenta inspirar os políticos. Ele deu voz a um sentimento de humanidade, agora cabe agir aos que detêm cargos institucionais.

Francisco falou à Europa, não à Itália: uma escolha oportuna para não provocar um confronto direto?

Não, é a sua coerência. A Igreja não tem intenção de interferir nos assuntos de outros países, mas apela para um comportamento multilateral para a gestão de um "problema político global", que foi a forma como definiu Francisco a migração dois anos atrás e a situação não parece ser se alterado. O Papa pensa na Europa e também na Colômbia, no México e assim por diante.

O multilateralismo, no entanto, toma forma em um fechamento hermético dos estados para o fenômeno mundial da migração com acentos semelhantes justamente da América até a Europa.

É verdade, porque a migração gerou uma polarização muito forte, uma abordagem nacionalista, populista em sentido negativo, para usar as últimas expressões de Francisco na audiência com o corpo diplomático do Vaticano. Francisco se dirigiu aos líderes europeus para ajudar 49 "pessoas" no mar.

Pessoas, eu enfatizo. As pessoas sempre vêm antes de qualquer outra categoria. E não apenas mulheres e crianças como se estivéssemos em um cenário de guerra. E os homens? E as famílias? As partidas das costas do Mediterrâneo, isto é, da porta em frente às nossas casas, foram reduzidas e não podemos especular sobre a linguagem do ódio e do medo. Por uma simples razão: quem faz isso não é um cristão.

Os políticos reivindicam a investidura popular e o interesse nacional.

E a Igreja respeita a democracia, não há dúvida. Quem se irrita com o Papa porque defende os pobres, os últimos, os descartados pela sociedade, se irrita com o Evangelho.

Em um artigo publicado na Civiltà Cattolica, o senhor identificou sete palavras para 2019. A primeira é "medo". Eis suas palavras: "Instilar o medo do caos se tornou uma estratégia para o sucesso político".

Parece-me que pode descrever plenamente a atitude política em relação aos migrantes. Eu entendo que não é fácil erradicar uma convicção - o medo pelo desconhecido - incutida ao longo do tempo aproveitando uma crise econômica arrastada e para muitos insustentável, mas a Igreja tem o dever de tutelar a humanidade que também faz parte das tradições italiana, como lembrou o presidente Sergio Mattarella no discurso de final do ano.

Essas sete palavras também são um manifesto político.

A Igreja não monta partidos. No máximo, os católicos - como diz Francisco - têm o dever de se engajar na política e na vida pública dialogando com todos os partidos de maneira transversal e fomentando o debate. Inclusive com decisões significativas e proféticas.

O Quirinale (sede do governo italiano) parece o interlocutor italiano privilegiado do Vaticano e de Francisco.

Sim, por muitas razões, mas a Igreja está aberta a todos, mesmo nos momentos de divergência, como no caso dos migrantes.

Medo e depois ordem, migração, povo, democracia, participação, trabalho. Também a Igreja precisa se aproximar das pessoas.

A Igreja mundial e a Igreja italiana sempre ouviram as pessoas, a base e a região através das paróquias, dos sacerdotes e das associações, mas agora se exige um esforço maior para estimular um diálogo – em formato sinodal, caminhando juntos - dentro e fora da comunidade católica para responder aos grandes temas do mundo. Devemos deixar os gabinetes e as reflexões autorreferenciais, aquele senso de elite que afasta o povo e nos embrenhar na realidade com a bússola do Evangelho.

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