30 Novembro 2018
O volume recolhe substancialmente as palestras apresentadas na conferência internacional realizada na Pontifícia Universidade Lateranense, em 18 e 19 de outubro de 2017, na conclusão de um trabalho de três anos de pesquisa inter-religiosa e inter-faculdades (Roma-Lateranense, Tübingen, Heidelberg) entre estudiosos católicos, evangélicos, reformados e valdenses. Ciola, professor de Cristologia na Lateranense, coordenou o trabalho e escreveu a introdução (pp. 5-10).
O artigo é de Roberto Mela, publicado por Settimana News, 28-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Lutero foi um grande pensador precursor dos tempos "modernos", porque foi o primeiro a colocar no centro a pessoa e sua busca espiritual de salvação e não a reflexão sobre os sistemas teológicos completos como aquele da Escolástica. "Como posso ter um Deus misericordioso?" perguntava-se na famosa Turmerlebnis de Erfurt. Ele encontrou uma resposta na cruz de Cristo, que revela a graça do Pai. Sua experiência espiritual se tornou a base de sua pesquisa teológica, centrada em uma espiritualidade focada em Cristo. Ao longo dos anos que celebraram o aniversário da Reforma (1507) foi colocada em evidência. Por último, mas não menos importante, temos que lembrar a presença e a homilia do Papa Francisco durante a oração ecumênica na catedral de Lund (31/10/16).
Três são os núcleos da teologia de Lutero que são estudados: a Theologia crucis; o tema da justificação e o adágio "simul iustus et peccator", entendida como lógica do paradoxo; finalmente, espiritualidade subjacente ao agir eclesial, resumível como a bonhöfferiana "graça a caro preço".
Os temas teológicos são tratados tanto por um estudioso católico como por um reformado, enquanto os aprofundamentos históricos e espirituais são redigidos por autores de diferentes confissões religiosas.
Antonio Pitta (professor de exegese do NT, Lateranense) estuda o intercâmbio da graça na exegese do Novo Testamento de Lutero (p. 134-26). Da graça ele analisa a hermenêutica, o paradoxo, a relacionalidade e o cristocentrismo.
Stefano Cavalotto (história do cristianismo, Tor Vergata) centra-se no tema "Nas raízes da Reforma. O Deus absconditus e a Theologia crucis no jovem Lutero "(p. 27-68), analisando as primeiras lições de Lutero sobre a Bíblia (1513-1518), a questão das Indulgências (1517), e a Disputa de Heidelberg (1518). O estudo do jovem Lutero permite entrever as raízes de seu pensamento, sem ser influenciado pelo que aconteceu nos anos sucessivos.
Hubertus Blaumeiser (sacerdote católico professor de teologia sistemática no Istituto Universitario Sophia de Incisa Valdarno) aborda a "teologia do paradoxo e antropologia da Páscoa" (pp. 51-68), considerando a Theologia crucis como uma teologia do paradoxo, antropologia pascoal e cristologia inclusiva.
Volker Leppin (Teologia Sistemática, Tübingen) estuda a questão "A Theologia crucis de Lutero como desenvolvimento da exegese medieval" (p. 69-86), investigando a mística da paixão dos eremitas agostinianos e a leitura estaurológica de Lutero dedicada à mística renana (o dominicano, Johann Tauler, a grande estima pela Theologia deutsch), com foco na passividade do homem na experiência da paixão. São estudados os tratados teológicos de Lutero sobre a paixão até a primavera de 1518, a disputa de Heidelberg e a Theologia crucis como piedade da paixão, com referência ao Sermão da contemplação do sofrimento de Cristo (abril 1519).
Romano Pitta (emérito biblista da Lateranense) investiga sobre "Simul iustus et peccator. Avaliação bíblica do lema de Lutero comentando sobre Rm 4,7" (p. 87-110). O estudioso recorda como os últimos comentários sobre a Epístola aos Romanos compostos por autores reformados não citem o pensamento de Lutero. Segundo Penna a exegese de Lutero é equivocada e insatisfatória e deve ser mantido o verdadeiro pensamento de Paulo segundo a qual "a justificação pela fé comporta concretamente a remissão ou anulação (não simples cobertura ou ocultação) dos pecados. E se Lutero for esquecido, o importante é que seja entendido o pensamento genuíno do Apóstolo" (p. 110).
Lothar Vogels (história do cristianismo, Faculdade Valdense de Teologia, em Roma) aborda no nível histórico o tema do simul: "O simul iustus et peccator no pensamento teológico de Martin Lutero. Uma leitura histórica", p. 111-132. Ele analisa os primeiros cursos de aulas de Lutero, seu comentário à Carta aos Gálatas (1531-1535) e as disputas contra antinomistas.
O mesmo tema é estudado no nível teológico por Ulrich H.J. Körtner (professor e reitor do Instituto de Teologia Sistemática na Faculdade Evangélico-Teológica da Universidade de Viena). Em sua contribuição "O homem como um pecador justificado. O simul iustus et peccator de um ponto de vista sistemático-teológico", p. 133-156), ele se concentra sobre as linhas questionáveis da antropologia da Reforma, sobre a questão do justo e simultaneamente pecador e, finalmente, sobre o tema do velho e novo homem.
Também do ponto de vista teológico, a perspectiva católica sobre a questão é representada por Angelo Maffeis (professor de história da teologia, Faculdade teológica da Itália setentrional):"Simul iustus et peccator: as razões da crítica católica e as possibilidades de uma aceitação positiva" p. 157-192). Analisado o debate do século XVI, ele analisa a posição de J.A. Mohler e o princípio confessional, a teologia católica do século XX e do diálogo ecumênico.
Com base no relatório final do Ökumensicher Arbeitskreis evangelischer und katholischer Theologen "Gerecht und Sünder gleich? Ablschliessender Bericht", publicado em 2001 e assumindo o modelo de tensão entre duas visões diferentes, mas não reciprocamente exclusivas, de acordo com Maffeis é possível ver no simul uma afirmação não contraditória. Ele conclui sua apresentação citando o documento acima: "A tensão inerente à caracterização do cristão no estado de peregrinação terrena (simul iustus et peccator) corresponde de certa forma à relação fundamental entre a promessa de salvação eterna no cumprimento escatológico e o aviso (que ocorre com a vantagem de alcançar essa meta) sobre a possibilidade de um fracasso definitivo" (p. 192).
D. Marguerat (emérito de exegese do Novo Testamento da Universidade de Lausanne e pastor na Igreja Evangélica Reformada do cantão de Vaud) aborda o tema do "Sacerdócio universal como princípio eclesiológico protestante. Lutero e leitura da Primeira Epístola de Pedro 2,4-10", p. 195-216.
Giancarlo Pani (jesuíta, escritor de La Civilta Cattolica, emérito de história do cristianismo, Universidade La Sapienza e Pontifícia Universidade Gregoriana) apresenta "Lutero e a reforma da Igreja", p. 217-240): Concílio de Latrão V, a crítica dos abusos na Igreja, o escândalo das indulgências, Wittenberg 31 de outubro de 1517, as teses sobre as indulgências, Lutero e o debate teológico, a publicação das teses ("não houve nenhuma afixação pública teses em 31 de outubro de 1517 - escreve o card. Kasper, as 95 teses ‘são um documento de reforma, mas não da reforma protestante'”, p. 228). Pani ainda menciona a reforma da Igreja, Cristo centro da fé e da Igreja, a vida do cristão, o sacerdócio dos fiéis, etc.
Ele conclui assim sua contribuição: "Em 1528 Lutero está ciente de ter realizado um caminho em uma direção definida: ‘Eu penso ter implementado uma reforma. [...] Em primeiro lugar, eu empurrei os papistas aos livros, e em particular, para as Sagradas Escrituras, e expulsei o pagão Aristóteles e os teólogos ligados aos valores e livros de sentenças, a tal ponto que eles não reinam e não mais ensinam nas cátedras e nas escolas. [...] Eu enfraqueci o mercado das indulgências. [...] De nossa parte, pela graça de Deus, pude implementar projetos tais que, Deus seja louvado, até mesmo um menino e uma menina sabem mais sobre a doutrina cristã do que sabiam antigamente as altas escolas e os doutores" (p. 239).
Fulvio Ferrario (professor de Teologia sistemática e disciplinas afins, Faculdade Valdense de Teologia em Roma) debate sobre "Teologia e prática pastoral. A perspectiva de Lutero" (p. 241-258.), abordando quatro temas: o theologus crucis, cognitio Dei et hominis, oratio, tentatio, meditatio, Lutero e o debate atual sobre o estado da teologia.
Ludbomir Zak (Professor de Introdução à Teologia e História da Teologia, Lateranense) estuda, por fim, "A Igreja como um instrumento do Espírito Santo na teologia de Martin Lutero", p. 259-290).
Conclui este volume de grande magnitude teológica e histórica a "Mesa Redonda. A Reforma ontem e hoje". Trata-se de uma entrevista de Mimmo Muolo com Giuseppe Lorizio, professor de Teologia Fundamental na Lateranense, e Paolo Ricca, biblista e professor da Faculdade Valdense de Teologia em Roma (pp. 291-308).
Nicola Ciola (ed). Passione di Dio. Spiritualità e teologia della Riforma a 500 anni dal suo albeggiare, (Paixão de Deus Espiritualidade e Teologia da Reforma 500 anos desde seu alvorecer, tradução livre), Nuovi Saggi Teologici - collana interconfessionale per la promozione della ricerca teologica s.n. EDB, Bologna 2018, pp. 320.
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A Reforma, espiritualidade e teologia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU