27 Novembro 2018
Gentil e cara, aterroriza-me pensar na crueldade que marcou seu rosto. Peço desculpa e perdão, assumindo o peso de uma humanidade que não sabe pedir desculpas a aqueles que, na indiferença predominante, são diariamente ofendidos, pisoteados e marginalizados”. Assim começa a carta que o Papa Francisco dirigiu a Filomena Lamberti, desfigurada pelo marido com ácido sulfúrico em 28 de maio, há seis anos, em Salerno. "Olha, o que vou te dar", disse às 4 da manhã naquele dia Vittorio Giordano, derramando o conteúdo de uma garrafa na esposa que, algumas horas antes, havia anunciado sua intenção de pedir separação, após mais de trinta anos de sofrimento e abuso.
A informação é de Maria Rosa Tomasello, publicada por La Stampa, 26-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Desde aquele amanhecer terrível, "marcada" para sempre por queimaduras graves no rosto e cicatrizes em 40 por cento do corpo, Filomena teve que enfrentar 25 cirurgias reconstrutivas, lutando para recuperar a visão. Um calvário sem fim, enquanto o marido, tendo sido acusado de tentativa de homicídio, fez acordo por apenas 15 meses de reclusão por lesões coporais. Sem nunca pedir perdão.
"Peço desculpas e rezo por você - escreveu o Papa - para que a coragem que lhes devolveu uma singular beleza se torne uma bofetada diante da indiferença". A carta, enviada pela Santa Sé em 11 de junho passado, foi divulgada ontem por Filomena Lamberti, que na época tinha 53 anos, durante a transmissão de TV "À sua imagem" dedicado ao Dia Mundial da não-violência contra as mulheres.
Uma resposta comovida diante da história que a mulher contou no livro "Un’altra vita" (Uma outra vida), escrita em colaboração com as amigas do centro antiviolência "Spaziodonna" de Salerno para afirmar a necessidade do testemunho. "Eu tinha 16 anos quando conheci aquele que acreditava ser o amor da minha vida. Naquela época, o ciúme e as proibições me pareciam normais, pensava que era amor. Na realidade, era apenas o começo da posse", relatou Filomena na última quarta-feira em Montecitorio, por ocasião do lançamento da campanha "Não é normal que seja normal". "Ele me batia pelas razões mais fúteis e fazia isso na presença das crianças. Meus filhos cresceram assistindo à violência”. Em 2012, o último episódio fatal de violência.
"Depois da agressão - ela declarou no passado - as escolhas eram duas, ou ir em frente ou abrir a janela e acabar com tudo. Eu escolhi não desistir e retomar a minha vida". Hoje, às mulheres abusadas, recomenda "antes fugir, depois denunciar". De acordo com o Istat quase 7 milhões de mulheres na Itália sofreram abusos físicos ou sexuais no curso de sua vida. Entre 2000 e 2018 as vítimas de feminicídio foram 3.100: só nos primeiros dez meses deste ano foram 107.
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Papa Francisco escreve à mulher desfigurada com ácido - Instituto Humanitas Unisinos - IHU