Bispos e padres boicotam a encíclica Laudato si’

Foto: ofm.org

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14 Novembro 2018

Laudato si’, a encíclica do papa dedicada ao cuidado da casa comum, ou seja, ao ambiente, aos riscos iminentes decorrentes das mudança climáticas, à busca de novos modelos de desenvolvimento, mesmo sendo a mais citada entre as encíclicas papais, está sendo obstaculizada pela “falta de interesse de muitos bispos e sacerdotes”, por “bloqueios” internos à própria Igreja que limitam a sua difusão.

A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Lettera 43, 13-11-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A denúncia sem precedentes é do cardeal Peter Turkson, de Gana, chefe do dicastério vaticano para o Desenvolvimento Humano Integral, isto é, o “ministério” criado pelo Papa Francisco para promover os vários aspectos da doutrina social da Igreja: das temáticas relacionadas com as migrações às disparidades Norte-Sul, até a questão ecológica.

Afirmações que o cardeal quis tornar públicas na Universidade Gregoriana de Roma, em 8 de novembro passado, por ocasião da cerimônia para a entrega dos primeiros diplomas aos estudantes do Joint Diploma em Ecologia Integral, curso de estudos promovido conjuntamente pelas universidades pontifícias de Roma desde o ano passado.

“Muitas pessoas admiram a rede mundial da Igreja Católica”, disse o cardeal durante o evento, “uma rede que deveria permitir que cada palavra do papa chegasse ao vilarejo mais remoto, a menos que alguém não bloqueie esse fluxo de informações. E é precisamente isso que acontece com a Laudato si’: a falta de interesse por parte de bispos e sacerdotes bloqueia o fluxo de informação e conhecimento dessa encíclica”.

“Mesmo nos Estados Unidos”, acrescentou, “fizemos iniciativas de apresentação da encíclica, e também lá alguns nos disseram: ‘Mas por que os nossos sacerdotes não falam sobre ela?’. Esses são precisamente os bloqueios que impedem a difusão do texto.”

Colegialidade

Mas Turkson foi além, ao abordar a questão da colegialidade, isto é, a capacidade dos bispos, incluindo o de Roma, de compartilhar as escolhas e o magistério, e, portanto, de caminhar juntos.

“Nessa encíclica”, disse o cardeal, “o papa cita muitas Conferências Episcopais, não apenas os seus antecessores (como geralmente ocorre em documentos semelhantes); recentemente em Buenos Aires, com os bispos, contamos nada menos do que 13 citações tiradas da elaboração de vários episcopados, e se o papa quis escrever essa encíclica com as Conferências Episcopais nós pensamos que cabe, depois, às Conferências Episcopais difundi-la com o papa.”

“Se o papa a escreveu com eles”, disse Turkson, “com a publicação chega o momento em que os bispos devem tomar a encíclica e difundi-la”. Um golpe duro, especialmente à luz do fato de que o texto do papa tornou-se uma referência no debate mundial sobre as questões do clima e da transformação ambiental, para muito além da esfera eclesial.

Mobilização do mundo católico

Por outro lado, o mundo católico também se mobilizou – para além das resistências institucionais – através da campanha mundial promovida pelo Global Catholic Climate Movement para o desinvestimento em combustíveis fósseis, que está atraindo cada vez mais apoios: de dioceses individuais – na Itália, por exemplo, Palermo, Vercelli, Salerno –, de grandes órgãos eclesiais como a Caritas Internationalis, de congregações missionárias, associações e movimentos individuais; mas também dos bispos irlandeses e de órgãos da Igreja indiana que se posicionaram após as dramáticas inundações do último verão no Estado de Kerala.

Por outro lado, até mesmo as grandes empresas petrolíferas, já projetadas para um futuro sem o “ouro negro”, foram ouvir o que diziam no Vaticano a respeito da transição energética. Em junho passado, as cúpulas da ExxonMobil, ENI, British Petroleum, Royal Dutch Shell, Equinor e Pemex, além do Blackrock, o maior fundo de investimentos do mundo, se reuniram para discutir, na Casina Pio IV, dentro da cidadela do papa, sobre “Transição energética e cuidado da nossa casa comum”. Esse encontro com os “verdadeiros” poderosos da Terra foi organizado pela Universidade de Notre Dame, renomada instituição católica dos Estados Unidos (cujo chief investment officer, Scott Malpass, é membro do conselho do IOR), e também, é desnecessário dizer, pelo dicastério vaticano para o Desenvolvimento Humano Integral.

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