31 Outubro 2018
Que ótimo governo se anuncia: caguetagem de professores, ministros como Alberto Fraga e Alexandre Frota, extinção do inútil ministério da Cultura, "fusão" do meio ambiente com o agronegócio. Com um líder tão visionário, prevejo um futuro glorioso para o país!
Semana passada a Livraria Cultura pediu recuperação judicial.
Na segunda foi a Saraiva que fechou 20 lojas.
Ontem foi a Companhia das Letras (maior editora brasileira de livros não didáticos) a ter o seu controle vendido para a alemã Penguin Random House.
A família Schwarcz permanece com 30% das ações e os Moreira Salles se retiraram do negócio.
Tá feia a coisa...
Campanha:
"Não Grave a aula do professor, grave o abandono da escola pública e mande para um deputado!"
Isso é cuidar do Brasil!!!
Isso é preocupação com a Educação.
COPIE E COLE!
A expansão agrícola é a principal responsável por perda de habitats e redução da biodiversidade no Brasil. Agropecuária consome 72% da água bruta e responde por 73% das emissões em CO2-equivalente em nosso país (o grosso desmatamento, seguido por produção de CH4 pelo gado). É a esse setor destrutivo, predatório, herdeiro do genocídio indígena, da escravatura, das grilagens de terra, que estarão submetidos os já debilitados órgãos ambientais do Brasil, como o IBAMA e o ICMBio. Bolsonaro já disse a que veio: política de terra arrasada, irresponsabilidade ao extremo, desprezo pela vida e pela ciência.
(Importante dizer que são dados do quase finado MMA, da Agência Nacional de Águas - ANA - e do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa - SEEG)
Vale a pena analisar a elevação desproporcional da escolha no voto nulo, que subiu 60%, destoando das curvas da abstenção e dos votos em branco. Uma primeira abordagem seria atribuí-lo ao voto de protesto, numa eleição da maior rejeição que afunilou entre os dois piores. Mas há nuances.
Este foi o pleito do pânico moral. Uma candidatura insuflou o pânico vermelho, juntando PT, Cuba, Venezuela, URSS e o nazismo no mesmo saco de experimentos totalitários, amorais e estatólatras. A outra, o pânico do fascismo, juntando a ditadura brasileira, a Itália de Mussolini e o nazismo, para atribuir a Bolsonaro a soma de todos os medos, uma frequência de ressonância das violências contra as minorias. Acuados pela ameaça do Mal maior, bastante gente foi compelida a cerrar fileiras com as redes mais próximas, com o mais familiar, compartilhando uma alegria gregária em busca da sensação de segurança.
Quem foi no nulo, me parece, manteve a cabeça fria e não se deixou arrastar pela aceleração de medos e esperanças. Talvez, não tenha sido um voto tão neutro assim, mas uma escolha embasbacada ante um desfile frenético de absurdos, um gesto catatônico diante do intragável que se configurou dos dois lados dessa equação perde-perde a que fomos levados no segundo turno. Um "não aguento mais" da maior sutileza: não dou conta, não consigo dar conta, petrifico-me como resistência.
Obviamente eu entendo que não dá para fazer complexas análises do futuro governo Bolsonaro, até porque ele nem começou. E tampouco dá pra sair por aí organizando resistência sem pauta, no mero espontaneismo.
Mas eu queria entender essa ideia de "luto" que já li várias vezes. Estamos de luto e não podemos tratar de certos assuntos. Precisamos lamber as feridas.
Confesso que não consigo entender. Eu não estou de "luto". Não quero "resguardo". Eu quero estar junto dos meus camaradas tentando pensar o que fazer.
Imagina essa ideia numa guerra. Sujeito perdeu a batalha e fica de luto. Aí para a guerra até que ele se recupere.
O mundo não vai parar para nosso luto. As coisas vão continuar caindo na nossa cabeça. Desculpem se sou duro, mas isso parece coisa dessa geração do mertiolate que não arde.
Pelo que se avizinha, o "olavismo" será a tônica deste governo na Educação e na Cultura.
Ensino do criacionismo.
Expurgo de livros.
Revisão da história (especialmente da ditadura militar).
Criminalização da Lei Rouanet.
Fim das cotas.
Fim da educação sexual.
Não há uma forma única de se entender a catástrofe que nos aconteceu, claro, mas há algumas formas bastante típicas de desentendê-la. A pior delas é a do sujeito que, munido de algum clichê de psicanálise de botequim - que nada tem a ver com a psicanálise séria -, acredita que pode fazer psicologia de massas, estereotipando 57 milhões de brasileiros e adivinhando que eles votaram Bolso porque têm alguma "frustração sexual", algum ressentimento oculto, algum traço de personalidade que o maluco que nunca saiu de sua bolha de esquerda vai agora desvelar.
Não seja essa pessoa, é ridículo. Há mil formas de analisar e o melhor ponto de partida continua sendo o processo político brasileiro dos últimos anos. Comece por aí, de preferência munido de mapas eleitorais. Pseudo-psicologia de massas que atribui a 57 milhões de pessoas maluquices que estão na cabeça do "analista" nunca explicou processo eleitoral nenhum.
Várias pessoas que se afastaram da militância ou que nunca tiveram uma militância (embora tenham uma concepção de vida progressista) estão manifestando desejo de se engajar em alguma coisa que possa fazer o enfrentamento ao governo Bolsonaro.
Isso é bonito demais.
Por outro lado, quem faz militância sabe o quão difícil isso pode ser, em um ambiente de muita disputa e bastante aridez.
Daí que talvez essa seja uma excelente oportunidade de repensar a própria militância, tornando-a mais camarada, mais receptiva e acolhedora, com mais companheirismo e menos disputa.
Uma militância que consiga ser mais "holística", integrando aspectos lúdicos e afetivos.
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