25 Outubro 2018
Capa do filme | Divulgação
"Lembremos o filme de Ingmar Bergman, O ovo da serpente, que mostrou como, nos anos vinte, uma população alemã inconsciente não despertou a tempo para descobrir a terrível ameaça de um nazismo que surgia", alerta Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.
Eis o artigo.
Há sinais de mudança. Muita gente mal informada pode estar revendo seu voto pelo candidato até agora majoritário. Há no ar muitos falsos clichês que têm levado a opções políticas enganadoras. Também somos contra a corrupção e os desgovernos. Porém eles serão ainda maiores se ganhar o candidato autoritário, que se esconde da opinião pública e vai mostrando, alem disso, uma atitude tosca e sua incapacidade para governar.
Acreditemos no bom senso de tantos brasileiros que eram pela liberdade e pela ética, mas que tinham aceito, acriticamente, mensagens simplificadoras e falsas, através de tantas “fake news”. Aos poucos, poderiam ir descobrindo o perigo de um futuro governo que, no polo oposto de suas expectativas, encaminharia, num plano inclinado, para o arbítrio e para a violência.
É preciso fortalecer uma posição firme pela vida e pela liberdade. Aqueles de nós que vivemos o clima radicalizado de 1964, não podemos ocultar um enorme medo pelos riscos de uma ruptura da convivência no seio das famílias, nos ambientes de trabalho e na sociedade em geral. É, aliás, terrível o esquecimento de uma história, ainda recente, de repressão, prisões e torturas. O candidato que mencionamos tem festejado esse momento insano da vida brasileira.
Lembremos o filme de Ingmar Bergman, O ovo da serpente, que mostrou como, nos anos vinte, uma população alemã inconsciente não despertou a tempo para descobrir a terrível ameaça de um nazismo que surgia.
Haverá tempo útil para uma inflexão até domingo 28? Façamos uma aposta que sim. Há toda uma ação boca a boca, paciente, sem rancores e pacífica, abrindo o caminho para um diálogo adulto. Posições apaixonadas nesse sentido não ajudam. Poderíamos, com sinal trocado, estar no mesmo diapasão daqueles que criticamos. Na verdade, todos escondemos dentro de nós, no lado obscuro da consciência, uma vertente de intolerância, a pôr para fora.
Há um processo cuidadoso de abertura pluralista a trabalhar, no encontro dialógico com o diferente. Desenvolvamos uma posição de paz e de fraternidade, superando um ambiente de radicalismos destruidores. Muitos dirão que é uma posição ingênua. Ao contrário, trata-se de um apelo para o que a língua inglesa chama sanity, um clima de convivialidade que parece estarmos perdendo perigosamente. Antes de tudo, ele deveria ser diluidor de paixões irracionais. Faz-se necessário um desarme, não só de meios materiais de destruição, mas também de consciências. Uma chamada política da bala também penetra nas mentes e as deixa doentes. Temos muito que aprender de psicólogos e de psiquiatras. Karen Horney falou, faz muito tempo, da mentalidade neurótica de nosso tempo. E Eric Fromm, do medo da liberdade. Viviam os terríveis anos trinta dos totalitarismos.
A solução é muito simples: numa eleição dual, onde a omissão é fuga e abandono, fica clara a opção por Fernando Haddad.
Há pela frente um trabalho de educação cívica, que vai além de um período eleitoral e que deveria ser, nos próximos anos, um chamado para uma ampla aliança, uma frente democrática em defesa da nação ameaçada. Só assim estaríamos num processo de lenta construção e reconstrução da vida brasileira.
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